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Cronicas-->2008 - Carcule -- 20/07/2009 - 21:58 (Jairo de A. Costa Jr.) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Depois de almoçar na Vila Rezende e dar umas voltas pela cidade, estava voltando pela Cássio Paschoal, quando próximo da Rodovia do Açúcar, vi duas imensas carretas, pela terceira faixa. Uma entrou na minha frente, outra segurou e eu passei, pi-pipi, pam-pam, nos cumprimentamos, fiquei no meio das duas. Das novas, eram duas Volvos quatrocentos e quarenta, uma trucada e outra simples. Passei a primeira, pi-pi, pom-pom. Tchau, um abraço, fiquei com elas na cabeça pensando - Fião, cêviu, os Vorvão aí... Assim meu pai teria começado uma conversa comigo.
Meu pai sempre tinha uma história prá contar, de uma forma muito peculiar, que fazia dele uma pessoa formidável, pois este era um adjetivo dele e definia sempre o máximo de bão. Perto do formidável, ficava o ispeciar. Nunca defini qual era o primeiro, pois dependia muito da entonação e do causo, só sei que eram coisas boas. Essas carretas aí são ispeciars. Primeiro que são Vorvãos, pois Volvo sempre foi Vorvo e Vorvo tem história. Vou te contar. O compadi Nérsopreto trabalhava com uma Vorvo, daquelas primeiras, que caminhãozão. Viu, terra de Vorvo era ali pelo lado de Bragança, tinha uns italianãos, que puxava carga prá Belo Horizonte só co´as Vorvo. Ninguém pegava.
O compadi Santino tinha Mercedão, passo longo, ligeiro, viajava só pro Sur. Uma época, sessenta e cinco, eu acho, ele era o Mazzaropi, agregado na Ristar, contador de história e anedota, participou de um concurso - O Rei da Estrada, da Gazeta Esportiva. Ficou em segundo lugar, com jeito de primeiro. Quem ganhou foi o Zé Mineiro. Fião, o compadi Santino era formidável. Carcule, saindo de São Miguel, ficou conhecido nesse Brasilzão todinho. Um formidável com um ispeciar era tudo de bão. Imaginem, então, com um carcule no meio. Ó, carcule o quanto o compadi Santino era bão mesmo
Vou te contar uma coisa, carcule o Vardomiro saindo de São Paulo com o seu Arfão carregado prá Recife, e ele só saia depois do armoço. O Vardomiro era forgado, estava com a vida mansa. Carcule aquele Arfão, tó to to tó... escute, os Arfas não andavam, no máximo trinta, quarenta por hora. Carcule, o dia inteiro, nem trezentos quilómetros, oi qui, era uma desgraceira só. Carcule quando quebrava. Mesmo assim, o Vardomiro era formidável.
Viu, Edna, uma vez eu tava com o Compadi Iraí, sujeito bão, mas bão, precisava ver, ele trabalhava com um Arfa Romeo, assim, ele introduzia a pessoa na sua história e contava - paramos lá em Lajes, prá dormir, já era umas deiz da noite, estrada de chão, uma canseira e uma fome. Encostamos e entramos prá comer. Tinha uma alemoazona, forte com uns braçãos - queremos uma janta. Ela esquentou tudo o que tinha e póis prá nóis. Tinha um polaco, polacão forte, era o marido dela, sentou cumnóis e começou a contar... aí foi longe e comemos gostoso, tinha umas sarsichona, umas linguiça... dormimos gostoso.
Alemoa, Italianona e Polaca definiam as mulheres do Sur e no Norte ele ficava com as Mineirona, Mineirinha, Baianona, Negona e por aí afora, sempre com o maior respeito. Nunca desdisse de nenhuma delas. Eram todas casadas e de bem com a cozinha. Na época do Wadi, aqui em São Paulo, tinha as turcas, no caso sempre turcona. Carcule, eram todas formidáveis. Ainda mais quando ia buscar móveis pro Compadi Jorge, este sim ispeciar e formidável, vou te contar.
Ó Cida, to indo lá pro Taquarábaxo, buscar carvão. Na vorta, quero um arroiz com frango, aquele ali, ó, o rajadinho. Ele vortava tarde da noite, tomava banho no tanque. Carcule, podia ta o frio que tivesse. Depois jantava o arroiz com frango, pegava uma marmita e amanhecia prá São Paulo. Às vezes ia visitar a mamãe, levava umas coisas do Mercadão pro armoço. Fui criado com mãe, pai, vó, vó, tia e tio. Meu pai não. Foi criado com mamãe, papai, titio, titia, vovó e vovó e em todas as suas histórias eles entravam, mas só assim - papai, titia, vovó... Ele começava - Papai saia de Sete Barras ou Titio João Quirino ou Mamãe ou Vovó. Era engraçado e gostoso de se ouvir. Ah, tinha o Armeida, seu irmão.
Até aqui era tudo prá cima, positivo. Formidável, ispeciar, vou te contar. Tem idéia do contrário, carcule então. O que definia o ruim, o coisa ruim. Quando ele queria menosprezar a situação, vinha com o arcaide. O sujeito mais arcaide, sai de baixo, este sujeito aí não valia nada mesmo. Aquela polacona serviu uma costela com batata, que coisa mais arcaide que eu já comi. Os Arfa de antigamente, os caminhão mais arcaaiideee. Vejam só - arcaaiiiddee, aqui era o máximo do desconforto. O formidável que fazia uma contrariedade virava um arcaide de marca maior. Aquele Zé Mineiro que ganhou do Compadi Santino, era um sujeito mais arcaide do mundo, não valia nada, o arcaide viu.
E quando ele embrabecia, tinha que sair moendo da frente. Depois se acarmava. Só minha mãe que não gostava e dizia de vorta - isso é sanguinário, seu ribeirano. Mas, ele sempre achou ela formidável e ispeciar, mesmo quando ela achava ele um arcaide. Só um jogo de palavras. Sempre se acharam ispeciars e formidáveis. Carcule o tanto. Carcule!
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