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Teses_Monologos-->Reflexões Usineiras (8) -- 04/10/2001 - 20:32 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ridícula e patética essa história dos argentinos, de eliminar, em homenagem a Diego Maradona, a camisa 10 da seleção do país. Don Dieguito permaneceria em campo, suponho, pela ausência. Fosse eu jogador dessa seleção, protestaria, é claro. Só poderia me sentir desrespeitado.

Mais rídicula e mais patética ainda a reação dos jornais noturnos da Globo e do SBT, que, no dia seguinte, ecoava pelas primeiras páginas de vários jornais. Como o release deve ter sugerido e os editores dos jornais prontamente passaram a salivar, seria extremamente oportuno acirrar os brios nacionais com a pergunta, amparada por dados comparativos acachapantes, se não caberia fazermos o mesmo com a camisa 10 do REI DO FUTEBOL, mesmo com a nossa atual seleção literalmente caindo pelas tabelas como está, ou talvez por isso mesmo.

E o voodoo que vem cercando os nossos Ronaldos, Ronaldinhos e Ronaldões prossegue. Ronaldinho Gaucho já está fora. E todo mundo sabe que, com Ronaldo contra o Chile, o Brasil vai ter, se não um salvador da pátria em campo, com certeza um salvador do milionário contrato com a Nike. Aos torcedores mais crédulos, todos com a alma no papo, e aos amantes da catástrofe, uma pitadinha a mais de suspense malevolente ao longo dos mais que prováveis tediosos e violentos 90 minutos de jogo.

Com a nova novela da Globo, não é difícil prever, nos próximos 10 meses, uma geração inteira de meninas atendendo pelo nome de Jade, todas, é claro, com um aninho a mais que as Cristal. E já ouço, no futuro, o grito de uma das espectadoras fiéis de logo mais, em alguns anos, no portão da casa: "Jadiiiiinha, já pra dentro!"

Pra quem não conhece, a dica de uma revista imperdível: ARTE & INFORMAÇÃO, editada pela FAAP.
Mas, a julgar por Araraquara, será preciso insistir com as distribuidoras, ou chegar a ela por meio de assinatura. Depois de algum tempo sem notícia, adquiri o número 6, cuja matéria de capa é o CUBISMO. Aqui, em Araraquara, ela circulou só até o número 4 (DADAÍSMO). O número 2, que não tenho, falava sobre o FUTURISMO italiano, e o número 3, sobre o Expressionismo alemão. A revista é um acontecimento editorial, com excelentes reproduções. Nem os nossos livros sobre arte têm conseguido tal qualidade. O exemplar custa R$ 6,00 reais, só 20 centavos mais que cada um dos nossos incontáveis pedágios.

Newton Ramos, tradutor renomado e membro do grupo de discussão online sobre Teoria Crítica, que ontem me enviou o texto do Eduardo Galeano, depois de ter lido a entrevista do Gore Vidal ( textos jurídicos e artigos ), só lamenta que a citação de Macbeth não tenha sido uma outra, como podem ler numa passagem do e-mail que transcrevo abaixo:

"Nossos" intelectuais andavam meio desligados quanto à situaçao humana nos atuais contextos, mas parece que o ataque por terroristas (para mim, "indefinidos") parece tê-los acordado. Não reconheci o trecho de Macbeth citado pelo Gore. Por que o desgraçado não se utilizou de um outro bem mais forte como o do Ato II (poderiamos usar, em português, a tradução do Manuel Bandeira): Lavaria o grande oceano de Netuno esta mão ensangüentada? Não! esta minha mão é que faria vermelho o verde mar de pólo a pólo. "

Finalmente, alguém se atreve. Lionel Jospin, informação que me chega de oitiva, teria declarado não ser Ossama bin Laden o único suspeito. Mas... quem?

Os jornais da noite também faziam saber, ontem (26/09/2001), que os estragos na ilha de Manhanttan ainda estão longe de terem chegado à consumação. Há indícios (os jornais televisivos sempre contam com a presença de algum cientista brasileiro e com os efeitos especiais da simulação eletrônica, sempre contundentes) de que uma enorme área ao redor das ruínas do World Trade Center poderá ruir nos próximos dias.

