Pode um pastor evangélico afirmar que não crê em Deus, na ressurreição e na vida eterna? Na Dinamarca, sim. Thorkild Grosboell, 55, que foi ordenado pastor há 25 anos, declarou-se ateu, não se sabe premido por quais crises de consciência. É o mesmo caso hipotético de um médico que receitou remédios aos seus pacientes com doenças gravíssimas e pugentes sem crer que pudessem curá-las ou aliviar as dores, ou do advogado que defendeu seus clientes condenados à morte sem crer que a lei pudesse ser aplicada em favor deles. É algo de todo modo incrível. Mas é verdade.
Um homem como esse deve estar muito arrependido de ter perdido 25 anos de sua miserável existência tentando convencer pessoas a crer em algo em que ele mesmo não acredita. A cada vez que ele dizia: Deus é bom, ou, Cristo salva, sua mente padecia de uma tortura indizível, à semelhança de quem, para sobreviver, submete-se aos mais cruéis sacrifícios que se possa imaginar. Deve ter sido esse, então, o motivo pelo qual o pastor ateu manteve-se calado. Não podia abrir de sua fonte de sobrevivência.
Graças a Deus, esse homem poderá viver em paz o resto de seus dias aqui na terra. Talvez a misericórdia divina o ajude a ter a fé que o capacite a chegar ao paraíso, onde terá a chance de encontrar algumas das pessoas para as quais mentiu durante 25 anos. Caso contrário, saberá ele que o inferno de Lúcifer e mais real que o de Dante, e que o purgatório é apenas uma fantasia literária das bula papais, sendo-lhe tarde demais, se seu destino for o lago de fogo e enxofre, para arrepender-se. Afinal, de boas intenções e arrependimentos tardios o inferno está cheio.
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