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Poesias-->Outros Poemas -- 01/10/2001 - 08:37 (João Barcellos) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




outros poemas









Livro 1 Poesia Vária

Livro 2 Raizes – O Natal Que Somos Teluricamente

Livro 3 Breves Tons d’Espiritual Espectro

Livro 4 Mãe – terna poesia

Livro 5 Um Poeta Na Gandaia

Livro 6 O Belo / prosa poética











João Barcellos















Livro 1











Poesia Vária



















ato d’amar



O tempo ameno em que se sobrevive,

às vezes ironicamente, com torpor,

se embriaga do clima d’ amor

como que súbita chuva ao de leve



caindo entre as árvores que somos. Fervor

dos deuses, dir-se-á. Mas sempre,

sempre o toque natural prenhe

da vivência – ou, o ser descobridor



do ato d’amar, mesmo que assim... de leve

levemente, outro ser. O encantador

estar no ameno viver mesmo que



dir-se-á, continuamente na busca do vapor

que transporta ideais rio acima.; e leve

levemente, sobrevivendo, sempre e todo o amor!















o conflito



obra de todos o abraço d’humanidade que faz a paz e ergue

a cidade vem da fé e do amor que conseguimos

fazer brotar de nós

e quando conseguimos ver em nós

o todo maravilhoso da alma cheia e iludimos

os obstáculos aí somos o mundo novo que se ergue



compartilhamos fragrâncias e dizemos d’universos

mas nem sempre sabemos do real que nos fere

e faz-nos abismos

mas nem sempre surgimos como abrigos

da nossa luta e por isso desfolhamos o mal-me-quer

indo às sortes e escondendo medos



somos então o conflito em si e no querer

a humanidade dividida em credos











o espírito da coisa



sei que vivo e no viver sou amor

e sendo isso sou deus

porque reflexo

qual luz e amplexo

do todo sublime e belo adeus

que um espírito pode exprimir num corpo em calor



já ouvi mil vezes que superior alguém veio

e nesse vir deu exemplo e traído foi

pelo próprio reino carnal

escorraçado e humilhado qual animal

sim o que veio ao inferior esqueceu que o humano rói

d’inveja de si mesmo e não sabe de si como simples meio



sei que vivo e neste viver sou reflexo do que veio

mas sinto-me apenas um poema que a cada verso dói









paixão no bar





ele olha para o copo de barro onde o café

oh negra e líquida coisa que dá fumacinha

e repassa o pensar que o liquida

desde que se sabe freguês e aqui o é



ela sabe que seu eu deixa rastros

às vezes imperceptíveis mas que até eunucos

dão pelo seu estar pois o campus

tem amplidão para esmagar caminhos estranhos



ele e ela há muito sabem que a fumacinha

do café não é fronteira mas profundo sinal

a paixão está em cada fiapo que mal

surge e logo dá o recado que lhes fere nos olhares a menina



oh a paixão é energia subterrânea e aqui o é

ou não seja aquela fumacinha a eterna ginga de outro olé











aquarela onírica





águas do mundo que sois um mar de rios

aonde ides águas qu’ eu canto?

percebo em vós um ego vário dissimulado

em rouco murmurar de delírios



solto na cascata ou à beira do cais ou no casco do barco

que navega ao luar

ai aonde ides águas do meu serenar?

sei que em vós coexiste aquele farto



desejo de tudo a(r)mar numa água só

e percebo dessa poesia partículas que s’evaporam

que saúdam este eu e outros que vos namoram

a cada hora nova com um naco de palavra só



ó vós que sois as águas do mundo em delírios

deixai-me ser uma gota livre no vosso mar de rios















balada do guerreiro espiritual

I





1



Soube hoje que nada é igual ao Nada. Que o Caos

domina a perfeição aparente mostrando que o Todo belíssimo

é um sentir vário semeado pelo Eu.

Soube hoje que desse Nada re-surge o Tempo que,

sei, é a energia que irradiamos. Que irradio.

Vi muitos Outros na demanda da Luz como navio velho

sem rumo, Outros que não sabiam do pavio

e pensaram estar no Caos...

