A CHAMA DIVINA
Por Vera Linden
Professar é adotar, abraçar uma profissão. Fazer votos de fé, de amor, de fidelidade naquilo que se faz. Nossas professoras e nossos professores iluminaram as nossas vidas, descerraram os nossos horizontes, nos apresentaram ao mundo. Iluminaram o nosso caminho.
A carreira mais importante deste mundo é aquela, que conduz à todas as outras. Jamais esquecerei a doce professora que me alfabetizou, minha querida tia: Edy Martins Bloedow. Em uma modesta escolinha do interior, ela eficientemente, se dividia entre as cinco séries do ensino fundamental. Como conseguia tal milagre ? Nunca entendi e, ainda havia um inspetor escolar, que ao término do ano letivo, vinha nos aplicar o exame final. Os alunos tremiam de medo do tal sujeito carrancudo, mas ela ficava calma e tranquila e, isso nos dava uma grande segurança. Havia pouca reprovação, pois não foram raras as vezes, em que a minha professora-tia levava os alunos mais atrasados para aulas intensivas em sua própria casa. Eu, toda orgulhosa a ajudava com os pequenos, segurando-lhes as mãos, para que aprendessem a usar o lápis. Era sua assistente e a vice-professorinha.
Esse primeiro contato com a escola, tão amoroso, tão maternal, me transformou em uma aluna dedicada, que sempre teve a maior consideração com seus mestres. A escola sempre foi um prazer para mim. Naquela mulher jovem e de aparência frágil, havia tanta energia. Ela nos passava força e coragem. Até hoje, é a minha grande inspiração e desde a mais tenra idade, eu sonhava em ser como ela, em ensinar com doçura e firmeza. Mostrar que aprender não dói. É um deleite do espírito e da mente.
Os anos passaram rápidos e atrozes, como o Minuano nas coxilhas. Meus sonhos com o Magistério foram sendo adiados, mas jamais os esqueci. Estavam sempre em meus devaneios. Tive que seguir outra carreira bem diversa, cujo salário era melhor, mas havia sempre o vácuo, a dorzinha dolorosa da frustração de não ter percorrido o caminho tão desejado. Entretanto, os sonhos, os projetos tão acalentados não envelhecem, não morrem, se forem realmente cultivados com amor. Os filhos nasceram e em casa já aprendiam a amar os livros, a conviver com histórias, com letras, desenhos. De aluna de escola técnica, fui convidada a ser instrutora. A minha vida se iluminou e, me aproximei timidamente de meu sonho dourado. Trinta anos de trabalho e uma merecida aposentadoria.
Um ano sabático ? E porque não? Aproveitei para estudar e ler muito. Será que passaria no vestibular tão falado e difamado por estudantes? Ah! Tremedeira geral e a redação é fundamental. Me dei muito bem, melhor que muita cabeça jovem. A cuca de quase sessenta ainda estava bem e lá estava eu, firme e forte nos bancos acadêmicos. Já se vão três anos, seis semestres e o sonho se realizando. Sem estresse e com muito estudo, madrugadas a dentro. Fiz dois estágios, já estive em frente a uma turma de jovens, cara-a-cara com os alunos. Sempre que estou em sala de aula, lembro daquela afabilidade de minha professora, de seu domínio de classe, de sua maneira de conduzir e orientar os alunos com tanta segurança, com energia, sem rispidez, com generosidade. Suas muitas horas de estudo, de dedicação. Ela dizia que o professor é um eterno estudioso. Ela tinha a chama, esta vocação de ensinar com fé, com devoção. Ela iluminou a minha vida e de tantas outras pessoas.
Senti de novo, esta sensação de “voltar” à minha escola pequenina e aconchegante, ao visitar um colégio próximo a minha casa. Sempre sonhei em estar lá lecionando, convivendo com os estudantes, passando para eles este aconchego, esta segurança. e, acender-lhes a chama da vontade de aprender, de ser, de crescer. A Supervisora Pedagógica – Profª Cláudia é amável, inteligente, comunicativa e muito eficiente em seu trabalho. A diretora, Profª Ana Lúcia - tem um jeito maternal encantador, a outra Supervisora Pedagógica, Profª Cris, é simpática e gentil. A Vice-Diretora que não sei o nome, pois não me foi apresentada ainda, parece gostar de Literatura, uma de minhas grandes paixões. A Escola é bonita, tudo é organizado e limpo. Desde a sua entrada há calor humano, nota-se que há pessoas dedicadas e eficientes dirigindo a “Família Polisinos.” Escolas assim, fazem crescer a nossa esperança de um país melhor e mais justo. Na educação está a grande resposta para o desenvolvimento de uma nação.
São Leopoldo (RS) - 15 de outubro de 2010. |