Hoje
Ônibus de manhã cedo.
Lembrei do boto rosa
dos livros pequenos
que eu lia quando
eu não queria saber de nada.
As facas não queriam amolar,
o medo do câncer era vago
e os desenhos que eu via
eram bonitos, sem maldade.
Mãe não se preocupava com meu jeito.
O quadro negro não ensinava a competir.
Eu não tinha ar-condicionado,
e o ventilador me dava asma.
Hoje não me arrependo de ter sido
o que eu fui. Não tenho saudades,
não quero voltar atrás.
Hoje meus sonhos brilham
com a pureza da feiúra, do sub-mundo,
dos defeitos, das coisas pela metade.
Nunca fui sério.
Nunca fiz tudo por completo.
Hoje, ônibus de manhã cedo.
Eu me lembrei que não passo mais
por debaixo da roleta! |