A demanda da Luz abre-nos o Corpo, dilata o Eu

por mais Nada que, por muito tempo, encontremos –

que afinal, não somos consciência do Nós no repente

do hilariante ir às sortes mercantis. Seremos e somos algo

daquele profundo Nada enquanto o sentir qu’ exalamos

não exprimir a divindade do Eu.

Soube hoje que as Horas não dizem a Verdade

e que o Tempo é só

o doce balançar das partículas do pó

que nos fazem sacos de Nada e do Todo, e só!

Eis a batalha da eterna Guerra que guerreamos...

O instinto é uma provisão da sobre-vivência

e nele o Amor perscruta-nos o Eu – e, quando diz m’ Eu

não é egoísmo: a Animalidade que somos,

primeiro, é que vulgarizou a palavra Amor,

dela faz instrumento do poder precário e não natural.

Ah, como é bom sentir n’ Outro olhar o Espírito doce

do imprevisível Caos...!



Batalhas tantas, pelo discernimento do Bem e do Mal,

fazem-nos ser, dia após dia, um Oráculo.

Soube hoje que o Universo é uma maresia de Cosmos

e que o Todo que persigo é o vário Eu que sou...

Soube hoje do m’ Eu e n’ Ele vi

além o inferior – a Animalidade – e nele a Guerra que guerreamos

para estarmos longe do superior Viver.

Por isso me quero cinzas na hora do Nada absoluto...

após o Amor. Ah, essa balada

do guerreiro espiritual...!

Soube hoje que a materialidade animalesca, já o disse,

é um saco onde o Nada e o Todo.





Soube hoje que é preciso ser Força, ser Energia, ser Amor,

contra as igrejas vis que dispensam o Amor

em troca dos Dinheiros que não as livram do temor

da Morte, pois em Vida não sabem da Verdade espiritual!

E é simples ser guerreiro do Belo,

estar vivificando os meios que somos dizendo olá

aos vastos Cosmos que carreamos no Caos dia após dia.





2



Escuto o Cântico que na fragrância

da Terra sabe-me a Vida.

Como que genuino Ser que trabalha

e do seu Mister s’entrega à demanda

da Revolução que lhe estufa o peito

e da vera aldeia que é se faz eleito

na convocação do Todo e mostra de outros a manha

e, aí, é Igreja autêntica contra a canalha

que vive dos outros a Vida –

logo, o Cântico que me veste de nova fragrância!



Não me falem em altares que neles a Intolerância

é lei, mas falem-me do Ser e da Alma vivida.

Não me falem da Alma perdida,

falem-me do Ser d’espiritual Tolerância!





3



Não sei quem somos,

talvez um pátio d’alegrias e choradeiras.;

ou nada disso.

E atuamos às vezes qual ouriço...

Não somos, não estamos nem existe percepção

nesto Ego que pátio comunitário é: nasce aí a tentação,

a espiritual Igreja é rebuliço

no meu olhar a Vida que atiço:

pó c’somico e pagão, percebo aí a Alma trepadeira

entre cosmos...



Não me digam o que somos,

deixem-me na Utopia de sentir a eira

onde o trigo sossega e sentar na beira

da Vida a interrogar o que fomos!











II





4



Viver é uma prece,

soube hoje.

Porque o Hoje é o Sempre e o Depois –

sim, e na ilusão de que pode(re)mos ser mais que os semelhantes

esquecemos que somos um cais, um sagrado cais

que ultrajamos ao não estendermos a Verdade a todos.

Sim, Nós fazemos o Tempo agitando as mil razões...

soube hoje,

ao banhar-me como íntima igreja, qual prece!





