E a vida, diga lá o que é, meu irmão... As respostas são inúmeras e variadas. A divergência principal sobre a definição da vida ocorre entre os que acreditam num ser superior que tudo criou e os que acham que tudo é matéria em transformação, e a vida é o resultado dessas transformações. São Jerônimo estava no primeiro grupo e escreveu para Eustáquio, em 384: "Para os mortais, esta vida é um estágio: lutamos aqui para sermos coroados alhures". Provavelmente, referia-se apenas à vida humana, já que é difícil pensar que os extensos reinos vegetal e animal (com a exceção dos humanos, neste último) esperam ou atuam pensando em ser "coroados alhures".
Uma forma interessante de abordar a questão foi a dos cientistas que resolveram verificar se existe vida em Marte. Como fazer? Não iriam encontrar o amor, o sorriso de uma criança, o nascer de uma flor (ops!, rimou) ou um sinal de esperança — ops!, rimou de novo, é melhor parar por aqui, embora a esperança seja a última a morrer...
Bruce Murray, do Instituto de Tecnologia da Califórnia e um dos fundadores, com Carl Sagan, da Sociedade Planetária, foi um dos elaboradores da missão a Marte da Nasa denominada Viking, em 1976. Para essa missão, a forma de detectar vida era encontrar "provas de que algo está se replicando e crescendo. Havia três experiências para buscar algo que estivesse crescendo. Duas delas usavam diferentes caldos, oferecendo algo que os supostos insetos marcianos gostassem de comer. Depois se mediam as mudanças químicas resultantes de atividade metalógica para provar o crescimento — caso houvesse algum. A terceira experiência media a absorção de dióxido de carbono radiativamente acrescido em uma experiência quase seca".
É verdade que os critérios não são nada românticos, mas há romantismo na vida de um vírus? de uma ameba? de um inseto? Até hoje não foi encontrada nenhuma prova de existência de extraterrestres vivos. Mas as experiências e buscas continuam e se expandem para as condições necessárias à existência da vida — e não só da ocorrência de seres vivos.
Há cerca de um ano, os astrônomos Lewis Snyder (Universidade de Illinois, EUA) e Yi-Jehng Kuan (Universidade Nacional de Taiwan) anunciaram que detectaram aminoácidos no espaço — são as moléculas fundamentais para a existência de seres vivos, como os que existem na Terra. Outros 130 tipos de moléculas orgânicas já foram encontrados no universo, entre eles açúcares e etanol. Mas os aminoácidos são as moléculas que formam proteínas nos organismos vivos terrestres. Os cientistas encontraram emissões vindas de nuvens moleculares, bolhas de gás e grãos de poeira.
A busca da vida fora da Terra continua. Assim como a luta para manter e desenvolver a vida no nosso planeta. A nossa, dos humanos, inclusive, levando em conta que o ser humano é historicamente determinado; que se desenvolveu em determinadas condições, num determinado complexo social ou conjunto de relações sociais — que nos possibilitaram, até mesmo, pensar sobre a vida e buscá-la (ou até inventá-la) além deste vale de lágrimas.
Métodos de investigação e crenças à parte, poetas, seresteiros, namorados e cientistas concordam com a resposta das crianças, cantada pelo Gonzaguinha: a vida "é bonita, é bonita e é bonita"...
