Obs. preliminar:
De Schiller, com suas "Cartas para a educação estética da humanidade", passando pelo grande florescimento das escolas de arte, das academias de arte na Europa da virada do século, o século XX viu renascer, entre os absurdo das duas grandes guerras, as esperanças de que a humanidade, pelo amadurecimento estético, pudesse superar os impasses que a levaram tão longe no caminho da destruição. O expressionismo alemão, a Bauhaus, entre tantas outras iniciativas de vanguarda, de certa forma não fizeram senão retomar essas idéias do aprimoramento espiritual, de que a humanidade deveria resgatar as suas aptidões estéticas reprimidas. Para eles, todo homem é artista. Apenas não acordou para o seu enorme potencial.
Entre 1983 e 1985, freqüentei o Instituto de Estudos Brasileiros (USP), no encalço das íntimas relações entre o expressionismo alemão e a vanguarda brasileira. Mário de Andrade foi assinante de alguns dos órgãos informativos desses movimentos vanguardistas europeus. Constam do seu arquivo exemplares da revista Der Sturm.
Transcrevo abaixo os parágrafos finais de "Educação das energias artísticas" (Erziehung der künstlerischen Kräfte), texto de Lothar Schreyer publicado no décimo quarto ano da revista Der Sturm, caderno 10, em outubro de 1923, pp. 145-148.
Trad.: zé pedro antunes
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"Amigos! Nenhuma decisão ocorre sem sacrifício, nenhum conhecimento, sem renúncia. Porém, a decisão do homem só é correta, quando, através dela, ele luta contra o seu próprio erro, e não contra a irracionalidade dos outros.
A luta contra si mesmo, a purificação do que seja mentiros, é uma purificação do homem interior. Quem vive essa purificação, nele brilha a força da vida como uma luz.
Essa purificação é educação da nossa vida interior.
Precisamos abandonar com firmeza o errado. Ter paciência com aqueles que cometem a falsidade.
Se fazemos o certo e formamos a nossa obra sob a imposição de uma boa consciência, atuamos, nós mesmo, como seres humanos. Com absoluta certeza."
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Em breve, o leitor terá acesso ao texto completo, bem como ao texto de Herwarth Walden "Sentido e Sentidos", publicado na mesma revista em maio de 1923. |