A passagem do incrível Uri Geller pelo país teve as proporções de um tornado. O homem transtornava, entortava tudo. E tudo com o poder da mente. Naqueles idos, a palavra "mente" era obrigatória, extremamente obrigatória, para ser dita e ouvida sempre de olhos esbugalhados. Havia cursos até. Mente quem diz que ela não carregava consigo um aparato poderoso, toda a coleção dos advérbios de intensidade em "mente" por exemplo. E, além do poder da mente, há que se dizer também, havia um poder maior ainda no ar, o da televisão. E era pela televisão que o homem entortava tudo, o que era ainda mais extremamente espantoso.
O telespectador era convidado a segurar uma colher na mão, por exemplo, um garfo ou faca, sei lá, um objeto qualquer passível de não resistir à força daquela mente espantosa. Na época ainda não havia essa modernidade toda que a sucessão de Fernandos veio nos trazer, com todos esses riscos de alguém requerer depois indenização por danos irreversíveis.
Mas, como eu não ia dizendo, foi em Sorocaba que aconteceu um fato memorável, de todos o mais espantoso. Se dele terá tido notícia o prodigioso Uri Geller? Dessa sua façanha maior? Pois aconteceu com o Décio, é ele quem nos conta e garante, um cunhado meu que mantinha, por dever de reconhecimento talvez pelos inestimáveis serviços prestados, um ferro elétrico enferrujado, há anos sem conhecimento de calor e serventia, entre guardados os mais diversos no quartinho do quintal.
Pois não é que o ferro, insistamos em todo caso, elétrico, naquela noite histórica, é bom que se repita, para a televisão então definitivamente vitoriosa em terras brasileiras, não é que começou a pegar a Rádio Cacique de Sorocaba?!
Pois então, aconteceu. É o Décio, meu cunhado, quem nos conta e garante. Eu mesmo só estou repetindo, dando de barato o que ouvi.
Não, claro que não. A Rádio Cacique eu não ouvi. Refiro-me ao relato, ao que ficou dito, ao que ouvimos todos tantas vezes pelos anos afora. Não, não presta duvidar. Tem gente que caçoa. "É por isso que acontece tantas castrofe por aí", diria uma amiga minha aqui de Araraquara.
Todo causo é sempre um causo sério. É engraçado. Bom assim. A vida continua. |