Continuo a receber mensagens de leitores, cada qual expondo suas dúvidas e inquietações com este momento obscuro e vergonhoso que vimos atravessando, com este cala-boca quase geral que nos foi aplicado. O U-zine juntou algumas dessas dúvidas e inquietações, simulando uma entrevista.
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- E sobre o despudoramento desse pequeno grupo que está pagando para ser visto? Veja que agora já começam a fazer cômputos do tipo top five .
- O que é que você esperava? Para ver, está claro, eles não pagariam mesmo. Como já afirmei mais de uma vez: O pior cego é o que só quer ser visto.
- Mas há pessoas sérias nesse pequeno grupo, dedicadas às grandes causas da humanidade. Elas acreditam mesmo que pagar seja necessário, que isso faz parte do jogo capitalista etc. etc. etc.
- Bem, volto a uma formulação de outros tempos: Há quem considere o usinadeletras uma sala de bate-papos como outra qualquer. Eu também não. Pergunto ainda se não poderíamos falar, no caso, em grandes causas de desumanidade?
- Estar entre os mais lidos, no teu entender, confere alguma autoridade?
- Os mais lidos também vão ao banheiro, não é mesmo?
- E sobre essa história de que eles estariam, na verdade, de quarentena, eu pergunto: Sofrem de quê?
- Não se sabe. Mas sofrem.
- E ninguém arrisca um diagnóstico?
- Bem, essa cena você vai encontrar numa das edições do "Teatro do Minuto". Está lá.
- E essa nova paixão avassaladora da professora pelo bastião do capitalismo americano? Os dois fazendo a linha Harold e Maude? Seria influência do Big Brother, desses reality-shows?
- A professora, não é de hoje que vive a simular paixões desenfreadas. Está sempre de algazarra com algum bufão voluntário. Já foram tantos! Vamos ver quanto vai durar esse sarampo. Para falar da paixão imediatamente anterior, lanço mão de versos de um alfacinha: "Mar grande, mar salgado, metade do teu sal são lágrimas de um usinal".
- Mas já vai surgindo uma geração usineira com outros paradigmas, com outros parâmetros, outros parangolés, diria um amigo meu.
- Mas quem garante que, por trás desses nomes, haja mesmo pessoas de carne e osso, com sua verdade? Até aqui, só tenho visto aderência. E tem mais, certas entidades são como as mariposas na música do Adoniran Barbosa: "ficam dando vorrta em vorrta da lâmpida pra s isquentá". Também podem desaparecer subitamente. Com Denison Borges, digo, Denison Souza Borges, digo, Punkgirl, digo, etc., foi assim. O grande problema é não haver mais um leque muito variado de atuações no quadro . Fica parecendo que aquilo ali é uma escolinha modelo. Cada novato se vê na obrigação de repetir os trejeitos e cacoetes desses gatos pingados. E o jogo fica muito fácil, não é mesmo? É sopa no mel, como diziam os cariocas antigamente. Vaselina pura.
- Acredita mesmo que o quadro de avisos devesse permanecer oculto? Que só se mirassem nesse espelho os narcisos pagantes?
- Claro. Por que essa covardia de ficar exibindo as nossas piores mazelas? Afinal de contas, eu e tantos outros temos os nossos leitores. Eu também tenho colocado o site como referência do meu trabalho. E já tenho recebido, inclusive, reclamações iradas a esse respeito. Pessoas que não se conformam. Como assim? Aquilo não é um site literário coisa nenhuma. Aquilo é uma bobagem. Como você se permite? Por isso mesmo, repito, essas pessoas, despudoradamente, estão pagando para ser vistas. E isso implica não apenas em não permitir que os outros sejam vistos, como em impedir que sejam vistos cada qual com sua grandeza. Os parâmetros universais não desaparecem assim por um decreto venal, que passa a borracha em tudo. E eles querem ser vistos não importa como. É claro, vão ser vistos com o que têm de pior, ainda mais agora que perderam as suas principais referências. Aliás, alguns deles são mesmo bastante adesivos, aderem ao que vier. Já foi assim com os patrocínios e com os destaques. Viram como isso desmanchou no ar?
- Em outros tempos, já te acusaram de exagerar nas críticas aos colegas usineiros, lembra-se?
- Claro. Exagero se combate com exagero. Parece que, infelizmente para nós todos, o meu exagero tem se revelado bastante realista. Só tenho acertado na mosca. Ou, se quiserem, nas moscas.
- Você está há tanto tempo no site, é um dos mais antigos e persistentes, não chega a se esquecer de coisas acontecidas em outros momentos?
- Olha, eu não me lembro de nada que eu já tenha me esquecido.
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