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Contos-->A loucura, por um louco -- 27/07/2001 - 12:48 (Clóvis Luz da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O problema da loucura, senhores “normais”, é exatamente especificar, definir, estabelecer os limites entre a realidade e a fantasia. E não apenas em termos poéticos ou filosóficos, como também cientificamente. Alguns estudantes de psicologia, em suas teses, definem a loucura como uma inversão radical do conceito de mundo, no sentido em que este que conhecemos tem uma face real, factível, tangível, como também se apresenta em formas e conceitos fantásticos, oníricos, que decorrem daquela materialidade, não sendo menos reais ou importantes (falo por mim) na mente de um louco, tornando-se um todo, um elemento homogêneo, sem distinções ou divisões, dando sentido à minha consciência (que vocês julgam ausente por completo), a ponto de falar com alguém que somente eu enxergo - e em minha mente esse interlocutor é tão real quanto para vocês que, “em sã consciência”, ao avistarem pedra, uma árvore ou um cachorro, sabem-nos verdadeiros.

Delinear com precisão o que é realidade ou fantasia é obra muito complexa, porque todos os “normais” sonham, lucubram e ‘“viajam”. Ás vezes, quando vocês estão com “a cabeça nas nuvens”, na verdade estão criando imagens que os remetem a uma realidade que muitíssimo desejam fossem presentes em suas vidas, não é certo? Como por exemplo, um jovem que sonha em ser um grande jogador de futebol. Quantas vezes esse jovem não se “enxerga” no Maracanã, dando dribles fantásticos, fazendo gols maravilhosos, ouvindo a torcida, alucinada, gritar seu nome? Por um instante, aquele sonho o afasta da realidade material em que vive, levando-o a gozar, realmente, uma alegria que aquele instante de fantasia lhe proporcionou, logo evaporando quando um toque ou uma voz o faça “voltar à terra”. Portanto, não raramente, uma pessoa é muito mais feliz quando se ausenta de sua realidade, buscando o conforto em situações irreais. Que loucura!

Nós, considerados loucos, estando absolutamente alienados daquilo a que chamam realidade, profundamente absortos em nossos delírios, somos mais felizes, realmente, do que as pessoas normais. Vocês questionam: “pode um homem se sentir completamente feliz ao forjar em sua mente situações ideais que, por causa da alegria delas oriunda, negue-se ao retorno à realidade, ali se refugiando para sempre?” E podem concluir que fomos, necessariamente, dirigidos à loucura por algum insuperável trauma, uma absurda decepção, ou qualquer das muitas ruínas que acometem os seres humanos, e tal constatação os levará à outra: a de que a vida fora da loucura é tão feia, tão estúpida e infeliz, que não há razões para nenhum homem jactar-se em sua racionalidade.

Podem ainda abordar a questão da loucura afirmando que os insanos são um perigo à sociedade, pelas seguintes razões: essa felicidade que nós loucos afirmamos existir nos momentos em que nos alienamos da realidade nas fantasias é apenas um lapso enquanto deliramos, que não redunda em paz de espírito, pois, tão logo dissipada pelas tormentas da insanidade, ela cede lugar ao lado negro dos sonhos, das utopias, dos delírios, que suplanta infinitamente qualquer bem que possa produzir nos homens dominados pelas diversas anormalidades psíquicas.

Vocês “normais” podem ainda invocar como prova do mal que um insano representa aos demais homens um dos loucos mais famosos da História, Hitler, que, ao idealizar uma nação ariana superior, não mediu esforços para atingir esse objetivo. Os milhões de judeus sacrificados, vocês dirão, são amostras perfeitas da crueldade humana, quando a loucura fermentada pelo poder delirante afoga a razão por caminhos de trevas indissipáveis.

Eu respondo: a contradição é a mais nobre característica do homem. Se não fossem os loucos como agradeceríeis a Deus pela sanidade que ele preserva bondosamente em vós, pois louco é o que diz em seu coração: “não há Deus.”
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