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cronicas-->1984 - La Paloma -- 28/01/2009 - 22:12 (Jairo de A. Costa Jr.) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
"Yo soy la paloma errante que vino aqui em busca de um triste..." foi o que eu peguei de Anacani cantando La Paloma, aqui no You Tube, depois de ouvir várias versões e não encontrar aquela que me pega na alma e me acompanha tem mais de séculos.
Ontem mesmo, indo para Americana, nem sei porque liguei o rádio do carro e apertei o botão número um, claro que na Scala FM, agora em Sumaré, era em São Paulo, também nem sei porque mudou. Pra quem não sabe, a Scala toca músicas orquestradas, dessas de dormir e divagar, mais para os mais antigos, jovens correm dela, mas... enfim.
Ao apertar o número um, uma das versões estava tocando, maravilhosa, viajei e viajei, de estalo voltei àquele momento único, mágico não sei, mas só meu e do meu pai, ali atrás do banco dormindo, cansado tão estava. Acabou a música, desliguei o rádio e fui fazer o que tinha ido fazer.
Feito, peguei o caminho de volta à Piracicaba, o momento me voltou e entendi ele ser único mesmo, acho que nem do meu pai, ele não o vivenciou, apenas esteve ali comigo, fazendo parte do cenário, uma cabine de um scania cento e onze ésse, ano oitenta e um, laranjão.
Caminhão comprado, de sopetão, pelo Gilson lá no Espírito Santo, sem meu pai participar, apenas pagar, isso e mais um monte de entretantos e afins, tudo no início de oitenta e quatro; só sei que larguei o meu trabalho e fui, de férias, de scania viajar.
Na névoa da minha cabeça está a saída de São Miguel, a carga de cimento em Sorocaba, na Ipanema, a viagem, ele ali na direção e eu ao lado, ouvindo as histórias e dirigindo um pouco, por minha vontade e pela dele. Descarga no Cimentão, um café pingado e bolo na padaria, na saída de Cuiabá, já em Campo Grande, mil quilómetros de chão e de companhia um a um, lado a lado.
Estou chegando na noite de trinta de abril de mil novecentos e oitenta e quatro, uma meia hora de estrada e ali a fila da Matosul, a cerealista de soja, na época, das grandes. Gente, que fila. Você saia da estrada principal, pegava uma estradinha, cruzava a frente da balança e ia, ia e ia mais até o fim, manobrava e ficava na ponta daquela cobra de carretas, sem gritar, sem espernear, só esperar. Com um só olhar e uma fala, ele disse - Fião, vá comer naquela barraca, perto da portaria. Fui, lembra do sortido, o prato chamava assim. Pedi um e comi. Voltei e aí, foi ele.
Sentei no banco do motorista e notei que a fila andava, que bom, podia dar uma guiadinha, puxando o caminhão. Meu pai voltou, aboletou-se na cama, ficou quieto, dormiu. Eu ali, fila parada, era troca de turno, ele sonhando. Então eu vi a melhor lua da vida, nossa, uma coisa assim de pegar com a mão, apareceu o tamanho da fila e chegou o dia primeiro de maio. Cenário montado, a fila começou a andar, mexi numa caixa embaixo do banco, eram fitas cassete gravadas em casa. Peguei uma e coloquei no toca-fitas, eram músicas de orquestras e uma delas surgiu e me pegou na alma, como eu já disse. Deixei tocar, voltei, deixei tocar, uma, duas...paramm, pararammm, larammm, meu, era uma versão de La Paloma. Amanheci aquela noite de feriado, puxando o caminhão, meu pai comigo, o scania nas minhas mãos, a lua, sons de soja, sons de scanias, mercedes, volvos e alfas, meus próprios pensamentos e La Paloma costurando tudo. Foi único e mágico momento. Agora eu sei e só meu.
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