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Cronicas-->O eu - sem outros eus -- 27/04/2010 - 23:10 (Tânia Cristina Barros de Aguiar) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ainda não estou pronta. A obra prima tenha sido - provavelmente - sobreviver. Nordestina. Improváveis tantos motivos para felicidade, nesses dias. Belos e terríveis.
Sendo uma pessoa óbvia, menor do que supunha alcançar quando bebi tanta sabedoria. Perdeu-se na infància, talvez.
Teria começado com os volumes de um Lobato emprestado à biblioteca da madrinha? Naquela pequena estante encerada, de livros muito limpos e arrumados? O tesouro: as Reinações de Narizinho, as viagens ao céu, à matemática, à gramática e às aventuras de Hércules, levando-me por uma Grécia com Péricles, Fídias e os deuses que conheci em suas mais humanas loucuras. Apaixonei-me por Atenas. Logo ela. E aquela crença de Monteiro no petróleo.
As enciclopédias eram o orgulho de papai. A Delta Larousse inteira. Interessavam-me apenas nas pesquisas da escola e a culinária - receitas que jamais usei, mas eram curiosas, de um mundo desconhecido. Os hors d´oeuvres. O acarajé, o abará - petiscos que não tinha - acompanhados de fotografias pequenas, em preto e branco, Mais pareciam inspirar-se em Rugendas. Museus de uma Europa que só me atrai raramente. Jamais conheci. A não ser na imensa coleção de postais em preto e branco. Ganhei-a de Alberto Speich. Querido amigo. Guardo essa herança da viagem à França de sua mãe, ainda jovem.
Muito menina interessou-me folhear o Mundo da Criança e o Tesouro da Juventude inteirinho, buscando as coisas curiosas. Lembrei-as, depois, nos cadernos dos escoteiros mirins do Walt Disney.
Quando ganhei a Pequena Fadette, Sand me encantou. Um mascate trouxe a encadernação, primorosa para o lugar de sua venda, uma brochura em alto relevo, azul. Papai não resistiu, que sorte a minha. Sua história, seu disfarce... Talvez tenha me inspirado todas as fugas de casa. Sonhava com os campos na noite, cheios de fogo fátuo.
Descobri-me depois em Gibran e suas histórias. Parábolas ora doces, ora de uma rudeza necessária e efervescente. Vejo-me ainda dando serpentes e sendo perdoada. Amada, sem merecimentos. E Hesse. Quem será essa menina que teima em viver em mim? Seu fogo fátuo ardente, suas esculturas destruídas e seus sonhos teimosos que se escondem?
A cada dia agradeço a uma legião de fadas, anjos, deuses, curupiras, iaras, estar aqui, sobrevivendo ao càncer familiar, ao álcool e à nicotina. Talvez eu seja desses suicidas sem sucesso. Ou talvez ame tanto a vida e sobreviva.
Meu castigo, o tive - a voz rouca não me permite seduções que já ousei.
Talvez seja a minha pena, pela loucura de emoções vividas. Agora, esconderijos. Palavras que não ousam mais se colocar.
A generosidade dos amigos insiste em resgatar-me, cercar-me de mimos e carinhos. Como são lindos esses seres humanos que não percebem a minha loucura.
Ou talvez bebam-na, para esvaziar-me e fazer-me melhor do que eu sou.
A todos os exames da meia idade, hoje, submeti-me. Ecografias do útero, da tireóide, dos peitos. A minha ginecologista, do alto do seu quase um século, esqueceu a ameaça - uma de cólon, que jurou agora os americanos mandam fazer nas mulheres de mais de quarenta anos. Ai, que dádiva. Não consigo me imaginar de quatro, sendo desvirginada por um equipamento. Preferia ter dado a um dos meus maridos, amantes, namorados, essa dor. Ou esse prazer que talvez venha depois da dor.
Interessante a diferença que faço entre eles. No fundo, todos privaram desse meu amor que se desmanchou nos dias, descrente e adormecido.
Ah, como queria viver em estado de paixão.
Cruel, a natureza nos rouba esses hormónios que fazem vibrar os músculos todos. Só resistem na vaidade da nossa imaginação. Ou por paixões fugazes. O resto é medo de inevitável solidão. Assim nascemos e assim morremos. Sozinhos como anjos caídos. Inevitavelmente sábios e desolados. Ainda assim, felizes.







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