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Artigos-->PORTUGAL : de País de emigrantes a País de imigração -- 19/06/2001 - 16:34 (Gabriel de Sousa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Hoje fui cortar o cabelo. O barbeiro era brasileiro. Conversámos bastante. Ele é de Minas Gerais, trouxe a esposa e não pensa voltar ao Brasil a não ser de férias: – « A vida está preta! ». Gosta de cá estar, mas continua a estranhar os invernos muito rigorosos, o frio e a chuva. A língua (sotaque) nem sempre é compreensível à primeira e claro as saudades apertam quando pensa no seu Brasil e em alguns familiares e amigos que lá deixou. A irmã, com curso de advocacia e funcionária do Estado, ficou no Brasil e ganha pouco mais do que o ordenado mínimo aqui em Portugal. E nós não somos propriamente um país rico ...

Tudo isto me fez pensar no fenómeno das migrações e da memória curta dos homens. Movimentos minoritários xenófobos e racistas agitam-se, de vez em quando, contra a presença de estrangeiros no nosso país, culpando-os umas vezes de serem factores de perturbação da ordem pública, outras de estarem a «roubar» empregos aos portugueses ...

No entanto, se recuarmos um pouco na história (e não será preciso recuar muito), veremos que os portugueses também emigraram em massa e – quase sempre –foram bem tratados nos países de acolhimento.

Havia aqueles que eu chamarei de «emigrantes definitivos e de sucesso». Aqueles que saíam da Europa. Justamente para o Brasil, Venezuela, Estados Unidos da América, Austrália e, claro, também para as antigas Colónias ... Quase sempre bem integrados, talvez à excepção dos Estados Unidos onde a maioria mantém os seus hábitos e tradições , vivendo bem mas num mundo quase á parte.

Os outros eram os «emigrantes provisórios», talvez os emigrantes mais recentes, que fugiam da miséria a que o fascismo fizera chegar o País. Iam para outros países da Europa, sobretudo para França, Alemanha, Luxemburgo e Suíça. Com um objectivo bem fixado. Ganhar o máximo e regressar. Mesmo à custa de terem mais de um emprego, viverem isolados em condições degradantes (os célebres bidonvilles) e deixando muitas vezes para trás as mulheres e os filhos. Depois da queda do fascismo e da entrada de Portugal na Comunidade Europeia, as coisas modificaram-se um pouco e pelo menos as novas gerações acabaram por se integrar perfeitamente nos países onde estão, adoptando até, muitas vezes, a respectiva nacionalidade.

Com o fim das guerras coloniais e a independência das antigas colónias assistiu-se ao regresso dos antigos colonos ... Uns regressando à mãe pátria, outros indo para os países africanos que ficavam mais perto e que, na época, lhes ofereciam mais segurança. Outros (uma vez ainda) rumaram ao Brasil.

Bem ou mal, todos foram absorvidos. E em breve, eis que passamos de país de emigração a país de imigração. Começaram a vir e, em força, os cabo-verdianos. Vêm para Portugal, raciocinando da mesma maneira que os portugueses da década de 60 que rumaram à Europa. Ganhar o máximo de dinheiro para mandar à família e um dia poderem voltar à terra natal. Seguiram-se os africanos das antigas colónias, alguns indianos e paquistaneses que por lá viviam, estes já mais ligados ao comércio. Mais tarde começaram a chegar os brasileiros – talvez os mais bem-vindos. Perfeitamente integrados. Mesma língua. Nós percebemo-los bem ... Ou não tivessem havido as telenovelas como percursoras ... Já o contrário não é tanto assim, mas com o tempo vai. De passagem houve um pequeno problema com os dentistas, mas que se resumia mais a um problema de equiparação de habilitações e de defesa corporativa dos colegas portugueses do que a um problema sentido pela população . Hoje há brasileiros em todo o lado ... Muitos empregados de restaurantes, de boutiques, mas também gente bem qualificada e todos bem integrados.

Nova vaga, já mais recente, foi dos países do leste, sobretudo ucranianos, russos e moldavos. Coitados, estes, muitas vezes não enquadrados nas suas habilitações. Não é difícil encontrar um professor ou engenheiro, subaproveitado, trabalhando na construção civil ou qualquer coisa similar. Para acabar, houve a devolução de Macau à China e uma «pequena vaga» de chineses – a maioria comerciantes. Mas são muitos. E com a família toda, não necessitando assim de recrutar empregados ...

Aqui deixei, em traços muito largos, como Portugal se transformou de país de emigrantes em país de imigração.

Ilação a tirar é a de que o Mundo dá muita volta ... E que a memória dos Homens não deve ser curta ... Aceitemos que os jovens de hoje desconheçam todos estas mudanças e acontecimentos, mas haja alguém que lhos lembre. É que os imigrantes que hoje vivem em Portugal têm o direito de ser tão bem tratados e recebidos, como o foram os portugueses de antes da era de 70.

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