À PROCURA DA IDENTIDADE PERDIDA
Acabo de passar por uma experiência que me sinto na obrigação de dividí-la com os brasileiros que vivem, por uma razão ou por outra, fora do Brasil, como também com os que se preocupam com a sua identidade cultural.
Fui convidado recentemente para dois encontros, dos quais participei com curiosidade e sendo o único brasileiro presente. O primeiro foi na Jadeth Gallery, em Midtown Manhattan, para duas horas de poesias de autores latinos, onde a predominância dos participantes era de cubanos. O segundo, mais específico, mais longo e mais extensivo - de nove horas da manhã às oito da noite -, patrocinado pela City University of New York (CUNY) e por The Americas Society, na Park Avenue, era dirigido somente para autores da República Dominicana, chamado “Um Diálogo sobre Literatura e Identidade Cultural”.
Nos dois eventos, uma coisa comum e curiosa: autores procurando sua identidade.
As mesmas perguntas e inquietudes que estou acostumado a escutar entre os brasileiros que por aqui vivem eram ouvidas e repetidas entre cubanos, dominicanos, colombianos, chilenos, peruanos e até um poeta da Galícia que já está em seu oitavo livro publicado: O que estou fazendo aqui? Vale a pena me aculturar em troca do conforto material? Dá para manter a raiz, mesmo vivendo longe do torrão natal? Em que idioma escrever, em espanhol, em português, ou pisar fundo diretamente no inglês, apesar de correr o risco de não bem caracterizar uma obra de sangue latino? Sem querer, ou no subconsciente, nos sentimos inferiores aos americanos na terra deles, então por que continuar escrevendo? Mesmo vivendo aqui há muito tempo, por que relutamos em aceitar a condição de “imigrante” em terra de imigrantes?
Estas, dentre outras tantas perguntas debatidas, foram feitas e analisadas, não só pelos que estão vivendo por aqui há um, dois ou três anos, como também pelos que por aqui já se quedam por quinze, vinte, trinta ou mais anos. A surpresa de todos os que participaram foi a forte presença da nova geração: os que por aqui nasceram ou vieram quando pequenos e dominam mais a língua inglesa do que o espanhol, no entanto, carregam íntimo nas veias a latinidade e se conflitam no mesmo questionamento.
A diáspora existe — e como negá-la? A divisão é viva — não se pode esconder. O questionamento é positivo e construtivo. A vontade de todas essas pessoas reunidas é de colocar toda a sua cultura no “American mainstream”.
De tudo que aprendemos e concluimos é que todos queremos fazer o melhor no que nos sentimos mais à vontade, não importando que seja em inglês, espanhol ou português. O que importa é fazer, e fazer bem feito, criando o que há de melhor em cada um de nós e dividindo esta criação com os nossos semelhantes, mesmo que essa criação e essa divisão sejam apenas a busca da nossa identidade.
© Fernando Tanajura Menezes
(n. 1943 - )
http://tanajura.cjb.net
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