5



Há um sábio em cada Eu,

mas a magia que o fará Guerreiro virá do Amor

e, nesse toque, dirá: eis-me, Eu...!







































































Livro 2













RAIZES

o natal que somos teluricamente















somos estando



já o mundo que somos

é a aldeia de todas as pátrias

babel de nadas

precisamos agora d’ olhar

em nós e nos nadas

e descobrir pátrias

que digam o que somos



já o mundo

desconhece fraternidade

alguns ainda cantam

precisamos d’ amor

e nos encantam

surge aí nova urbanidade

um novo mundo



vivamos a vida

sejamos coro e idade nova

vivamos o amor

oh alegria

sinos de natal no clamor

d’alma que se renova

já somos vida

















frater natal







sei que nasci Ontem

para Hoje estar mesmo não o sendo

quando o Amanhã se pronuncia

e então bebo no cálice do dia a dia

o fermento cósmico que m’ alivia

o parto que me é rio de unguento

que corre para o Ontem



e então percebo que vivo um Agora jovem

sempre jovem e por ele aguento

o vórtice existencial entre a Perfídia

(que age em própria Alquimia)

e o Amor que m’ alicia

e eis que re-encarno n’ alegria e no lamento

que em Mim vive o jovem



ao descobrir em Mim o eterno Ontem

sei que memorizo o Cosmo relendo

as possibilidades do Amanhã e faria

como sempre faço a Vida em pleno dia

ou plena noite como que garantia

do Eu entre as correntes d’ unguento

na formação da Mulher e do Homem



um Eu fraterno que diz do Homem

e da Mulher no assumir o Natal e querendo

Vida e Amor no ritmo da Malícia

e então eis o quê de sentir-me qual folia

nascendo e renascendo no Frater dia

que me batiza como Cosmo m’ erguendo

para uma Existência jovem

















eu sou o que é





sinto em mim

o que sou

um eu amorosamente

cantando o deus que o é

em cada gesto

palavra

o que sou

é o que deus é



permitam-me cantar a palavra

que me é alma e por ela sou

o que a vida foi será e é



ah um eu amorosamente

dizendo sou

é o que sinto respirando como jardim













gerando luz







treme a terra

que ela trema toda

e que as águas me sejam mortalha

levando minhas cinzas

pressinto as cinzas

de uma estrela talhada

no céu desta que treme toda

ah e como treme a terra



no coração palpita a alma sossegada

qual telúrica boda

altar que não sabe das pedras



o amor que dou é alma prostrada

que se derrama toda

e faz tremer a doce terra







natal





Ai, é hoje

que o Mundo está em Mim,

nest’Alma

flor sem Tempo

nem Espaço!

Espírito que s’ acalma

quando o Eu sente-se Mim

e o sempre é hoje!



Nas chamas d’Alma

que é o Natal em Mim

a Vida é hoje!









vero natal



a Estrada que temos a percorrer

é o fado d‘ Eternidade com bruma

que primeiro nos assusta

depois dá-nos Luz para ver



é certo que é uma busca

obriga-nos a Estar para Ser

e ter Fé para crer

faz-nos Natal a cada busca



solitariamente solidários

eis-nos partidários

do Eu que gera os pátrios



Luz que gera Amor em prazer

íntimo Fogo que rasga a bruma

da Ignorância e não nos chamusca

o Natal é a canção do vero Ser





















mundo





Ai, o mundo em que vivemos

está perdido. É o que é

pelo que vale... um vale

de lágrimas!



Cristais d’ almas

perdidas em vale

poluído. E este é

o mundo em que vivemos!













autodestruição





Nesta redonda Terra que nos suporta o ego doido e idiota

poucos Seres suportam até a cor de que são feitos!



Oh, louca e bestial corrida...



Sentimo-nos amando e odiando, guerreiros

do Nada. Destruímos a Terra louvando o idiota!















raiz telúrica





é verdade que é raro mas quando encontramos em nós essa fundamental essência que nos faz cheirar tal e qual a Terra logo idealizamos a possibilidade do Paraíso porque é aí que a Humanidade se entrega àquilo que é e representa no Cosmo



e é bom vivermos o que somos



o nosso suor reflete como refletem as nossas lágrimas a quantidade de insignificância que somos em Vida por isso devemos saber conhecer o que é para nós o Cosmo















