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Artigos-->Difamação não-intencional -- 28/04/2003 - 10:16 (Carlos Luiz de Jesus Pompe) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Tom Grimes, da Universidade Estadual do Kansas (EUA), e Jeff Gibbons, da Universidade de Winsconsin-Madison, através de um experimento com espectadores de telejornal nos EUA, demonstraram que a visão preconceituosa sobre alguns assuntos contribui para deturpar as notícias, quando contadas pelas pessoas que as assistiram na TV. Esse fenômeno seria culpado pelo chamada "difamação não-intencional". Segundo Grimes, "quando um policial negro é mostrado prendendo um criminoso branco, alguns telespectadores podem se lembrar dele como sendo o criminoso, e depois difamá-lo". A pesquisa vem sendo realizada desde 1996 e também constatou a "difamação não-intencional" contra mulheres e minorias sociais dos EUA.

Nas emissoras de rádio e TV (não só norte-americanas) multiplicam-se os estereótipos contra os diferentes. Aliás, é bom deixar claro o que é "igual": homem, caucasóide (divisão étnica que inclui grupos de povos nativos da Europa, Sudoeste da Ásia, Norte da África, ou seus descendentes com pele entre as cores clara e morena, de cabelos finos, variando de lisos a crespos). Diferentes, portanto, são as mulheres e os nativos de outras regiões do planeta e com outras características físicas. A condição sócio-econômica e a opção filosófica, religiosa, sexual, política e comportamental também são utilizadas para classificar — e discriminar — "diferentes".

Preconceitos arraigados já levaram muitos estudiosos a alimentar discriminações, inclusive dando-lhes pretensas "bases científicas". O assunto é tratado com acuro pelo paleontologista Stephen Jay Gould no livro "A falsa medida do homem".

Chega a ser covardia colher exemplos de discriminação na programação de rádio, TV e nas páginas da Internet, tal a sua profusão. Vez por outra, a segregação preconceituosa desponta de fontes inesperadas. José Graziano, ministro da Segurança Alimentar e Combate à Fome do primeiro presidente operário do país — um nordestino! —, numa reunião com industriais paulistas no início de 2003 deixou escapar: "Temos de criar emprego lá (no Nordeste), temos de gerar oportunidade de educação lá, temos de gerar cidadania lá, porque, se continuarem vindo para cá (Sudeste), vamos ter de continuar andando de carro blindado". Depois penitenciou-se sobre a gafe de ter associado os nordestinos à criminalidade: "Eu jamais pensei que, na minha vida, eu fosse viver um momento como esse".

Esta perola é também de autoria inusitada: "Igualdade para negros! Bobagem! Até quando, no reino de um Deus suficientemente grande para criar e governar o universo, continuarão a existir aventureiros para vender, e tolos para divulgar uma demagogia barata como esta?" A indagação foi escrita em 1859 por Abraão Lincoln, que no ano seguinte foi eleito presidente norte-americano e é lembrado como aquele que emancipou os escravos de seu país.

No livro "Crania Americana", de 1839, S. G. Morton, um dos cientistas mais respeitados de sua época nos Estados Unidos, afirma que a estrutura mental dos índios "parece ser diferente da do homem branco, e só em escala muito limitada pode haver harmonia nas relações sociais entre ambos" e que, além de resistirem a adaptar-se às limitações impostas pela educação, os índios "são incapazes, em sua maior parte, de raciocinar de forma contínua sobre temas abstratos".

Paul Broca, professor de cirurgia clínica na Faculdade de Medicina de Paris e dono de uma das maiores coleções de crânios humanos no século XIX, escreveu em 1861 que "a superioridade dos europeus em relação aos negros africanos, índios americanos, hotentotes, australianos e negros da Oceania é suficientemente certa para servir como ponto de partida para a comparação dos cérebros".



Outro estudioso francês, Gustave Le Bon, escreveu em 1879 que "as mulheres representam as formas mais inferiores da evolução humana" e "se destacam por sua inconstância, veleidade, ausência de idéias e de lógica, bem como por sua incapacidade de raciocínio. Sem dúvida, existem algumas mulheres que se destacam, muito superiores ao homem mediano, mas são tal excepcionais quanto o aparecimento de qualquer monstruosidade, como um gorila com duas cabeças; portanto, podemos deixá-las completamente de lado".

A pedagoga italiana Maria Montessori deu uma resposta sexista a esse tipo de machismo, em 1913. Ela ansiava pelo dia em que existirão "seres humanos realmente superiores, homens realmente fortes do ponto de vista moral e sentimental. Talvez assim advenha o reinado das mulheres, quando o enigma de sua superioridade antropológica será decifrado. A mulher sempre foi a guardiã do sentimento, da moralidade e da honra humanas"...

O criminalista italiano Cesare Lombroso, ainda hoje muito cultuado por investigadores e policiais brasileiros, afirmava que era possível identificar criminosos através de seus traços fisionômicos. Assim ele se referiu aos ciganos, em 1911: "São vaidosos, como todos os delinqüentes, mas não têm medo ou vergonha. (...) São dados a orgias, encanta-lhes o barulho, e fazem grande alarido nos mercados. Matam a sangue frio para roubar, e já se suspeitou que praticassem o canibalismo."

H. H. Godard, o cientista que introduziu os testes de Q.I. nos Estados Unidos, manifestou, em 1919, grande desprezo pelos operários, "cujo nível (de inteligência) é apenas pouco superior ao da criança, e é preciso dizer-lhes o que devem fazer e mostrar-lhes como fazê-lo; se quisermos evitar desastres, não lhes devemos confiar postos que exijam iniciativa ou julgamento próprios". Lewis M. Terman, outro divulgador dos testes de Q.I., direcionava seus ataques aos excepcionais: "Nem todos os criminosos são retardados, mas todas as pessoas retardadas são, no mínimo, criminosos em potencial. (...) A moralidade não pode florescer ou frutificar se a inteligência continua sendo infantil".

Estes pensamentos estão presentes na sociedade até hoje. Quando os Estados Unidos estavam interessados em anexar as Filipinas, o reverendo Josiah Strong afirmou, em 1900, que a política norte-americana "não deve ser determinada pela ambição nacional nem por considerações comerciais, mas por nosso dever para com o mundo em geral e os filipinos em particular". Os filipinos não tinham condições de governar a si mesmos, pois, segundo ele, a ciência havia demonstrado que "as raças se desenvolvem ao longo dos séculos como os indivíduos ao longo dos anos, e que uma raça não desenvolvida, incapaz de governar a si mesma, reflete tão pouco a natureza do Todo-Poderoso como uma criança não desenvolvida, igualmente incapaz de governar a si mesma".

Trata-se da mesma lógica que levou o governo de George W. Bush a invadir o Iraque, depor Saddam e "levar a democracia" àquela região "atrasada" do planeta...



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