Usina de Letras
Usina de Letras
78 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62260 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10450)

Cronicas (22538)

Discursos (3239)

Ensaios - (10376)

Erótico (13571)

Frases (50652)

Humor (20037)

Infantil (5449)

Infanto Juvenil (4775)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140814)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6202)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
cronicas-->FALTA DE ASSUNTO -- 14/08/2010 - 20:01 (FERNANDO PELLISOLI) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Estou com falta de assunto. Não tenho nenhuma motivação para redigir uma crónica. No entanto, eu quero escrever um livro de cronicas com 57 assuntos diferenciados. Já consegui escrever 10 cronicas. E só Deus sabe o quanto me foi difícil encontrar inspiração, na tentativa de ser cronista. E desmembrar este texto está sendo brutalmente inconcebível, pois a falta de assunto parece ser irreversível neste momento. Mas a necessidade que eu tenho de escrever um livro de cronicas é maior que o meu desànimo literário.
Eu sei que sou apenas um poeta. E que já é muito ser apenas um poeta. Mas a minha vaidade literária me diz que eu deva ir mais longe: escrever cronicas, contos, livros espiritistas, peças teatrais, etc. Nada impede que um poeta seja, também, um escritor. Mas já estou percebendo que ser escritor é mais difícil do que me parece. É preciso ter muito fólego, muita dedicação diária, para que o volume de textos apareça.
A falta de assunto, de maneira alguma vai me impor limites na arte de escrever. O meu domínio literário não admite a obscuridade narrativa, o nevoeiro que avassala qualquer intenção do desdobramento da prosa. Posso estar escrevendo no máximo duas cronicas por dia, isto não me importa. No final de um mês, eu terei um livro pronto. E serei, além de poeta, um cronista. Um breve cronista, pois a minha verdadeira produção literária é a poética.
Realmente, a falta de assunto deste texto o torna estupidamente lento - semelhante à construção de um prédio residencial. A insistência me faz continuar escrevendo paulatinamente. O jeito é empurrar o texto convencido de que alguma coisa está acontecendo. Que o prédio literário está sendo edificado. Que a narrativa lerda está encontrando o caminho da possibilidade. Que a vida da crónica está nascendo imperativamente. Mas eu não vou negar que estou escrevendo com muita dificuldade, com vontade de desandar o texto no visor do computador. Pois a falta de assunto é profundamente desestimulante.
Estou vendo a minha novela das oito e continuo escrevendo esta crónica absolutamente desinteressante. Mas estou resolvido a escrevê-la até o fim. Até a hora derradeira. Por mais que doa em mim esta falta de assunto assustador. Tão assustador que parece que eu não tenho afinidade com a escrita. O desprazer que estou sentindo me faz lamentar o dia de hoje. Faz-me acreditar que o impossível pode acontecer e, por isso, insisto em continuar escrevendo esta lamentável e horrenda crónica. Mas já estou com vontade de colocar o ponto final neste desastre narrativo.
Impressionante como o tempo passa depressa. Já está na hora de fazer a minha barba, e o meu anjo de guarda já está cansado. Não há como duvidar que esteja chegando ao final desta impiedosa crónica, que tanto me faz sofrer. Não vejo nela nada de interessante, a não ser o fato de contribuir no preenchimento do meu livro de cronicas. Mas, indubitavelmente, sei que o amigo leitor não terá a mínima vontade de ler este desastroso, insignificante e, fatalmente, aborrecido texto literário. Eu é que sou teimoso e continuei escrevendo mesmo sem ter tido assunto algum.
Não vou continuar alugando a cabecinha de vocês com esta prosa absurda. Dou-me por vencido: acabo aqui a minha falta de assunto ciente de que não faltou esforço para escrevê-la, ciente de que não vale à pena insistir num texto inexistente. Mas o exercício da narrativa é sempre estimulante ao escritor principiante, que não descansa enquanto o texto não germinar a semente da literatura. E é engraçado como a falta de assunto se desdobra, gatinhando, rumo ao reconhecimento literário. E apesar deste texto ser uma porcaria, ele se impõe categoricamente na imensidão do azul celestial. Portanto, não há nada a fazer a não ser deixá-lo adentrar-se na obscuridade literal dos signos, com os seus significados e os seus significantes.
Tenho absoluta certeza que se enviasse esta crónica a um concurso de cronicas, estaria fadada a inescrupulosa façanha de ser rejeitado sumariamente. Sobretudo se os jurados tivessem uma crónica da Cecília Meireles para uma impossível analogia. Seria ilógico comparar esta crónica com qualquer crónica da Cecília Meireles. Um verdadeiro vexame eu diria! Mas não posso desistir e nem me submeter a comparações com autores consagrados. Eu tenho o meu próprio estilo, e mesmo sem assunto para escrever, eu não deixo de escrever e de criar o texto. Gostaria de ter muitos assuntos para escolher, mas me contento, no momento, com a falta de assunto que me fez realizar a árdua tarefa de construir o texto paulatinamente.
Na falta de assunto, enfim, eu inventei um texto que fala da necessidade de escrever do escritor, mesmo quando não há nenhum assunto em pauta. Este, sem dúvida, é um grande desafio da narrativa criativa, pois exercita, sobremaneira, a criação artística do escritor. Não devemos nos abater na falta de assunto, pois a falta de assunto é, na verdade, também, um assunto para ser discernido com carinho e amor fraterno. Ademais, qualquer motivo é sempre bem vindo e aproveitado pelo escritor.





Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui