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Discursos-->DESPEDIDA DO BNDES 1987 -- 01/10/2003 - 17:11 (Claudio Peçanha) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
DISCURSO DE DESPEDIDA DO BNDES

PROFERIDO NO AUDITÓRIO DO BANCO

RIO DE JANEIRO, 04 DE MAIO DE 1987


Passado primeiro momento de surpresa, confesso que levei algum tempo tentando analisar meus sentimentos com relação à situação de não mais ser Diretor do BNDES.

Confissões de amor nunca são redundantes, e eu não posso deixar de, neste momento, quando vejo este auditório repleto de companheiros e amigos, reconhecer de público e em alto e bom som, o meu grande amor pelo trabalho desempenhado na sociedade brasileira pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Economico e Social.

Assim, minha mensagem de despedida do cargo de Diretor do BNDES pretende ser essencialmente uma mensagem de orgulho de ter durante tres anos e quatro meses convivido nesta Instituição com técnicos e executivos sempre preocupados com a causa maior do desenvolvimento econômico e social deste País.

Nomeado por motivos políticos, fui talvez o mais técnico dos Diretores.

Técnico-acadêmico por formação, nunca negligenciei os aspectos políticos inerentes ao meu cargo. Mas, coerente com minha convicção de ser a política a mais nobre das profissões (ou artes), eu nunca usei o meu cargo em benefício de objetivos político-partidários da minha família.

Se isto veio significar uma derrota eleitoral cujos frutos agora colho, por outro lado representa um orgulho de ordem moral muita mais importante.

Vocês são testemunhas pessoais de que eu vivi cada dia deste Banco em todas as suas pulsações, em todos os seus níveis.

Democraticamente, participei de muitas reuniões da Comissão de Prioridades, a princípio sob o olhar incrédulo e desconfiado de alguns, mas depois, cada vez mais, como um técnico igual a vocês, um companheiro.

Discuti questões polêmicas em reuniões preliminares do Departamento de Estudos da Área de Planejamento, com o mesmo interesse e naturalidade com que discutia na Reunião da Diretoria as decisões maiores da Instituição.

Há tres anos, desde sua criação, tenho participado das reuniões da COPLAN, o Comitê de Planejamento que sempre defendi, lá colocando natural e abertamente meus pontos de vista, da mesma forma que nos Conselhos de Administração do BNDES (que por sinal passou a ter a presença normal de Diretores após mais de 30 anos, por proposta minha ao Presidente de então).

Religiosa e interessadamente liderei semanalmente as Reuniões de Chefias da Área de Projetos que administrei, assim como estive presente em quase todas as nossas reuniões internas mais importantes.

Mas não foi só com reuniões que me integrei às atividades do BNDES (embora aqui no Banco o dilema sartreano se coloca na questão “faço reuniões, logo existo!”

Dialoguei intensamente com todos, em todos os níevis: Superintendentes, Chefes de Departamento, Gerentes, técnicos, assessores, secretárias, contínuos, democrática e humanamente TODOS tiveram acesso fácil ao Diretor Cláudio Peçanha e puderam expor suas opiniões, suas críticas, seus planos, suas idéias.

Mas meu grande orgulho, se me permitem confessar, foi com o meu relacionamento externo ao Banco.

Quando aqui cheguei, a imagem do BNDES era de uma instituição fechada, centralizada no Rio de Janeiro, seus Diretores de difícil acessibilidade.

“Pela primeira vez na história de Boa Vista, a visita de um Diretor do BNDES” – foi a manchete no jornal local quando lá estive para uma reunião com empresários junto com o Banroraima, nosso agente no Território.

E eu lá fui mais duas vezes depois, reunindo-me com técnicos do Banco, com empresários na Associação Comercial e Industrial, visitando fábricas de biscoitos financiadas pelo POC, micro-confecções apoiadas pelo PROMICRO, fábricas de móveis que compraram equipamentos pela FINAME.

Em tres anos, estive em cada Estado do Brasil pelo menos tres vezes. Gravei mais de 20 “Bom Dia” Sergipe, Alagoas, Rio Grande do Norte, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, etc, incitando pela televisão os empresários locais a investirem, explicando as Políticas Operacionais do BNDES, levando a mensagem otimista dos nossos Cenários.

Fui a todas --- todas, literalmente, sem exceção --- Federações de Indústrias Estaduais, reunindo-me com centenas, talvez milhares de empresários de todo o País, micros, pequenos, médios e grandes, todos mereceram a minha atenção e dedicação pessoal, otimisticamente orientando-os a investir e acreditar no Brasil.

