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Artigos-->Élio, Cáspite! - memórias de um mentiroso -- 11/06/2003 - 14:57 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Aos que se deliciaram com as falácias, contidas nos dois recentes livros de Elio Gaspari, recomendo, a bem da verdade, que leiam atentamente o texto abaixo, de autoria do insuspeito historiador, general Raymundo Negrão Torres e procedam as devidas correções nas deturpações da História, procedidas pelo jornalista. Aos que não tiveram a desventura de empestar a sua biblioteca com essa excrescência de Gaspari, sugiro que nem passem uma vista d’olhos nela, pelo risco de contaminação, de difícil cura.



jagulha@terra.com.br



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O FASCÍNIO DOS ANOS DE CHUMBO



Raymundo Negrão Torres (*)



Alfredo Hélio Sirkis – um ex-guerrilheiro urbano que ajudou Lamarca no audacioso seqüestro de dois embaixadores estrangeiros – relatou em livro suas experiências na luta armada comunista dos chamados anos de chumbo.

Ao publicar a 14ª edição de “Os Carbonários”, fez questão de inserir, como um novo prefácio, uma espécie de autocrítica na qual reconhece: “Mas a história, ela própria, acontece duas vezes. Uma no instantâneo eclodir dos fatos. Outra nas obras literárias, históricas, biográficas, memorialísticas e, hoje, no audiovisual, na TV, no cinema, em CD-ROM. Se na primeira perdemos fragorosamente, na segunda não nos saímos de todo mal”.



Mais adiante, ao confessar não compreender o permanente interesse da mídia por esse confuso e conturbado período de nossa história, escreveria: ”Muitas obras houve e, pelo fascínio que esse período continua a exercer, muitas ainda haverá”.



E aquele “fascínio” – que disfarça interesses pecuniários – continua dando seus frutos. A sua mais recente manifestação é uma “obra” cuja gestação custou – segundo o autor, Elio Gaspari - longos dezoito anos e o trabalho da maior equipe que uma editora já colocou à disposição de um escritor. Tempo mais longo do que Jacó precisou trabalhar para Labão, antes que este lhe desse a ambicionada Raquel e tão vasto que o irreverente Carlos Heitor Cony chegou a pensar que não viveria o bastante para ter a ventura de saborear o resultado de tão longa faina. Não sei o que o acadêmico e memorialista Cony achou da coisa, mas penso que nada dirá, além da reclamação que já fez em sua coluna diária da imputada co-autoria de um contundente editorial do Correio da Manhã publicado na véspera da queda de Jango Goulart. São “vinhos da mesma pipa”...



Costuma-se dizer que pelos frutos é que se conhece a árvore e árvore má não dá bons frutos. Daí ser interessante conhecer algo da vida do jornalista-autor, dono de página dominical inteira em jornais de circulação nacional e que se julga – “eliocentricamente”, como ele mesmo proclama - um dos ìcones de nosso jornalismo investigativo. A tomar como válido o esboço biográfico de Elio Gaspari traçado por outro conhecido e veterano jornalista, também durante muitos anos figura importante na redação da revista VEJA, em seu alentado livro “Notícias do Planalto”(Companhia das Letras), fica no ar a certeza de que o fruto é o retrato da arvore que o produziu.



Mário Sérgio Conti – até hoje não desmentido no que escreveu e publicou em 1999 – mostra um alvorecer para a profissão nada edificante, pois afirma que com sua ancestralidade napolitana, a convivência em um dos muitos colégios onde estudou com filhos de banqueiros do jogo do bicho e a observação da fauna de malandros, sambistas, prostitutas, pederastas e cafetões da Lapa (Rio), Gaspari embebeu-se do que chama de a “sabedoria das ruas”.



Precisando de uma profissão, acabou sendo empurrado, por sua militância no Partido Comunista, para o jornalismo em Novos Rumos, órgão do PCB, onde chegou depois de um modesto emprego na Embaixada cubana. A reviravolta havida com a queda de Jango Goulart o deixa sem trabalho por uns meses e o leva para um emprego em uma agência de notícias no aeroporto do Galeão que lhe abriria as portas para uma experiência em que sua “sabedoria das ruas” seria de grande valia para o seu promissor início como falsificador de entrevistas.



Como o tempo de contato com políticos e personalidades em trânsito era reduzido, o repórter já levava prontas as entrevistas que eram oferecidas aos que as quisessem encampar em troco da vantajosa aparição nos jornais. Isso triplicava sua produtividade e o recomendava aos patrões, aos encarregados das redações e aos “pauteiros”; além disso, a técnica inusitada e esperta faria escola.



Anos mais tarde, na revista Veja, “a molecagem” – no dizer de Conti – seria repetida, já refinada e com grande sucesso e vantagem. Escola que, ao que parece, nunca foi abandonada e foi utilizada contra uma de suas mais notórias e recentes vítimas, o brigadeiro Werner que teve sua entrevista publicada nas Páginas Amarelas da revista de forma inteiramente deturpada pela repórter que o ouvira, transformando-a em um pronunciamento de caráter nazista.



Esse refinamento deve ter sido também obra da experiência adquirida pelo jovem Gaspari, ainda no tempo do Galeão, quando começou a trabalhar para Ibrahim Sued, o mais bem sucedido colunista social, que soube, como ninguém, utilizar seu faro de repórter policial e informante da polícia para explorar a vaidade de “didus” e “dolores” e transformá-la em rendosa fonte de prestígio e dinheiro.



Terá sido, certamente, a ligação íntima com o “Turco” que terá dado a Elio Gaspari a ferramenta com que abriu o “cofre das vaidades” de certas figuras da ditadura – como Ernesto Geisel e Golbery do Couto e Silva - de onde saíram os papéis de arquivos oficiais – transformados leviana e criminosamente em arquivos pessoais - e os “diários” com que montou sua mais recente e longeva obra, cujos dois primeiros volumes, logo que lançados, já despontavam na lista dos mais vendidos, mostrando que o Sirkis tinha razão, mesmo que o apontado fascínio seja o resultado de longas e trabalhosas compilações do que muitos outros já escreveram, com uma conveniente e capciosa seletividade de fatos e fontes ao bel prazer do autor, de declarações com o velho “cheiro de Galeão” e de um texto bem escrito, mas recheado de equívocos, erros grosseiros, meias verdades e mentiras completas, próprias ou encampadas. Falhas que já começam a ser apontadas publicamente, porque ainda estão vivas muitas das testemunhas dos fatos e que agora se dispõem a corrigi-lo e a contar o que sabem.



Em resumo, trata-se de uma obra escrita com objetivos canalhas que tem em vista tentar denegrir e enxovalhar as Forças Armadas, especialmente o Exército e seus chefes, que são, em muitos pontos, ridicularizados e depreciados.



À “sabedoria das ruas” – de que fala o Conti – talvez se devesse acrescentar outro talento herdado e que é revelado em um texto do Zuenir Ventura publicado no suplemento Prosa e Verso, de O Globo de 23 de novembro de 2002, onde ele dá a entender que a mãe do Gaspari, empregada do Hotel Excelsior, no Rio, se apropriou, indebitamente, de livros esquecidos no quarto por hóspede ilustre e os passou ao filho, quando os deveria ter entregue á gerência para serem restituídos ao seu legítimo dono, e hoje enriquecem a variada e volumosa biblioteca “Pedro Malan” do jornalista. Será verdade? O cáustico Elio, ao que se saiba, nunca explicou esse comprometedor lance.



Outra fonte de refinamento Gaspari acabaria tendo de sua ligação com Dorrit Harazim, uma iugoslava de nascimento que, depois de algum tempo morando no Brasil, andou pela França de onde teve de fugir para livrar-se das grades da Suretè francesa que a perseguia por suas ligações com os terroristas. Gaspari - que participou dos primeiros e difíceis tempos do lançamento da revista VEJA (1969/70) - trabalhou com ela por algum tempo na revista, para onde a recrutaram em Paris outras figuras marrons da imprensa, como os Civita e Mino Carta. Este, italiano como ele, muito o ajudou dando-lhe especial destaque na redação da revista, onde se notabilizou por seu jeito desenvolto, prepotente, intrometido e absorvente, para onde voltara com Dorrit em 1979, já casados ou coisa que o valha, depois de algum tempo de trabalho no Rio e no Jornal do Brasil.



