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Artigos-->Epístola sobre o futuro da relação entre homem e mulher -- 04/06/2003 - 12:48 (Clóvis Luz da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Em um tempo futuro, se for possível que os homens se tornem mais gentis com as mulheres, e elas, mais pacientes com seus amantes, tendo em vista o atual e crescente grau de diluição dos afetos, é desejável que emane um novo modelo de relação, baseada na compreensão dos limites do amor entre um homem e uma mulher.



A partir de então os homens não mais aspirarão por mulheres que os entendam em todos os maus momentos da vida, que não exijam deles sua mais absoluta atenção, carinho, respeito e devoção. Não mais desejarão conhecer apenas mulheres que os motivem a tentar novamente, quando errem, e os elogiem, quando acertem em suas decisões. Os homens também não mais desejarão mulheres que em todo o tempo permaneçam bonitas, cheirosas e sorridentes, porque saberão que isso é impossível. Nem que sejam imunes às variações do humor quando seu organismo resolver se comportar de forma diferente da habitual e as cólicas menstruais aumentarem fabulosamente e as mulheres se comportarem como um porco-espinho pronto a cutucar qualquer um que se aproxime. Os homens compreenderão que as mulheres são muito inteligentes, ou muito estúpidas, dependendo do momento em que delas se exija resposta a uma indagação complexa. E que alternam momentos de extrema lucidez com outros de inquestionável ingenuidade, de extrema doçura com outros de ferocidade irracional, de ternura materna com outros de indiferença assassina. Compreenderão também os homens que as mulheres nem sempre gostam de ser tratadas com polidez, sendo preciso, à vezes, que um berro furioso (há os de contentamento, ora pois...) as desperte de sua letargia emocional, e as faça retornar ao estado desejável da convivência amigável. E que, com mais freqüência do que o convencionado nos séculos passados, os homens saberão que para algumas mulheres uma ameaça de agressão física pode ocultar um reprimido desejo de amar e ser correspondido, negado aos homens por um desses momentos de instabilidade que acometem mulheres de têmpera volátil. Os machos, até então condicionados a dar apenas quando recebem, passarão a se precaver contra o egoísmo doentio e decidirão não mais reclamar quando suas mulheres, por razões desconhecidas, os enxotem sem ao menos reconhecer o esforço empreendido por eles para torná-las os seres mais dignos do universo. E toda vez que as mulheres não reclamarem por não receber um presente, os homens entenderão que elas atingiram um grau de maturidade inaudita, pela qual não mais serão vistas as comuns cenas de explosões iracundas sempre que os varões esquecem-se de comemorar as datas mais significativas para as mulheres, como o dia de seu nascimento, o dia em que se conheceram, quando começaram a namorar e o dia do casamento.



Por essas novas diretrizes, os homens compreenderão muitíssimo bem que as mulheres sempre exigirão deles que estejam totalmente dispostos a atender os reclamos do corpo feminino, cujo despertar, sendo um processo lento, necessita ser respeitado em suas etapas lógicas, não podendo os homens partir para os atos epilogais sem passar pelos prologais; e isso, eles saberão definir, quer dizer que as palavras carinhosas e os toques lentos e calorosos farão as vezes de emolientes a penetrar suavemente nos poros femininos, até que a dureza de seus músculos se verta em maciez quase líquida e deixe amplamente expostos os flancos de suas fêmeas intimidades. Mais ainda entenderão os homens que nem sempre é possível conquistar a fortaleza mental das mulheres, situação que as torna inexpugnáveis quando não querem o contato, de qualquer natureza, com o sexo oposto. Entenderão que, compenetradas em assuntos de maior gravidade, como o novo namorado de alguma beldade televisiva ou o novo penteado da vizinha, as mulheres os escutarão, mas não os ouvirão, enxergar-los-ão mas não os verão. Saberão que eles estão ali, postados em sua frente implorando atenção, ou nem isso, só talvez uma respostazinha qualquer, e suas palavras passarão pelos ouvidos de suas mulheres como se fossem fios de vento ao encontro de generosas janelas, tendo como resposta uma aquiescência típica de quem quer logo ser livrar do incômodo inquiridor.