nós somos o natal em amor









1



amor

labareda

fogueira

calor



levamos nossas almas

na contra-mão da multidão

nós somos o público

no privado exercício do ser cidadão

e o somos em feito único

de vida e d’ ilusão

existimos pelo prazer uno

farta emoção

no bulir das almas



a cada natal eis-nos campo d’ amor

que vai gerar um ano novo

abraço de ternuras

beijo doce d’amor





2



a presença que nos concedemos

é um estar que se diz somos

tributo uno ao amor

à vida



a vida

que queremos por amor

e o somos

porque em liberdade concebemos

















raízes







mulheres

flores

amores

prazeres



mulheres ai as mulheres

raiz

natal feliz

por elas sou um ser

estou

com elas aprendo a viver

e sou





ah eu sou

é o que dizemos

mas é melhor dizermos

eu vim

são as mulheres

os únicos seres que podem dizer-nos

eu sou



em prazer

amor

re-construindo flores

ah mulheres























Livro 3













Breves Tons d Espiritual Espectro





1



escorre-me

um pranto

águas elevadas onde o pensar

é luz e nelas faz girar

as cores enquanto

quedo-me







2



vejo que

na liberdade que sou

outros ainda são erva d estrada

eu cresci sou flor e sou mata

por isso me dou

assim que





3



há um som

algo em mim que diz

és o algo em si

não te percas ai de ti

não sei o que não fiz

ainda ouço o som





4



instante

oh química oh amor

quão breve é

estar e re-nascer

nesta fé caminho sem dor

estou caminhante





























balada de nós





o cântico da Vida

é uma boléia

sempre que a partida

é um Idéia



temos os mundos

nas mãos

oh riscos fundos

que nos guiam quais estrelas

e somos chãos

e viramundos



nest Idéia

que é um ida

somos até boléia

da Vida



canção doce-amarga e tola

mas bem parida











universo (um)





tudo

tudo é o que sou

quando abro

os olhos e me dou



sombra da minha sombra



sei o que sou

quando me acho

e vivo e a todos dou

tudo









universo (dois)