Foi na tentativa de incrementar a cobertura política de VEJA que Gaspari veio a conhecer o “bruxo” Golbery de cuja intimidade passou a privar, como verdadeiro “leva-e-traz” de notícias e informações. Com a escolha e a eleição de Geisel para suceder a Médici, “caiu-lhe a sopa no mel”. A tal ponto que na redação da revista era visto como um “aliado da ditadura e um agente do Golbery na imprensa”. E era mesmo. Nas Explicações do primeiro volume da obra de que nos ocupamos, o jornalista não faz segredo dessa situação e confessa que sem o apoio e “a paciente colaboração” (pág. 14) do ex-presidente Geisel ela não teria saído.



Se a isto juntarmos certos equívocos nas apreciações contidas no depoimento de Ernesto Geisel à turma esquerdista do CPDoc da Fundação Getúlio Vargas (que analisei detidamente no capítulo Depoimento Geisel, páginas 103 a 113, de meu livro “Nos porões da Ditadura” da Editora Expressão e Cultura, 1998, Rio de Janeiro), será lícito concluir, sem ofensa à memória de quem já não pode mais defender-se, haver da parte do ex-presidente um empenho subjetivo de melhorar sua imagem histórica e eventualmente resgatar alguns dos inegáveis desacertos de seu governo, o mais autoritário do ciclo revolucionário.



Para quem claramente afirmou que a substituição de Castello por Costa e Silva levaria a Revolução de 64 à perdição e, mais tarde, teve a oportunidade de tentar salvá-la, mas, pelo contrário, ajudou a enterrá-la melancolicamente, parece que só restaram a covardia das memórias póstumas e o uso de interpostas pessoas para melhorar sua biografia. E uma delas, sem dúvida, é o autor de Ilusões Armadas, cujo processo de expulsão do Brasil, como estrangeiro indesejável, foi retirado do Gabinete Militar da Presidência a mando de Golbery que o fez desaparecer, como declarou recentemente, em artigo no jornal Ombro-a-Ombro, o então major Kurt Pessek.



Os dois primeiros volumes do livro do Elio Gaspari foram recebidos com o estardalhaço que era de esperar, pois todo o mundo queria saber o que continham os arquivos implacáveis do “bruxo” Golbery. Na edição do Globo acima citada, o jornalista Aluízio Maranhão cantou em prosa e verso os dois primeiros volumes da obra Só que, ao que parece, "a montanha pariu um rato".



Do resumo que o Globo publicou, já se podia ver quanto de besteiras, preconceito e inverdades estão nos grossos volumes já à venda. A revista Veja, na edição de 27 de novembro de 2002, também deu largo espaço ao lançamento do cartapácio.



Tentaremos alinhavar uma série de observações sobre pontos em que o já publicado é notoriamente incorreto, tendencioso, parcial ou incompleto, em que pese a enorme equipe que a Companhia das Letras – a grande interessada no sucesso editorial do empreendimento – formou para ajudar o autor.



Elio Gaspari parece demonstrar uma entranhada paixão pela democracia e pela liberdade, sentimento estranho e tardio em quem muito cedo alistou-se no Partido Comunista, certamente um equívoco da mocidade ou um jeito malandro de tirar proveito de ser comunista, como se constata no já citado livro do Mario Conti pelo elevado número deles nas redações dos jornais e revistas. O que acaba sendo irrelevante, tendo em vista o imenso número dos cristão-novos da Democracia que andam hoje por aí, no governo, na imprensa e alhures, com gordas indenizações e polpudas pensões arrancadas do suor do trabalhador brasileiro.



Outro detalhe interessante é que o autor faz críticas ferinas ao modo de escrever do general Lyra Tavares e dos capitães redatores de um certo Manifesto lançado na EsAO, esquecendo que eles não tiveram a vasta equipe de edição de texto que garantiu a sua boa sintaxe, conforme reconhece nos agradecimentos.