Por seu turno, as mulheres não mais sonharão encontrar homens nobres que as tratem como rainhas, cobrindo-lhes de atenção e devotado amor. Saberão as mulheres que os homens dessa estirpe se perderam nas páginas de romances como o Dom Quixote, no qual se estabeleceu que o cavaleiro deveria ser o mais honrado, o mais sábio e corajoso, para poder lutar por seus semelhantes. Saberão elas que os príncipes encantados não resistem à realidade que anula o encanto, transformando-os em sapos asquerosos e horrivelmente feios. Aceitarão ainda a dura verdade que é serem os homens tão covardes diante de uma dor física qualquer que o desejo supremo delas quando tomadas de ódio mortal por eles é que os homens pudessem engravidar para sentirem a dor do parto. Elas têm absoluta certeza que nenhum homem veria o rosto de seu recém-nascido! Para sua enorme tristeza, as mulheres entenderão que amor não é conceito unânime entre homem e mulher quanto à semanticidade, sendo, para os homens equivalente a sexo, e para as mulheres, o seu oposto.



Saberão ainda as mulheres que os homens são, na aparência, distintos uns dos outros. Contudo, para a enorme decepção delas, naquilo que essencial, na fonte da qual emanam os sentimentos que originam as ações, todos os machos são absolutamente iguais. Dê-se-lhes oportunidades e eles trairão seus mais sinceros juramentos. Mostre-se-lhes como transgredir os votos sagrados erguidos sob os olhares de um ministro ou de um padre, e cada homem, seguro de que não será descoberto, terá enorme prazer em abocanhar a fatia do bolo que a outro pertence. As exceções à regra confirmam a regra, não a anulam. E disso as mulheres terão tanta consciência que elas próprias se encarregarão de divulgar a seus homens que eles serão livres para terem outras mulheres, desde que também dêem liberdade para suas mulheres terem outros homens. E como isso hoje não ocorre, nada de visível no horizonte nos permite admitir ser possível que as relações atinjam esse nível de consciente e consentida paridade na infidelidade mútua em dias vindouros.



Terão ainda as mulheres plena condição de definir o que é essencial que seus homens façam e o que pode ser deixado em segundo plano sem que isso indique serem eles a personificação do fracasso e da negligência. Por exemplo, se um homem ao voltar do trabalho à meia-noite não se dispuser a levar o lixo para fora, ou, depois do banho, deixar a toalha molhada em cima da cama, a mulher compreenderá que essas ações não representam uma provocação em razão de ter a esposa o dia inteiro trabalhado feito uma escrava cuidando da casa e das crianças. Ela saberá distinguir essas idiossincrasias típicas dos homens daquelas negligências mais severas e, realmente, provocadoras, como o fato de não corresponder a um beijo, a um olhar ou a uma palavra tão solícitos quanto imperativos. Isso sim será um erro imperdoável. E, quando a mulher procurar seu homem e este recusar-se deitar com ela, mesmo havendo milhões de razões para que ela deduza ter ele satisfeito seu apetite tendo comido em prato alheio, sem que ele o declare, ela não poderá acusá-lo sem provas. Pois poderá ser que a falta de apetite do homem seja por outros motivos, afinal, nosso organismo nem sempre recusa alimento por antes já ter-se locupletado, mas exatamente por estar doente e sem disposição alguma de se curar pelo alimento. A analogia cabe quando se admite que uma relação pode estar precisando se curar não pelo sexo, mas por remédio de maior eficácia e alcance, que é o diálogo, a conversa baixinha na cama, privilégio restrito aos que confiam no amor seu e do outro.



Serão essas as novas diretrizes das relações entre um homem e uma mulher no futuro. E que esse futuro seja antecipado para os que hoje supõem não haver solução para o amor se convençam ser possível a felicidade para dois que se amam.

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