Este causo veio de Itaberá. Quem trouxe foi o Mauricinho, irmão do Gonza, da Cecília, do João, do Zé Maria. Eles que, um a um, vieram bater no meu pedaço um dia, nesse que foi o meu chão, minha terra, que depois deixei, Manchester Paulista,
Sorocaba.
Pois o Mauricinho contava de um sujeito, de cujo nome ora não me arrecordo (e este "me arrecordo" é mesmo pra já ir entrando no clima de quem conta um causo), daqueles que viviam, como se diz, sempre a hora e a tempo, na rua do comércio, no centro de qualquer uma dessas pequenas grandes cidades do interior paulista, a rua que sobe, a que desce, a rua que vai, a que vem, a igreja, o campo de futebol, o cartório, o cinema, a venda, o boteco, a farmácia, a escola, o "sumitério".
E, sabendo de como batia naquele tipo um convite que fosse para pegar em batente, serviço a mais, e pesado, ele que ficava por ali assuntando, naquele coça-que-coça que dava o dia, querendo, por que queria, que o mundo, se ele um dia acabasse, que ele acabasse de preferência em barranco, tratavam, é claro, de insistir com os convites mais esquipáticos, estapafúrdios, disparatados, marotos mesmo, ofensivos até, a se julgar pela brabeza com que o freguês, pronto, reagia.
E havia, como em todos esses causos, uma senha, um abracadabra, pra que a resposta não falhasse, a cachorrada se soltasse, um fuzuê dos diabos se instalasse. No caso, era dizer "ocê que taí meio à-toa".
Pois deu-se que, um belo dia, depois de tantas outras tentativas de oferecer uma resposta à altura daquela baixeza, o sujeito tava mesmo inspirado, com a corda toda, com a macaca. Pegou o mote e, para todo o sempre, feita a buril, lascou esta preciosidade: "Eu tô à-toa, mai num tô disponíve", que ficou sendo um bordão do próprio Mauricinho, e de quantos mais não fossem de ferro, na hora de exorcizar inimigos do ócio, sempre de plantão, contumazes desmancha-prazeres do sempre mui digna, legítima e duramente conquistado sossego alheio.
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