Cumpre ressaltar também que o autor contou – além da vastíssima bibliografia já existente sobre o assunto – com a colaboração de muitos “inocentes-úteis” que deram seus depoimentos em troca da honra de constar de um livro supostamente tão importante. Acima de tudo, contou com a boa fé de muitos depoentes que jamais iriam imaginar o uso que o jornalista faria de suas declarações e confidências, incluindo-as em um livro destinado a enxovalhar a farda a qual dedicaram suas vidas e que o Golbery, em certo ponto do livro, chama debochadamente de “fantasia”.



Por outro lado, o livro é farto de afirmativas que o autor não se dá ao trabalho de comprovar ou justificar, bastando para tanto a verdade da palavra “eliana” ou a citação de uma fonte muitas vezes duvidosa. Como na página 22 – 1º volume, onde afirma peremptoriamente que “Frota chegou ao generalato graças ao expurgo praticado contra centenas de oficiais fiéis ao regime deposto”. Em 1964, Frota devia ser coronel antigo; logo, o inventado expurgo teria de atingir coronéis mais antigos que ele ou mais bem colocados nos Quadros de Acesso e com o curso de Estado-Maior. Se o Exército dormiu janguista e acordou revolucionário, - como se afirma - de onde saíram as centenas de coronéis fiéis a Jango expurgados? Com tantos coronéis leais o “golpe” teria sido fatalmente derrotado.



Outra falácia que o autor repete é sobre o criador do SNI. E aí há certa justificativa, pois o próprio Golbery dela se pavoneava e muita gente até hoje a repete. O SNI surgiu por transformação do Serviço Federal de Informação e Contra-Informação (SFICI) criado no governo de JK. Quando este visitou os Estados-Unidos, o presidente Einsenhower manifestou-lhe sua preocupação com a infiltração esquerdista no governo brasileiro. Ofereceu-lhe assistência técnica para a criação de uma agência equivalente à CIA, lá surgida no governo Truman em 1949. JK desconversou.



Na visita ao Brasil, em fevereiro de 1960, Ike, além de sugerir a Juscelino que reconsiderasse sua decisão anterior de romper com o FMI, repisou sua antiga preocupação com a infiltração comunista no Brasil, o que tornaria necessário um reforço nos órgãos de segurança. Como JK estava interessado em reatar as negociações com o FMI, concordou em criar a tal agência. Foram criados o SFICI, bem como Seções de Segurança Nacional nos ministérios civis, todos subordinados à Secretaria Geral do Conselho de Segurança Nacional. Quem quiser conferir, leia Moniz Bandeira, em Brasil-EUA – A rivalidade emergente, Editora Civilização Brasileira – 1989, página 93, citado por Roberto Campos, em Lanterna na Popa, página 283.



É enorme a quantidade de maus julgamentos, ambigüidades, distorções, meias verdades e idéias preconceituosas constatadas no primeiro volume do “pentateuco” – A Ditadura Envergonhada – que vale a pena mencionar ainda que brevemente.



Embora admita, implicitamente, que até o AI/5 não havia censura (pág. 24) ao dizer que até a demissão do ministro Frota, em 1977, foram nove anos de restrições, mais adiante, entra em contradição e erra nas contas ao afirmar que com o mesmo Ato o Brasil entrara no mais longo período ditatorial de sua história (pág. 35), esquecendo o “curto período da ditadura estadonovista de Getúlio.



Demonstra uma profunda ignorância do que era a Doutrina de Segurança Nacional da Escola Superior de Guerra, confundindo-a com o que a esquerda caolha, raivosa e burra chamou de Ideologia, responsabilizando-a pela alegada violência do regime, e alongando-se em pretensiosas considerações que só fazem acentuar seu despreparo e sua verbosidade.(pág. 39-40).



Ao sumariar os acontecimentos que antecederam a queda de João Goulart, demonstra que, apesar do tempo de que dispôs e da enorme equipe com que contou, sua pesquisa foi claudicante, errônea e incompleta. Na eleição de Jânio-Jango, esquece e nem menciona a importância dos comitês Jan-Jan. A revolta dos sargentos em Brasília em setembro de 1963 – um dos antecedentes mais importantes da queda de Jango – nem é mencionada.