Muito me orgulho deste trabalho de exposição pessoal, mas muito mais me orgulho de ter participado deste trabalho com uma equipe, não só da AP3, mas de todo o BNDES, imbuída desta necessidade de maior transparência de nossas atividades de financiamento, através do fomento.

Na primeira semana quando aqui cheguei, irritei-me quando um executivo do BNDES recusava minhas argumentações sobre a análise do momento econômico brasileiro sob a colocação de que eu falava dqquela forma porque “eu era de fora”.

A expressão “de fora” causava-me a sensação de que os benedenses dividiam o mundo em dois, nitidamente, quase que com uma segregação mental extremamente facciosa.

Recusava-me a aceitar aquilo e dediquei-me intensamente a mudar tal mentalidade.

Na última quinta feira, não pude deixar de me sentir recompensado ao receber um dos nossos Chefes de Departamento, funcionário dos mais conceituados tecnicamente neste Banco despedir-se pessoalmente na minha sala nomeando-me como de fato um “Diretor da Casa”.

Verdadeiramente é como um Diretor da Casa que deixo esta Instituição, não em seu sentido corporativista, mas no sentido mais amplo de ter esposado como Diretor os objetivos maiores do BNDES!

Permitam-me agora falar um pouco da Área que dirigi estes 40 meses, a AP3.

Acho que ela mudou!

Não apenas porque tenha alterado significativamente seu volume de operações, passando de aplicações de 200 milhões de dólares em 1983 para uma previsão de 1 bilhão e 200 milhões de dólares, em 1987!

Não apenas porque ela tenha alterado sua estrutura organizacional através de um processo interno de discussões a um nível profissional e democrático dos mais gratificantes.

Não apenas porque a AP3 tenha passado de um enfoque puramente operacional, para um enfoque mais regional, procurando incentivar as vocações locais no processo de desenvolvimento regional.

Não apenas porque seu relacionamento com o Sistema Nacional de Bancos de Desenvolvimento evoluiu para um nível de companheirismo e compreensão sem precedentes.

A AP3 mudou na mentalidade de seus executivos, técnicos e funcionários e, principalmente, na concepção de seu trabalho pelos demais companheiros do Sistema BNDES.

Isto não foi conseguido por mim, individualmente, foi o resultado de um sério trabalho de uma equipe maravilhosa com quem tive muito orgulho de trabalhar: de um brilhante, competente amigo Adilson Drubscky, passando pelo idealista com realismo José Roberto Soeiro, pelo sisudo Adhemar Moutinho, ao descontraido Paulo Vales e grandes companheiros Shneider e Valença, não posso deixar de mencionar funcionarios denodados que se tornaram meus amigos, pelo trabalho, como Célio, Lirio, Abe, Malu, Pepê, Mauri, Eloy… Não! Não vou citar todos, mas poderia fazê-lo com tranquilidade, porque de todos me tornei companheiro.

Este é um time que está vencendo, e continuará assim com toda certeza, pois muito mais que líder desta equipe, eu fui seu liderado e seu representante!

Aos empresários aqui presentes, uma palavra de fé e confiança no futuro do meu País, neste momento em que as incertezas da política e da economia começam a perturbar seriamente as decisões de investimentos que movem o nosso progresso.

Não esmoreçam! Seus projetos de investimentos são muito mais importantes que nossas análises! Elas só existem por causa de vocês!

Desenvolvimento, quem faz não é Banco, nem mesmo o BNDES!

Desenvolvimento, quem faz são vocês, empresários, com sua capacidade de empreender e inovar, sua coragem, seu trabalho, os empregos que criam!

Nestes quarenta meses aqui no BNDES conversei muito com vocês empresários, o que permitiu aumentar ainda mais minha admiração e minha convicção de que o Estado, as instituições do Estado como esta Casa, devem cada vez mais apoiá-los, para que esta Nação possa melhor crescer, distribuindo adequadamente os frutos do desenvolvimento a todos os cidadãos.

Finalmente, gostaria de dizer algumas palavras a Nildemar Secches, que hoje assume o cargo de Diretor do Banco, após anos de excelentes serviços prestados à Instituição como técnico e executivo.

É extremamente reconfortante ser substituido pelo Nildemar, a quem aprendi a admirar no dia a dia de nosso relacionamento e a quem desejo muito sucesso em sua nova e desafiante função.

“Lá fora,” mas com o coração aqui dentro, estarei torcendo por você, Nildemar, porque assim estarei torcendo por esta Casa que aprendi a amar.

Muito Obrigado!
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