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cronicas-->Kátia Abreu: vilã ou mocinha ??? -- 19/08/2010 - 15:53 (Giovanni Salera Júnior) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
KÁTIA ABREU: VILÃ OU MOCINHA ???

Hoje muito se fala na conservação ambiental e recorrentemente algumas autoridades acabam sendo taxadas como inimigas da natureza. E, pelo que tenho visto, entre os servidores públicos que atuam na esfera ambiental é praticamente impossível encontrar alguém que admita publicamente alguma coisa de positivo no trabalho que a Senadora Kátia Abreu tem desenvolvido ao longo dos anos. O que se vê generalizadamente entre os ambientalistas é uma espécie de rejeição extrema a tudo que se diz respeito ao que ela faz, como se tudo que ela fizesse ou representasse fosse unicamente carregado de valores negativos.
Pensando nessas coisas, resolvi tentar ocupar uma posição imparcial, deixando a paixão ecológica de lado, para analisar criticamente o trabalho dela.
Confesso que não é nada fácil deixar de lado os preconceitos e cismas que distanciam os ambientalistas dos agropecuaristas para ver claramente as opiniões e fatos, tentando assim emitir uma avaliação realista dessa questão.
Nos últimos anos a Senadora Kátia Abreu tornou-se muito conhecida nacionalmente, sendo até mesmo recentemente considerada como uma das 100 pessoas mais influentes do país. Ela construiu sua carreira pública no estado do Tocantins e alcançou destaque no cenário nacional pela sua forte atuação no Congresso brasileiro e, também, como representante da Confederação Nacional dos Agricultores (CNA).
Vale lembrar que o Tocantins é o estado caçula da Federação, e que, além de possuir uma população relativamente pequena, se localiza na região Norte, distante dos estados das regiões Sul e Sudeste - tradicionais norteadores dos valores culturais, da economia e da política nacional.
Até o surgimento da Senadora Kátia Abreu, nenhuma mulher da região Norte e, especialmente, nenhum tocantinense (quer seja homem ou mulher), havia marcado tanta presença em nível nacional. E, certamente, hoje ela pode ser considerada a personalidade tocantinense mais conhecida em todo país.
Abrindo um parêntesis, posso dizer que a Dona Raimunda Gomes da Silva, líder das quebradeiras de coco babaçu, é outra personagem tocantinense que tem tido muita projeção fora de sua terra.
Curiosamente, a Senadora se destacou como liderança política oriunda da Amazónia Legal, o que é pouco comum, e como se isso não bastasse quebrou mais um tabu nas relações de gênero ao assumir a maior representação nacional dos produtores rurais.
Ter crescido em segmentos predominantemente masculinos são aspectos que marcam sua trajetória e que, invariavelmente, fortalecem a imagem de ser ela uma pessoa de fibra, coragem e muita ousadia, entre outros tantos atributos.
Posso dizer com certeza que poucos políticos nortistas dominam tanto a oratória como a Senadora Kátia Abreu, e que além de falar muito bem tem usado sabiamente seu espaço na imprensa para publicar inúmeros textos levantando o debate sobre o dia-a-dia do homem do campo.
Pouca gente para pra pensar, mas nós, brasileiros, valorizamos excessivamente a cidade, especialmente as capitais, como os locais para se viver. Isso pode ser percebido claramente nos números que mostram a migração do campo para as cidades ao longo das últimas décadas.
Nos últimos tempos, à medida que a população se concentrou nas metrópoles, foi-se formando uma imagem negativa do interior, do campo e especialmente das regiões mais distantes como a Norte e a Nordeste.
Atualmente, os brasileiros crescem em apartamentos apertados, correndo de um lado pro outro, vivendo estressadamente, quase sempre distantes dos ambientes naturais. A zona rural é vista como algo distante e são poucos os que lembram que é do campo que saem os alimentos que abastecem nossa mesa diariamente.
A maioria dos brasileiros desconhece o dia-a-dia do homem do campo. Praticamente ninguém tem idéia das dificuldades que eles enfrentam para colocar o Brasil no patamar de um dos maiores produtores de alimentos do mundo.
Não podemos ter uma visão equivocada sobre os agropecuaristas. Não podemos taxar o homem do campo de inimigo da natureza, pois os agricultores e pecuaristas, nem nenhum outro segmento pode sofrer preconceituosamente pelos problemas ambientais de nosso país.
Hoje, é possível ver que na maioria das propriedades rurais há uma preocupação com a produção sustentável. Atualmente os produtores sabem que não há produção sem água ou em solos degradados. Eles sabem que nada cresce sem o equilíbrio da biodiversidade, tão importante para o controle de pragas e doenças.
É certo que temos muitas questões que precisam ser melhoradas no campo e, também, nas cidades, e certamente que não conseguiremos resolver tais problemas com dissensões e desunião.
Diferentemente do que ocorre em muitos países europeus (por exemplo, na Alemanha e França), o brasileiro valoriza com exagero a vida nas grandes cidades em detrimento de outros lugares. Entretanto, destaco que essa opinião tem mudado um pouco em locais onde a violência e o caos urbano servem de estímulo para busca por cidades menores e com melhores condições para se viver.
Poucas pessoas sabem que a população da Amazónia Legal gira em torno de 25 milhões de pessoas, e que aproximadamente 70% desse total vive em cidades. Essa imagem de que nos estados do Norte do país só existem índios e matas; que as cobras, onças e jacarés estão por todo lado trata-se de uma idéia totalmente distorcida que interfere nas políticas públicas, invariavelmente pensadas por pessoas que desconhecem a realidade local.
Pode parecer um absurdo para muita gente, mas a totalidade da população nortista é favorável ao asfaltamento das rodovias, deseja ter energia elétrica de qualidade, almeja ver a inclusão digital chegar a sua comunidade, quer ter acesso ao celular e a todos os demais benefícios que estão mais acessíveis às populações do Sul e Sudeste do Brasil.
Outra queixa recorrente entre as pessoas que vivem na Amazónia é que essa parte do país deve ser pensada, planejada e usada não para servir unicamente aos interesses das pessoas que vivem nas cidades do Sul e Sudeste, mas ao invés disso deve ser vista com os olhos de quem vive aqui.
Infelizmente o que se nota é que desde o início da história brasileira, a Amazónia continua sendo percebida como um baú do tesouro, um reservatório de recursos naturais, como algo a ser preservado e guardado para bem da nação ou, até mesmo, do planeta. Isso tudo pode parecer muito bonito e romàntico, mas em muitos casos dificulta a vida das pessoas que vivem aqui e querem ver as políticas públicas chegarem a região.
São essas e outras questões que têm sido apresentadas pela Senadora Kátia Abreu e que tem tido grande repercussão.
Penso que mesmo que alguém não concorde com o posicionamento ideológico que tem sido apresentado pela parlamentar, não é possível taxar cegamente como ruim todo o trabalho que ela tem feito em levantar o debate mostrando que o homem do campo e os agricultores precisam ser melhor valorizados.


Ilha de Marajó - PA, Julho de 2010.

Giovanni Salera Júnior é Mestre em Ciências do Ambiente e Especialista em Direito Ambiental.
E-mail: salerajunior@yahoo.com.br
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