A importância da interinidade de Ernesto Geisel no comando da 5ª Região Militar é exagerada. Ressuscita um tal Setor Militar do PCB – um tal de SERMIL, mencionado por Luis Mir em seu livro “A revolução Impossível” – coisa em que ninguém ouviu falar e esquece notórios oficiais comunistas, como o major Lauro Garcia Carneiro, valendo-se de depoimentos que teriam sido prestados 33 anos depois dos acontecimentos.(pág. 53/54) E digo, teriam sido, porque há menção no livro a depoimentos que nunca foram prestados, como o atribuído ao então major Kurt Pessek (nota pág. 25). Pura invencionice, repetindo comentários que se ouviram na época em Brasília, afirma o oficial.



Ao falar do general Castello Branco (pág. 54/56) dá a entender que consultou o arquivo pessoal e privado do ex-presidente, mas ignora olimpicamente o importante livro de Luís Viana Filho sobre o Governo Castello Branco – nem mencionado na Bibliografia – e dá ouvidos aos cochichos de um ilustre depoente especial, gravados em doze fitas K-7, com que a filha do mesmo acaba de presenteá-lo, conforme confessa (pág. 15).



Ao falar do interesse dos americanos na situação brasileira nem de leve tem coragem para mencionar entre os eventos marcantes a ajuda aos seus atuais patrões – os Marinho – com o empréstimo de duzentos milhões de dólares do poderoso Time-Life, como forma de fortalecer um grupo que notoriamente se opunha a um presidente que ameaçava jogar o Brasil nos braços de Moscou. (pág. 59/62).



Assis Chateaubriand sempre achou que nessa estória havia o dedo do então embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Roberto Campos, que nega o fato em suas memórias. A ajuda aos donos da Globo iria minar o predomínio das Emissoras e Diários Associados e fazer nascer um novo império na mídia brasileira.



E aí vão alguns tópicos para a Companhia de Letras incluir na revisão de uma próxima edição, se o quiser e se houver:



- a 1ª DIE da FEB na Itália pertencia ao IV Corpo de Exército americano. O 5º era o Exército do general Mark Clark de quem o capitão Vernon Walters fora ajudante de ordens (pág. 61);

- A Artilharia Divisionária/3 não era em Porto Alegre e o general Barra que a comandava não era o Rubens – que, como coronel servia em Curitiba – mas seu irmão Newton (pág,90);

- Almirante Vermelho era o apelido pelo qual era conhecido na Marinha o almirante Paulo Mário da Cunha Rodrigues, da Reserva, nomeado ministro nos estertores do governo Goulart e como conseqüência da revolta dos marinheiros, e não o almirante Aragão, chamado “o Almirante do Povo”.



A julgar pela versão dada pelo general Cordeiro de Farias em seu depoimento para Aspásia Camargo e Walder de Góes, sobre o que se teria passado em Curitiba nos idos de 64, sua versão encampada por Elio Gaspari de que “o Exército dormiu janguista no dia 31 e acordou revolucionário no dia 1º”, precisa ser colocada de quarentena. Aquela versão, meninos eu vi!, é inteiramente equivocada. Além disso, o então comandante da Região Militar, general Dario Coelho, fez publicar dias depois um relatório sobre os acontecimentos que desmente a versão do general Cordeiro.



A partir da página 130, o autor inicia um exercício de “chutometria” numerológica a respeito dos presos, mortos, exilados etc. Apresenta dados desde os da embaixada americana até os que, anos depois, surgiriam do livro de dois farsantes – Nilmário Miranda e Carlos Tibúrcio – intitulado “Dos filhos deste solo”.



A citação desse livro feita no final da longa nota de rodapé que tomou o nº 8 (pág.132) dá uma idéia do nível de empulhação que perpassa a obra. A referência cita a página 311, como apoio ao que diz sobre a morte do coronel Alfeu de Alcântara Monteiro. O caso desse oficial se encontra à página 561 e registra uma das muitas mentiras do grosso calhamaço editado com o dinheiro do PT (Editora Perseu Abramo) e sobre o qual vale a pena nos alongarmos, pois dá a medida do que se fez na tal Comissão de Mortos e Desaparecidos.



Ali consta que “Alfeu era coronel aviador. Foi fuzilado no dia 4 de abril de 1964 na Base Aérea de Canoas no Rio Grande do Sul. A perícia médica constatou que foi assassinado pelas costas com uma rajada de metralhadora, tendo sido encontrados 16 projéteis em seu corpo”. Em setembro de 1997, a Comissão concedeu indenização aos familiares do coronel, cuja viúva já recebia pensão militar, com o voto favorável do general Oswaldo Pereira Gomes, que, em entrevista à Folha de São Paulo de 7 de junho de 1998, disse:



“ (...) Houve um caso de um militar janguista que se rebelou num quartel do Rio Grande do Sul. Ele foi morto e a Comissão votou o processo em que ele teria levado 16 tiros pelas costas. Era o coronel Alfeu de Alcântara Monteiro. O pedido de indenização foi aceito. Eu mesmo aprovei o caso. Na verdade, depois de o caso ser apurado, fui descobrir que o coronel não tinha levado 16 tiros pelas costas, mas sim um tiro, após tiroteio (...) O que foi para o relatório “Brasil Nunca Mais” foi essa versão de 16 tiros pelas costas, o que é uma inverdade. Houve muitos casos como esse.”



O general era o representante das Forças Armadas na Comissão. Suas dúvidas sobre esse processo deveriam ter sido tiradas antes da votação, para que pudesse dar seu voto com absoluto conhecimento de causa, como é o mínimo que se espera de qualquer juiz. Elas seriam tiradas se, simplesmente, ele consultasse o IPM que, na época, apurou o fato. Se consultasse teria tomado conhecimento do que ocorreu: o brigadeiro Nelson Freire Lavanère Wanderley, acompanhado do coronel aviador Roberto Hipólyto da Costa, chegou à então 5ª Zona Aérea, em Porto Alegre, para assumir o comando, que deveria ser transmitido pelo coronel aviador Alfeu de Alcântara Monteiro, oficial mais graduado presente. O coronel Alfeu, amigo pessoal de João Goulart, após recusar-se a transmitir o comando, atirou e feriu o brigadeiro, sendo morto com um tiro de pistola 45 pelo coronel Hipólyto, em ato considerado como de legítima defesa de outrem. O coronel Hipólyto foi absolvido pela Justiça Militar. (jornal “Ombro a Ombro” de julho de 1998).



É assim que a esquerda conta a estória dos “anos de chumbo”, agora com o auxílio do tortuoso discípulo do Golbery.



As estatísticas do livro do Gaspari, fazem lembrar as elucubrações que ainda se fazem a respeito do número de índios que havia no Brasil quando da chegada de Cabral ou da falsificação numerológica sobre a população do Paraguai ao iniciar-se a guerra da Tríplice Aliança e que alimentou os inventores do mito do genocídio. “Chutometria” alucinada de burocratas que tinham de preencher e mandar relatórios. No território da 5ª RM, os presos não passaram de 20. Devem ter considerados como presos os que fugiram por nada, os exilados voluntariamente e os que se esconderam. Diz o autor que em três anos (1964/66) passaram pelas embaixadas cerca de 500 asilados. Os dados sobre as intervenções nos sindicatos e confederações, além de fantasiosos e confusos, são ridículos (pág. 131).. Misturam-se e embaralham-se dados para confundir o leitor e aumentar o número de páginas do calhamaço. Se nem o nome certo do órgão punitivo existente na ocasião eles sabem direito, com acreditar na veracidade do que escrevem.



O autor é mais um sujeito que não sabe que a comissão chefiada inicialmente pelo marechal Taurino era a Comissão de Investigação Sumária (CIS) e que a Comissão Geral de Investigações (CGI) – órgão para apurar atos de corrupção, só surgiria depois do AI-5, no começo de 1969, e era presidida pelo Ministro da Justiça (pág. 134). E as incorreções se sucedem como a que aparece na página 137, ao falar na crise da aviação embarcada, quando o número de ministros demitidos é mencionado incorretamente. Dado irrelevante, como se poderia argumentar, mas que desacredita o mais que se escreveu. Depois de tantos anos de pesquisa e com o auxílio de computadores e de uma enorme equipe, o livro tem passagens que fazem lembrar o do Barão de Münchausen. O problema é que a mentira, além de pernas curtas, tem muitas faces e a verdade só uma.