vórtice

dum Alma que o é

sou pirâmide

nas linhas de uma Fé



tudo e nada eis-me Todo



meu nome não é Maomé

nem Jesus sou apenas Arte

de um Desejo que me é

vórtice









folclore





o prazer

é sair à rua e olhar o mundo

beijar a flor e dizer amor



o prazer

é saber que tem colibri no brasil

e não tem no portugal do doutor



o prazer

está nas rendas dos açores

que se fazem no brasil com fervor



o prazer penetra e vem d outro corpo

águas muitas na posse do sonhador



o nascer

é esse prazer que do barro sai boneco

e das telas e da madeira é imagem d amor









caminheiro





e mil tigres me saúdam na escuridão

enquanto o jacaré me dá o dorso

e pela amazônia chego ao mundo



e mil leões me aguardam na imensidão

do amanhecer quando lembro o tejo

refletido nas águas d oriente e m acostumo



à lição diária da descoberta sem rumo

que é saber d áfrica também e me achar colosso

e mil fados ecoando por mim em oração













brasil





pés nús e um farrapo pelo corpo

lá vai a nação armando mais um terreiro

em busca do graal que os filhos do luso ensinaram



pés nús e uma idéia e pinga a gosto

lá vai a nação orando n alquimia de juazeiro

e d aparecida que alguns enfeitaram



muitos são os pobres e mais os que se fartaram

nesta vila rica que foi ilha e ora é das cobiças o terreiro

pés nús a nação é um farrapo quase sem corpo









viagem



levaram o cacau

da bahia

como levaram a nau

à índia



os da índia

já sabiam d áfrica

além da china

e dos seus que costearam n áfrica

e quase chegaram

na península ibérica



a índia

viajou na nau

virou bahia

e pisou o cacau



o mundo sempre viajando

debaixo de um pau







marujos





soube que os de lá

portugueses

oraram oxalá

entre fezes e vezes



que ratos

comeram

longe da firme terra

e fizeram

dos trapos

novas bandeiras



nos leves

ventos de lá

portugueses

içaram cantos a oxalá



as gentes são uma expedição

e a religião coisa vã



















viver com o eu





há dez grãos

de um Todo

nos vãos

de cada dedo



sei que bebo isso

dia após dia

e que nisso

vai se esgotando a mania

do Ser só

e um pouco d alegria



por cada dedo

de minhas mãos

há um Todo

e mil chãos



na ponte entre os possíveis

sou um punhado de grãos

































Livro 4







mãe









1



flor

que é rosto

flor

que é jardim

flor

que é meu namoro

flor

meu querubim



flor

coisa d’ amor





2



canto

dentro de mim

canto

no olhar dos outros

canto

e escuto em mim

canto

em meus olhos



canto

o que me dá encanto







3



palavra

cheia de tudo

palavra

que é imagem

palavra

que nos faz fazer tudo

palavra

que é íntima viagem



palavra

poesia de divina lavra







4



que doce

me és em cada instante

que doce

dando ao mundo alegria

que doce

d’ amor transbordante

que doce

ma fazendo alquimia



que doce

palavra d’algodão doce









5



as folhas

caem no jardim que é o teu regaço

as folhas

lágrimas de dor e d’ alegria

as folhas

te fazem entre os teus o único espaço

as folhas

são teus amores quem diria



as folhas

poemas dos eus que afofas







6



vi além

a luz tão querida

vi além

o caminho que faltava

vi além

e senti a canção perdida

vi além

a vida irisada



vi além

um retorno à raiz do bem







7



já dizem de ti

quase tudo

já dizem de ti

quase nada

já dizem de ti

o foco maior do mundo

já dizem de ti

mulher amada



já dizem de ti

o que não queres ver em ti









8



vivemos a cor

cantando o teu nome

vivemos a cor

na vida que nos ofereces

vivemos a cor

e sempre pudemos saber-lhe o nome

vivemos a cor

que num instante nos favorece



vivemos a cor

porque és a luz primeira d’ amor





9



falar do ser

é estar sempre contigo

falar do ser

é imaginar o tempo

falar do ser

é um regresso ao umbigo

falar do ser

é dizer e ti ao tempo



falar do ser

é com o teu nome o mundo reescrever





10



oh alma

bendito que sinto

oh alma

que m’ encantas no sonho

oh alma

também avó no eterno riso

oh alma

da liberdade o grande encontro



oh alma

em que me fiz alma







palavra mãe





doce

é a palavra



quanta coisa e quanta verdade

nesta melodia

que como o amor purifica o coração

enche-o d’alegria



não sei quando te escutei

séculos se foram

vivemos o hoje carregando a luz

de olhos que n’alegria choram



mãe

é a palavra



















Livro 5









Um Poeta Na Gandaia

poesia nas fragrâncias da vida simples















velha viola



A minha viola,

ó morena,

canta pra ocê a poesia nova

que o carteiro não entrega.



Não tem carta que mostre o amor

que sinto por ocê,

não tem carta que leve este fervor

até ocê!



Só a velha viola, ó morena, diz da poesia d’amor

que respiro por ocê!



Te quero tocar assim, morena,

como poesia nova.

Ó morena,

ó minha velha viola!











rio acima



No barco que me leva

rio acima,

encontro, antes da pesca,

a mulher que me anima



a lutar pela paixão.

É ela que, lavando no rio,

Me enche o coração

e me deixa com aquele friozinho...



Ai, meu amor, toco no cavaquinho

o calor da paixão!



És a mulher que me dá vida,

és quem eu quero levar pra pesca,

rio acima,

meu barco minha festa!













menina no banhado





No luar do banhado, menina

teus cabelos são um dizer

onde meus olhos dobram a esquina

que leva ao prazer.



Como é bom te encontrar

como um sonho.

Como é bom te amar

acordando em sonho.



Menina, que teus cabelos d’oiro sejam o luar

pra sempre em meu sonho!



Tanto é o prazer de ter você em minha vida

que te quero viver

no luar do banhado, menina!















o cavalo





Lá no cerrado,

altivo e brilhando,

corre veloz o cavalo

nossos olhos maravilhando.



É ele a estrela

das trilhas.

É ele a certeza

de todas as vidas.



Com ele se aprende a amar a natureza,

a cantar a vida!



Existe um além brilhando

no rastro do cavalo –

estrela iluminando

a rudeza do cerrado!









saudade





Moça, linda moça,

te quero tanto assim

que em meio à boiada que vai na trilha

tu és o meu único pensamento.

Na recordação do teu carinho

moça, linda moça,

o meu coração é um estouro que nem o cansaço alivia.

Só quero deixar o cavalo

e cair em teu olhar que me abraça...



Como é bom, como é gostoso

e é divino

te querer tanto assim.

Pra sempre assim

moça, linda moça!









amar



As águas do mar

são como azul do além

em teu doce e encantado olhar,

meu bem.

Em teu corpo encontro todas as ondas,

meu bem.

Somos uma ilha de paixões que a multidão desconhece

porque só dois corações o sabem

e o desejam!



Do trator que rasga a terra ao barco que sulca o mar

meu bem, nós somos o ir e vir

do amar.

Ai meu azul d’ além,

Minha estrela do amar!













festa brava





Há rosas

ali, na tábua do touro,

e um peão

levanta a capa.;

há pouco,

uma espada feriu de morte

o touro –

logo, duas orelhas e rabo,

e olé!



A aventura do novo

na arena.

Os olhos do velho senhor na

festa brava.



Ergam a taça,

ergam a vida, ergam tudo pela

festa brava!













mulher-rosa





Te escorre o perfume d’ amor,

minha rosa.

Essências de ardor,

oh meu amor!



Sei de mim em teus olhos,

perdido no abraço do teu corpo,

nos poros

que me fazem mil olhos!



Mergulhar em teus olhos,

minha rosa, é viver do amor tantos corpos...



Oh, meu amor,

essências de ardor

te fazem mulher-rosa.

És em mim o perfume d’ amor!















peão apaixonado







Tem arraial no meu coração

quando te encontro

lá na festa do peão.

Ai, és o meu querer,

cantiga de mim!



Te saúdo, mulher

com esta pinga que boto na poeira.

Te quero, mulher

como esta pinga d’alma em coceira!



Vem pra mim,

quero te merecer

qual benção pro melhor peão!

Quero o teu namoro,

ó arraial do meu coração!















alto da serra



tanto amor

tanto querer

oh meu bem

flor

meu amanhecer



tão verde

tão bonito assim

como do teu olhar verde

um eterno jardim



lá no alto da serra

oh meu bem

dancei na música do teu coração

me fiz emoção

oh meu bem

lá no alto da serra







leão de chácara



era uma beldade

aquela que ia buscar o leite

na porteira da velha chácara

ai era mel em leite



montava cheia de graça

uma magrela cor cinza

e eu aguardando cheio d’ esperança

a fragrância daquela moça linda



sempre me dizia Oi! aquela graça

e eu na porteira com a alma florida



seus olhos eram cor d’ azeite

como o verde da chácara

em silêncio era ela o meu deleite

ai minha beldade









estrada fora







o anel que recebi

é uma carta d’ amor

foi por ele que eu percebi

a força do amor



o anel que recebi

é um abraço de fervor

que me lembra de ti

a tremura em doce calor



não te percas na estrada que só pra ti

tenho olhos e amor



te segura amor

que só eu sei fazer de ti

um poema d’ amor

meu anel de rubi











brutus...







Ele não liga pra mais nada,

não vê ninguém e me esquece

...até em noite de baile!

Só ele é do seu gosto,

eu sou carta de outro naipe.



Como ele quer aquele brutus,

ai vida, meu caminhoneiro...

Como ele quer aquele brutus,

ai, deixa-me ser a tua boleia, caminhoneiro...



Não quero mais ser carta de outro naipe,

quero estar no teu abraço

na noite do baile.

Eu sou alguém que não te esquece,

alguém que te ama!











Oh, Caminhoneiro!



Eis que chegas

meu doce, meu queijo.

Ouvi o teu nome lá no bar

onde te encontrei, oh caminhoneiro...

Lá, onde espero o teu olhar.



Uai, uai, uai, na boleia do brutus

quero te namorar!

Uai, uai, uai, na boleia do brutus

quero aprender a amar!



Não sei quem és, mas sei do teu olhar

meu bem, oh caminhoneiro...

Todo o Sábado estou no bar

meu doce, meu queijo...

Uai, meu bem, que inda um dia me levas...!















ir ao mar



onda que vem

traz o suspiro da lua

onda que vai

leva a areia nua



quem vai ao mar

sabe que tem de ir

quem vai ao mar

não sabe se tem de vir



é um ir e vir

de marés e promessas d’ amar



como a areia sob a lua

na onda que vai

o pescador da minh’ alma nua

não sabe do mar que em mim tem





riacho







água pura ó água

e mais água

ih minha nossa

olho d’ água



vem da floresta

e corre cidade dentro

vales e vilas até ao mar

oh riacho que levas o meu amar

sou de ti a cada momento

venho do povo da floresta



amor d’ água

ih minha nossa

meu amor é como água

vive sem mágoa





sonho





no meu velho e amigo alazão

vou de lago em lago pra saber

em qual espelho

vou encontrar o reflexo da paixão

aquela que sempre sonho



a todo o instante vejo

tua imagem fugaz

e até hoje não fui capaz

de dizer ou saber se te tenho



vejo gente e mais gente no bar e na igreja

e gente no vilarejo e no trem

estou sempre vendo e entre tanta gente

só não encontro a tua imagem doce

que me faz sonhar dia e noite

e te busco em todos os espelhos d’ água

nos lagos da fazenda

já nem preciso puxar as rédeas do meu alazão companheiro

ele sabe o que procuro

e o que procuro não é toda a gente

o que procuro nem nome tem

é aquele eterno sonho de quem o amor almeja









taça d’ amor





sentir em mim esse cantar

quando te olho nos olhos

é ter em mim o teu ser

cântico d’ almas

um só corpo





como é bom beber a vida

na taça d’ amor

ai canção minha linda

silvestre flor



na cidade grande respiro em cada esquina

a lembrança das águas do prazer

riacho livre e fogoso alagando

em nós as pradarias da vida

e quando te encontro de novo e te olho assim

me sinto pantanal prenhe

da natureza toda qual ópera de todas as artes

e toco teu corpo como violeiro

em serenata após o estouro da boiada

em teu olhar me vou alagando

pra sermos dois no prazer

que é ter no coração a vida















ei saudade



a ternura que me atravessa

é como o vento nos campos

sei d’ eu respirando a tua imagem

mundo fora cantando de ti

a fragrância d’ amor



ei terna saudade

desse fundo olhar

ei terna saudade

desse suave respirar



não quero mais saber da solidão

que é estar longe de ti

quero o teu corpo no meu corpo

teus beijos aquecendo minh’ alma

como fogo de acampamento

primavera de mil cores

cheiros e luar

sensações de vôo pr’ além de nós

quero tocar a tu’ alma

estar no teu corpo

sentir de ti

o amor e o pão

















Livro 6



















O Belo

Na Erótica Percepção Do Que Somos





o instante é o ápice do espaço que se torna tempo e nele incorporamos a possibilidade de um sonho e por ele avançamos qual modelo em palco pelo deslumbramento de uma realização que é ao mesmo tempo uma conquista





acreditar

no que somos

sonhar

o que fomos

realizar

estar



precisamos ser o que somos

acreditar





a magia do instante em que descobrimos a beleza que transportamos e que é às vezes uma beleza fugaz ou uma beleza não revelada no corpo é o tempo revelado nesse espaço que ocupamos



no olhar o horizonte

eis que o mundo é testemunha

do ser que aprende a ser

o ser que está no prazer

sente-se sol e lua e terra e fuga

e encontro e fonte



aprendemos a fazer o tempo sob o olhar cósmico que nos alimenta o eu que é um espaço molecular e logo achámo-nos pelo bem ou pelo mal mas sempre tendo a beleza como linha comum



estética de vivências



plano e contra plano de sombras e luzes que nos fazem alguém em evidência ou alguém sem luz própria o que todos nós provamos em algum instante da vida porque a vida não é o pátio ou o palco para modas onde a nudez d’alma é tudo





o corpo

e quando o corpo passa a ondular

linhas e visões

eróticas percepções

profundas reações de um outro falar

o instante é um encontro



sublime encontro que nos preenche o sonhar de olhos abertos porque o corpo é um ele ou é um ela com alquímicos requebros a insinuar o próprio sonho



ritmo de divinas ondas



o corpo que somos é o testemunho das marcas das vivências que nos deram a terra como berço para nele aprendermos a dizer de nós mesmos fazendo dos outros corpos um talvez espelho do instante que alimentamos como sublime beleza



e o tempo não existe

como não existe o espaço

é a erótica percepção

é do nosso olhar a revolução

que faz do corpo o espaço

e o tempo onde a alma coexiste



beleza

orgia da sensação

beleza

cântico primeiro da revelação



pelo corpo sofremos o impacto de um sentir louco que nos conquista qual animal lançado pelas pradarias na demanda do imperceptível



um imperceptível chamado paixão que nos galga a alma como furiosa onda do mar para logo nos dizer docemente do amor e da paz



esse prazer de olhar e sentir a vida que outros animais nos ensinaram sem o saberem



o corpo

um belo estar na natureza

o corpo

o espelho da diferença

o corpo

diferença que em nós é beleza



o que é filosofia diante de um corpo? o que é um corpo diante da filosofia? o que sabemos de nós? sabemos que somos um corpo e um ritmo de vida que em cada cultura toma formas diferentes de estar mas que sob o olhar atento que vislumbra na estética sinaléticas outras é um corpo vário e um ser de diferentes níveis até na beleza





somos cor

raças

pensamentos

desejos

às vezes somos alianças

morte e muita dor



amor

andanças

nada e privilégios

olhares belos

danças

muita cor



e sempre a beleza do amor

ritmo e cor





desconhecer o prazer do instante do corpo enamorado é não viver é desconhecer o ritmo da cor que nos embala a beleza transpirada no corpo é não saber olhar o corpo que se diz no palco da vida porque nos desconhecemos





o corpo

o é pelo que somos

o corpo

dança na vivência

o corpo

é universo



reverso

é anti corpo

poema sem verso

alma sem esboço

prazer sem sexo

olhar oco



e quando o corpo é modelo no palco como na rua ou no salão como na igreja ou no café como no teatro ou no cinema e até no trabalho eis que ele diz de cada ser



cada ser é um corpo e uma alma



corpo é objeto sim



e sendo um ele ou um ela o corpo evidencia-se na sua transpiração sexual e animal



um ele ou um ela que se diz a outrém pela fala ou pelo gesto e quando o é pela magnética beleza torna-se o belo em evidência embora não como moeda de troca mas quase sempre sim uma fogueira onde a vaidade é chama que destrói daí que o corpo deva ser tido como tempo e espaço para a vida na sua amplidão sensual e sexual no luxurioso leito terrestre que o cosmo lhe oferece



amar

abraço de corpos

nudez de esforços

desejar



lúdico pensar

imenso olhar





sonhar

o mundo nos olhos

almas feitas corpos

ato de doar





o instante é o ápice do espaço que se torna tempo e quando esse instante é a visão de um corpo belo o ápice prolonga-se alma adentro qual poema surgido na aquarela de um pensamento ou no aguardo de um amor



os olhos

dizem o que somos

toques de mel

na fragrância íntima que propomos

gozos



amorosos

toques e embaraços

vez primeira ou não eis-nos sob fogosos

olhos



namoros

poemas alquímicos renovados fogos

corpo farnel

corpos abraços

gozos







no seu nascer para viver e morrer o corpo é um instante que deve ser vivificado com a alegria que o continuará na eternidade



espaço que é tempo por um instante o corpo o é na verdade de estar por um ser que nem sempre o merece



viver

conviver

prazer

o belo existe



coexiste

é corpo a dizer

viver

viver

ver

ser







corpo

jóia d’alma enamorada que vive para ser

corpo

bastidor e palco do viver









João Barcellos

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