Usina de Letras
Usina de Letras
158 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62266 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10450)

Cronicas (22539)

Discursos (3239)

Ensaios - (10379)

Erótico (13571)

Frases (50658)

Humor (20039)

Infantil (5450)

Infanto Juvenil (4776)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140816)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6203)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cartas-->Amor, um perigo doce -- 05/03/2005 - 17:01 (Rodolfo Araújo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Bastam os primeiros feixes de luz invadirem as frestas da persiana para que a saudade levante os olhos e abrace meu corpo sem que eu possa me defender. Luto contra os lençóis virgens do contato de sua pele, mas tão inúteis são meus esforços que logo enterro a face sobre o macio travesseiro que por tantos meses aguarda seu repouso. Assim começam meus finais de semana, famintos e de chapéu estendido por sua companhia, que ecoa, mas não bate à porta musicalmente, tal qual sua voz.
O amor, magia inexplicável, furor com cheiro de mar que se espraia pelas veias, devastando as nódoas de consciência restantes, raptando cada tecido para um inferno doce, de labaredas escarlates, pulsantes, estranhamente desenhadas segundo dos ditames eclesiásticos de seus contornos. Justamente agora, que não a tenho entre meus dedos, é que os sinto capazes de traçar seu rosto. Faço isto no ar e percebo que ganha forma e perfume. Aroma de sua boca, flor lasciva, carnívora, suburbana, angelical e oculta. Nada pode superar nesta vida a maciez de lábios tão alimentados de sabedoria, detentores das frases mais contundentes, pois dizem exatamente aquilo que retumba em meus sonhos. Tudo, ainda, com o fundamental olor da chuva que deixa como rastro o frescor propício para um encontro casual, daqueles em que as pupilas simplesmente se chocam para, instantes depois, serem únicas em um beijo memorável – ou melhor, melhor ainda! - rememorável.
Presto atenção a seus movimentos quando menos imagina. Estender do braço, ajeitar de penteado ou um mero passo descuidado em que quase desaba dócil do salto. Admiro sua ansiedade aguardando a comida do restaurante ou a expressão distante de quando espera que eu chegue ao ponto de encontro. Em certos momentos, valho-me de algum tempo parado, observando-a estática, única, somente para ter a certeza absoluta de que tamanha luz será, dentro de poucos segundos, minha. Os prédios perdem a essência carrancuda desta metrópole que me traga nos novelos de fumaça, do alcatrão e nicotina tão peculiares e que, por tantos segundos, já uniu nossas palavras.
Aguda saudade dos cafés vespertinos em que as conversas tornavam-se mais leves e, delas, escapavam confissões e segredos que somente um padre poderia ouvir – e guardar. Impossível sentar-se àquelas mesas brancas e não a esperar. O café esfria, ninguém aparece.
Desaprendi a escrever. As palavras, estas danadas, derreteram no fogaréu de desespero que se tornaram as alvoradas órfãs de seu som, tão dócil no cair das noites anteriores. Os poemas secaram na palma das mãos, a música entrou em recesso. A alma entrou no fúnebre cortejo dos que vêem o amor despedir-se sem data para voltar. A tinta acabou.
E, quando decidir fechar as malas e rumar para um destino anônimo – tão indefinido que não me foi concedido o direito de conhecê-lo -, arrefeci. Ao primeiro passo para fora da porta, um dedo segura-me pela camisa. Um canto surge no ouvido como um sussurro adolescente. Um sorriso tão apagado reluz mais uma vez. É você, personificação do amor, materialidade das contradições que me empurram adiante. Mulher que, do alto do pecado residente na delícia original de seus poros, arrasta no andar um sotaque de menina, num tom a ser perenizado e colocado sob a guarda de cristais lúcidos e inquebráveis.
Tanta devoção parece destituir a imagem de um homem de qualquer senso mínimo de auto-amor. Entretanto, qualquer expressão é pobre e mesquinha para desnudar a real essência de um ser humano tão infinito que mal cabe em um só universo. Único problema que não sei como – nem se devo - resolver: esta mulher é minha sócia!




Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui