Montagem: LSalomão e NCardoso
|
|
Mais de R$ 100 milhões da poupança para a aposentadoria de 75 mil funcionários públicos foram parar nas mãos dos operadores do mensalão. Um pedaço dessa bolada (as investigações ainda não revelaram quanto) foi desviado para o exterior, principalmente paraísos fiscais do Caribe. O esquema foi executado em 2003 e 2004 e envolve pelo menos cinco fundos de pensão de empresas estatais. Os fundos, que são os investidores mais ricos do país, teriam perdido dinheiro - fraudando os associados de propósito. Na outra ponta, a dos que embolsavam o produto da fraude, aparece um grupo de operadores de São Paulo. O espantoso é que quase todos eles ganharam notoriedade recentemente por ter lavado dinheiro da upla Delúbio Soares e Marcos Valério.
Depois que o publicitário Duda Mendonça confessou ter
recebido R$ 10 milhões do PT, nas Ilhas Virgens, passou-se a
suspeitar da existência de contas secretas fora do país
pertencentes ao Partido dos Trabalhadores. Estão sendo
investigadas várias trilhas, como a presença de doleiros nos
saques que Marcos Valério mandava fazer no Banco Rural e
acusações, ainda muito nebulosas, do doleiro paulista
Antonio Oliveira Claramunt, que disse ter mandado dinheiro
para petistas no exterior. Pelo que ÉPOCA apurou, o pessoal
do mensalão já vinha depenando os fundos de pensão pelo
menos desde o início do governo Lula.
Os cinco fundos de pensão que tomaram prejuízo são:
Refer (dos funcionários da antiga Rede Ferroviária), Portus
(Companhia Docas), Real Grandeza (Furnas), Centrus (Banco
Central) e Nucleos (Eletronuclear). Segundo investigações
conduzidas pela Comissão de Valores Mobiliários ä (CVM) e
pela Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), eles
participaram de uma cascata de operações financeiras
forjadas, todas guardando grande semelhança entre si no
mercado futuro de índices. A lista dos envolvidos parece
desfile da CPI dos Correios. Um dos nomes que mais aparecem é
o de José Carlos Batista, de 49 anos, um operador de mercado
sem emprego fixo, alvo de inquéritos na CVM. Dissimulado, ele
anda num Gol verde e mora em Santo André, num apartamento de
classe média que fica em nome de um amigo para evitar o
arresto de seus bens. Nesta semana, Batista tem depoimento
marcado em duas CPIs, na dos Correios e na do Mensalão.
Batista é o misterioso sócio da Garanhuns, uma empresa de
fachada cuja sede fica num terreno baldio da Grande São
Paulo. Ela recebeu R$ 10 milhões das empresas de Marcos Valério
no Banco Rural e repassou o dinheiro ao presidente do PL,
Valdemar Costa Neto. A Garanhuns foi criada em 1999 por Lúcio
Bolonha Funaro, um especulador profissional muito conhecido em
São Paulo. Aos 32 anos, Funaro tem patrimônio declarado de
R$ 12 milhões, circula em carros de luxo e aluga helicóptero
nos fins de semana para visitar fazendas de amigos. Uma de
suas especialidades é ganhar dinheiro dos fundos de pensão.
(Época, 29/08/2005)
Deve estar aí o motivo pelo qual lutaram tanto pela
reforma da Previdência.
Veja