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Artigos-->Nem todos somos culpados -- 05/05/2003 - 10:36 (Carlos Luiz de Jesus Pompe) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A qualidade da música popular brasileira piorou, dos anos 60 do século passado para cá. Foi o que denunciou, no lançamento de seu novo CD, Contemporâneos, o cantor Dori Caymmi, que lamentou: "Eu dizia que essa história de pop ia piorar tudo. É o que se ouve agora na MPB. Deixamos virar uma droga. Bons músicos, como o cantor Renato Braz, estão escondidos. É culpa de minha geração, que não educou direito os filhos. A gente não mostrou para eles a boa música, eles cresceram e foram gritar na garagem".

Há evidente exagero no desabafo do músico. Não basta mostrar, em casa, bons exemplos de conduta ou gosto para formar humanistas com critérios estéticos refinados. Pais e educadores conscientes se esforçam por inocular valores de solidariedade, de tolerância, de justiça social nos filhos e educandos e enfrentam uma luta desigual contra os preconceitos sociais e políticos, a valorização do individualismo e da ganância imposta como valor dominante da sociedade atual.

Também não é uma questão de geração. Mesmo nos anos 1960, artistas como o próprio Dori, Edu Lobo, Tom Jobim, Egberto Gismonti, Hermeto Paschoal, Caetano, Gil, Rita Lee, Joyce, Erasmo Carlos e Roberto eram contemporâneos de inúmeros cantores e compositores que alastravam preconceitos, cantavam loas à ditadura militar etc. Quando o país estava sob o tacão do general Emílio Garrastazu Médici, em 1970, as rádios transmitiam a apologética Eu te amo, meu Brasil, de Don e Ravel, e também tocavam Apesar de você, onde Chico Buarque cantava que ia "cobrar com juros" todo sofrimento imposto pelo ditador de plantão.

"Ainda viro este mundo em festa, trabalho e pão", bradavam, em 1965, José Carlos Capinam e o atual ministro da Cultura, Gilberto Gil, logo após o golpe militar. Festa, é verdade, os brasileiros faziam e fazem. Mas a virada do mundo não aconteceu no sentido que os autores de Viramundo pretendiam: a ditadura imperou por duas décadas e, atualmente, o desemprego bate recorde e o governo ao qual Gil pertence faz campanha para ver se diminui o flagelo da fome.

Essa constatação não deve levar, contudo, a uma postura de impotência diante da dura realidade de degradação que nos cerca. O ser humano é o construtor de sua história e pode atuar de acordo com as leis próprias do movimento social para direcioná-las num ou noutro sentido. A consciência de que a ação coletiva é mais poderosa do que a atitude individual leva a que muitos se associem em entidades as mais variadas, com os mais diversos objetivos. Atividades solidárias assistencialistas somam-se a empreendimentos reivindicativos, politizadores e à atuação partidária.

Na área da programação televisiva, por exemplo, os privilegiados que têm acesso às emissoras por assinatura são servidos por uma quantidade de programas de caráter científico impensável há poucos anos. Nos canais abertos também são oferecidas algumas atrações de conteúdo progressista e humanista. Mas não são os que mais conquistam audiência.

Em casa e nas escolas, na convivência social e política, no trabalho e nas atividades de lazer é possível disseminar não só indicações de obras de qualidade, mas também criar um senso crítico a respeito dos verdadeiros atentados à inteligência e ao que existe de positivo na relação entre humanos que são veiculados nos meios de comunicação de massa.

A Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal instituiu uma campanha de acompanhamento permanente da programação da televisão para indicar os programas que de forma sistemática desrespeitam convenções internacionais assinadas pelo Brasil, princípios constitucionais e legislação em vigor que protegem os direitos humanos e a cidadania. Essa comissão já divulgou duas listas dos dez programas mais denunciados por atentarem contra os direitos humanos. As denúncias levaram em conta situações como formas agressivas e inapropriadas de apelo sexual, cenas impróprias para o horário de transmissão, exploração por orientação sexual, incitação à violência, repertório de palavrões, sensacionalismo, violência. Alguns programas apareceram nas duas listas: Big Brother, Cidade Alerta, Domingão do Faustão, Domingo Legal, Hora da Verdade, Ratinho, Sérgio Malandro. Outros apareceram em apenas uma das listas: Falando Francamente, João Kleber, Noite Afora, Sabadaço, Zorra Total.

Mesmo neste caso, é interessante notar o contraditório: a comissão, que tem participação de entidades não governamentais, é uma criação da Câmara dos Deputados que, por outro lado, não aprova uma legislação que estabeleça um código de ética para a programação televisão, já que os congressistas detêm quase 80% das concessões de TV e rádio e não vão mexer no que está dando lucro.

E é aqui que surge a pista da "crítica do gosto": os interesses e os gostos dominantes de uma época são os interesses e os gostos dos setores dominantes dessa época. Mas sempre há o "coro dos descontentes" - daqueles que procuram um outro rumo, um outro caminho, uma alternativa diferente para a trajetória de suas gerações, que buscam mudar a relação de poder e de domínio.

Como anuncia Belchior no seu A divina comédia humana: "Enquanto houver espaço, corpo e tempo e algum modo de dizer não, eu canto".
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