Movido por uma enorme expectativa, fui rever ontem, pela enésima vez, o filme "Eine Stadt sucht den Mörder" [Uma cidade procura o assassino], do grande Fritz Lang. O título, em português, é um acontecimento: "M, o vampiro de Düsseldorf".

No cartaz do filme e na capa da fita de vídeo, o olhar de Peter Lorre (foi ator da companhia de Brecht), com a letra "M", de "Mörder" (assassino) escrita a giz no paletó preto.

A cena final, quando uma assembléia de mendigos, afetados em seus proventos pelos assassinatos de crianças perpetrados pelo tal "vampiro" da tradução brasileira, é obrigada a ouvir um discurso impressionate de autodefesa do acusado. O discurso, na verdade, acaba funcionando como uma peça da acusação. Só que contra a assembléia julgadora.

A seqüência inicial inteira é uma aula de estética expressionista, com o uso do preto e branco e do jogo de luz e sombra, cinema puro, levados a uma culminância raramente alcançada no cinema em todos os tempos. O filme não mostra o assassinato e nem o corpo da criança assassinada, apenas uma bola aparece rolando sozinha, num pequeno declive um pouco abaixo daquela que intuímos como sendo a cena do crime. Em seguida, a câmera flagra um balão de ar preso a um poste de iluminação, preso à fiação. O balão imita um boneco. A menina o recebera de presente, um pouco antes, das mãos do suposto assassino. Deste, na verdade, até ali, só tínhamos visto a sombra, projetada exatamente sobre um desses cartazes de busca, oferecendo uma quantia em dinheiro para quem o identificasse. A sombra aparece, nele projetada, enquanto a menina, distraída, joga, sozinha, a bola contra a parede onde ele se acha afixado.

Mas que decepção com a cópia comercializada pela Editora Altaya, de tão maus serviços prestados com suas outras coleções de música ou literatura. Simplesmente colaram uma tarja com a legenda em português sobre a legenda em inglês, que sempre continua visível. Não é fácil ter algum prazer com tantos ruídos acumulados sobre uma só fita de vídeo: o som do original (alemão) é indiscernível, e a maçaroca das legendas ocupa, muito desagradavelmente, todo o campo inferior da tela, para não falar das perdas com que já arcamos, de resto, nas laterais. Haja!

Com a exibição, à exaustão, das imagens do atentado terrorista contra as torres gêmeas, Hollywood parece ter perdido suas últimas esperanças de ainda se manter como fábrica de sonhos. Ultimamente, mais uma fábrica de pesadelos, voluntaria ou involuntariamente produzidos, essa é a verdade. Num certo sentido, foi também um atentado contra o poder sobre as imagens por parte de Hollywood. A vida real recupera, dolorosamente, sua capacidade de produzir imagens significantes.

Aqui, em Araraquara, alguns colegas empenham-se em organizar uma passeada pela paz. A minha sugestão é de que todos os cuidados sejam envidados no sentido de evitar baderna (!!!). Em outras palavras, não permitir que a situação brasileira, esta nossa guerra nunca declarada, contamine esse louvável e denodado esforço de alcance internacional.

Alguns leitores parecem ter recebido muito mal as minhas "reflexões usineiras". Um deles, com um pedido encarecido para que seu nome não seja citado, chega a ironizar: "já que você reflete tanto". Ao final de um e-mail antológico, um ato falho impressionante: "Não sei por que, deus-me [sic] vontade de te mandar estas palavras." Não valeria a pena falar dos pseudônimos tonitruantes, sempre à espreita, sempre em busca de uma oportunidade para aliviar seus recalques. Tento não demonstrar receio, respondendo a todos com a mesma isenção e amabilidade.

E sigo refletindo, em nome dos muitos leitores que me acompanham nesse esforço, e apesar dos inúmeros outros que não ousam ou não querem declinar seus nomes.



Fico muito grato ao Rodrigo Contrera, pela indicação, aos demais autores e leitores do usina , das traduções que fiz e publiquei ontem (entrevista com Gore Vidal e texto de Eduardo Galeano). E um agradecimento, muito especial, pela mensagem que me enviou, para mim, de enorme significação neste momento.

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