E o repórter falsário dos tempos do Galeão reaparece a cada passo, ao omitir detalhes que invalidariam sua tese ou seu raciocínio de uma evidente prevenção contra os militares, apesar de revelar-se um perfeito sabujo dos generais quando isso lhe traria algum proveito. Ao tentar mostrar o que chama de “a anarquia militar”, escamoteia do leitor fatos e circunstâncias relevantes em uma isenta apreciação histórica.



Ao mencionar a alegada rebeldia dos quartéis na vigência da Constituição de 1946 esconde que a pressão que levou o presidente Vargas ao suicídio foi o “mar de lama” que, segundo ele mesmo constataria envergonhado, corria por baixo do Palácio do Catete e que resultara no assassinato de um major da Aeronáutica por um sicário a serviço da guarda pessoal do próprio presidente. Que o impedimento dos senhores Café Filho e Carlos Luz foi necessário para abortar um golpe que pretendia impedir a posse do presidente eleito Juscelino Kubstichek (pág. 140).



Com o mesmo ânimo encampa a notícia falsa publicada em agosto de 1964 pelo Correio da Manhã, de que “o advogado e ex-deputado paranaense Walter Pecoits, que organizava camponeses na região de Cascavel, ficara cego de um olho, seis dias depois de ter sido preso pelo Exército”. O acusado de ter causado a cegueira no médico foi um oficial da Polícia Militar; a área de atuação do político do PTB não era Cascavel – que em outro ponto do livro é colocada a 200 quilômetros de Curitiba, quando fica a 500 – mas bem longe dali, em Francisco Beltrão/Paraná e Pato Branco/Paraná, onde em 1959 houve um levante de posseiros e, finalmente, fontes insuspeitas declararam que o médico já era quase cego da vista e usou a alegação da violência - que realmente ocorreu – para beneficiar-se politicamente e depois pecuniariamente do fato. (pág. 144). E perfilha, algumas páginas adiante, as estatísticas sobre tortura do famoso projeto Brasil: nunca mais, montado sobre a alegação geral e total dos terroristas e guerrilheiros - por instrução de seus advogados - para nos Juízos Militares derrubar as confissões feitas na fase de inquérito – algumas de próprio punho – alegando sistematicamente as terem feito sob maus tratos.



Curiosamente, uma das exceções foi a famosa Bete Mendes, a Rosa da VAR-Palmares, autora de falsa acusação ao coronel Carlos Alberto Ustra, em 1985



O autor, apesar de ter se tornado um “lambe-graxa” do Golbery, é um crítico feroz do SNI e tenta justificar o porquê de seu pretenso criador tê-lo chamado de “monstro”. Mas atribui ao órgão um pecado que não foi dele e mostra, mais uma vez, que quando se trata do Paraná, é mais mal informado do que o habitual.



A escolha do deputado Leon Peres para governador biônico daquele estado foi uma conspiração palaciana urdida junto ao presidente Médici por gente que se acotovelava no Palácio do Planalto, figurantes de um dos muitos círculos que se criavam na Brasília daqueles tempos – de que fazia parte o deputado e que o Sr. Roberto Médici em depoimento sobre seu pai apelidou de “clube inglês” - e nos quais se entreteciam os arranjos, onde os sócios trocavam elogios mútuos, procurando valorizar-se. E se o SNI chegou a fazer tudo o que o autor menciona (pág. 170/171) deveu-se principalmente ao “uso do cachimbo” que lhe impingiu Golbery e que deixou “a boca torta”, de que o próprio Gaspari dá um exemplo ao afirmar que um oficial de Marinha - cujo nome menciona - lhe mostrara em 1976 um informe do mesmo SNI, exemplo da intimidade que o jornalista gozava com gente do “monstro” em plenos “anos de chumbo”. Arcades ambo, como diriam os latinos e que se pode traduzir por “canalhas ambos”.



E a torrente de mentiras prossegue ao tratar o livro extensamente (pág. 191/196) da tentativa de guerrilha do “exército brancaleone” de Jefferson Cardim Osório, um “porra-louca” para os seus contemporâneos na Escola Militar e que, no episódio, recebia ordens do ex-sargento da Brigada Militar gaúcha, Alberi Vieira dos Santos, como ficou constatado na apuração do evento. Começa, ao dizer que ao atingirem a divisa do Rio Grande do Sul com Santa Catarina, “os guerrilheiros tinham o Exército no encalço”. O “exército” eram dois majores que tinham recebido a missão de rastrear e acompanhar à distância o bando.



A “viagem rotineira” do presidente Castello Branco era um importante evento para a época, qual seja a inauguração da Ponte da Amizade, iniciada por JK e que, ao contrário dos que fariam anos mais tarde com as grandes iniciativas deixadas pelos governos dos generais-presidentes os revanchistas odientos, fora continuada e concluída. E de repente, no relato “eliano” e como soe acontecer nos seriados históricos da TV Globo, o entrevero entre os aprendizes de guerrilheiro e a tropa legal viaja dezenas de quilômetros e muda-se para “as vizinhanças da cidade de Cascavel, duzentos quilômetros a oeste de Curitiba”.



E aí termina a ignorância geográfica de quem não sabe a verdade e começa a falsificação torpe de quem se empenha em difamar o Exército Brasileiro. Não pelo episódio da prisão que poderá ter acontecido, com o destempero do capitão comandante da tropa ao prender um dos responsáveis pela morte acontecida há pouco de um de seus sargentos e defrontar-se com alguém - que certamente não conhecia - sem farda, mas sobre o qual teria descarregado sua justa ira. A partir daí, volta a funcionar a fábrica de mentiras do discípulo do Ibrahim Sued; e vêm as torturas em três quartéis, a desconfiança de Castello com a rapidez das confissões – certamente sob tortura - e a comparação com episódios históricos de 22 e 24.



Jefferson Cardim durante sua longa prisão foi tratado com tanta consideração que conseguiu que comparsas seus armassem, por causa disso e explorando suas regalias, uma fuga espetacular que descrevi em um capítulo do meu livro, “Nos “porões” da Ditadura”, já citado acima. A apontada “rapidez das confissões” (prisão em 28 de março e leitura do presidente em 13 de abril) indicativa de uso de tortura é notícia do pasquim porto-alegrense Coojornal, de dezembro de 1978, o que por si só já desqualifica a afirmação, não fora a tolice de considerar que o prazo de quinze dias fosse motivo de espanto para a difusão de uma informação. E a comparação entre a ação de desatinados a serviço de uma potência estrangeira e subsidiados por dinheiro cubano com as tropelias internas de descontentes com um governo que os perseguiu, enquanto pôde, é descabida, mas coerente com tudo o que o autor assoalha em toda a obra, quando, sistematicamente, escreve que os de um lado “morrem” e os subversivos, terroristas e guerrilheiros são “assassinados”.



E para terminar esse exaustivo exame, embora parcial, de A Ditadura Envergonhada vale a referência comparativa com o que o autor chama a “Roda de Aquários”. É emblemática a leniência com que o autor trata a violência dos desordeiros americanos - que era reprimida sem contemplações pela polícia e que mais adiante motivaria severas medidas contra a indisciplina nos “campi” universitários – com a decisão com que os governos pós-64 enfrentaram a guerrilha urbana e a luta armada comunista em nosso país.



A obra de Elio Gáspari vem a lume no justo momento em que a democracia americana – atingida em seu próprio seio pelo terrorismo islâmico – adota medidas de salvaguarda que deixam o nosso AI-5 como um mero regulamento de colégio de freiras e onde os “porões” da ditadura brasileira - que tanto incomodaram certos círculos da terra de Tio Sam e muitos ditos brazilianistas – ficam a parecer um “jardim de infância” se comparados com os de Guantanamo...



(*) Raymundo Negrão Torres é general reformado e autor do livro 1964 – Uma Revolução Perdida .”





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