Conto com você, você sabe, e que também pode contar comigo, como eu, hipócrita, adrede acrescentaria.
A vida anda aos trancos e tamancos. Difícil, mais ainda quando não se pode botar a conta na conta dos mui amigos. Amigos a gente vai reconhecendo pelo caminho. Uau, como isso ficaria bem no sotaque daquele ex-goleiro do Real Madrid que já gravou um clip lindíssimo com Zezé di Camargo e Luciano. E amigos não são muitos, ainda bem. Não tem nada a ver esses ajuntamentos de breganejos, isso todo mundo sabe, mas não resiste quando surge uma chamada na tv. E sempre um deles tem voz de criancinha de Centro Espírita. E, além do menos a que já nos habituamos, é bom que se diga, no hai caminos, como queria um poeta dos antigos, nem hai-balançamasnão-cai que nos dê um help na hora de segurar as barras mais pesadas.
E os passarinhos fazem caluda na floresta, como no "Canto Noturno do Viandante". "Viandante", que palavra! Já "andante" foi palavra pejorativa da minha infância, o mesmo que "pedinte", valendo remarcar que "donzelas", talvez merecidamente, sei lá!, numa oração rezada diante do Brazão de Nossa Senhora, tinha qualquer coisa de sacanagem, que nos fazia rir à socapa e à sorrelfa, para depois levar uns trusquiões ardidos e ir pra cama "quente", como também se dizia.
O Choque, por exemplo, bêbado, era um andante, pedinte, e cagava no fundo de um terreno baldio defronte à casa de meus avós, que meu pai chamava de Quartel General, pois dali saíam todos os ditados da boa ordem familiar. Mas o que dizer então de "pegureiro"? Só mesmo em poemas de séculos antepassados.
Mas o poeta é um fingidor, e há que separar a jóia da intriga. E ainda vem o grande Lobo pedir que "chega de verdade". Meu Deus! Além do mais, partes de mim/ se partem se/ partes de mim, como firmou para sempre o genial Tchello d Barros, que tomou doril, chá de sumiço, escafedeu-se desse pântano de salivação nosso de cada dia.
Já em alemão, "Herz" rima com "Schmerz", descobri isso outro dia e achei engraçado, como nada se cria, tudo se deteriora, e estamos conversados. Mora na filosofia, pra que rimar amor e dor? E conversa não vai, conversa não vem, amor são quatro letras que escorrem lágrimas de esguicho, e "Lágrimas lavam lama" era o nome de uma opereta que fazíamos nos tempos de dantes.
E por falar em antanho, meus quixotes e meus sanchopanças de Macondo, Azaraquara e Saramandaia, que se criem, ao menos isso, exércitos de Dantes Alighieris, de Cervantes, de Moliéres, de Da Vincis, de Quevedos, ao menos isso, já que a clonagem humana parece inevitável.
É isso, meu amigo. Se o Leonardo dá vinte... Ainda hoje devo passar pelo enigma de Kaspar Hauser, para ver se consigo entender essa história do gabinete do doutor me abuse e o verdadeiro tom dos contares calligardos. Mas, repito, eu conto com você, meu amigo, caso venham a dizer que foi mentira, que eu não fui gente como a gente, que eu não fui um caso a parte, que eu não fiquei até aqui de merda pedindo pra não fazerem ondinha, que não fui um, um só. Caso venham a cogitar que eu sou divíduo. Ou que fui sonhado, sei lá, criado por alguma cabeça de purungo ou por ouvido que se faz de penico.
Por favor, não fique me olhando desse jeito. Nem ria. Nem tuja, nem muja.
É sério. Nem que a vaca tussa. Conto com você.
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