Usina de Letras
Usina de Letras
170 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62269 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10450)

Cronicas (22539)

Discursos (3239)

Ensaios - (10379)

Erótico (13571)

Frases (50658)

Humor (20039)

Infantil (5450)

Infanto Juvenil (4776)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140816)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6204)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->OS FREDERICOS -- 12/07/2001 - 05:54 (Clenio Cleto) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
OS FREDERICOS

Ontem, o Dirceu, meu ex-sócio no garimpo em Itaituba, no Pará, passou pelo meu apartamento, porém, eu não estava, por isso, resolví visitá-lo hoje. Está hospedado no apartamento dos pais, Jonas e Gracinda, no Largo do Arouche esquina com a Av.São João, em um edifício antigo, porém, de uma conservação impecável. Seu saguão de en-
trada decorado em mogno, grandes espelhos e lustres estilo renascentistas é simples-
mente magestoso.
Como sei que são madrugadores e adoram aproveitar todos os minutos do dia, chego cê-
do, são quase 10 horas. Dna Gracinda, com um sorriso aberto no rosto, atende-me à porta. A sala é enorme com arcos, flechas e tacapes pelas paredes e peles de onça pelo chão, uma mesa de jantar para mais de dez pessoas, um jogo de sofás com oito módulos dispostos em semi-círculo na frente de uma TV de ll8”. Num dos cantos uma mesa coberta de feltro verde para jogos. Dirijo-me à grande janela de onde se observa todo o Largo do Arouche e parte do Centro.
- E aí, véio, tudo em riba?
É o Jonas, com seu l metro e sessenta de altura por 2 metros de circunferência; sua bar-
riga começa debaixo do queixo e desce, num círculo perfeito, até as coxas. Feições deli-
cadas e bonitas, cabeça redonda desprovida de cabelos, é um sósia do ator e dramatur-
go Antonio Abujamra.
Vou ao banheiro e quando volto a sala está cheia de gente, além do Jonas e da Gracinda estão o Alexandre e o Marcos (irmãos do Dirceu), Yen (uma chinesa alta e bonita, na-
morada do Alexandre) e a Lu, linda e deslumbrante.
Devo falar um pouco sobre os componentes da família Frederico. O Jonas, paulistano do Braz, 62 anos, baixinho, gordinho, careca, mulherengo ao extremo (chegou a susten-
tar quatro “esposas” em Estados diferentes), quatro filhos com a Gracinda (três homens e a uma mulher), um com a Maria da Graça (Jonas), um com a Mariana (Isabela) e outro com uma índia do Alto Xingú. Foi mascate, garimpeiro, caminhoneiro, e, atual-
mente fatura com uma seita, da qual é o “padrinho” baseada à beira de um afluente do Rio Xingú, em plena Selva Amazônica, chamada de “O Santo Daime”. O daime é uma bebida extraida da fervura de cipós, raizes e folhas, por destilação. Quando ingerida
provoca nas pessoas um estado de alucinação instantânea, em nível consciente. Experi-
mentei uma vez e entrei em “parafuso”, tive a impressão de navegar pelo Universo com a companhia de Sócrates, Platão e outros filósofos, e, quando passado o efeito da droga lembrei-me claramente de todos os detalhes dessa “viagem”. Em sua aldeia, como ela a denomina, recebe políticos e artistas famosos no Brasil e da Europa. Não trabalha de graça, aliás, cobra alto pelos conselhos e princípios que prega.
Dna Gracinda, paulista de Baurú, 65 anos, ainda ostenta traços da beleza clássica das
mulheres italianas. Quando a conheci parecia-se muito com nossa Virginia Lane, a Vedete do Brasil, dos idos de l940 e 50. Ficou cega do olho direito em virtude de uma surra que o Jonas lhe deu quando descobriu que ela tinha um amante, o primo do Jonas. Seu corpo é esbelto e sua pele lisa e brilhante.
O filho mais velho, o Marcos, é gay assumido, mas, não “tabuleta”, isto é, não demons-
tra sua homosexualidade quando em público. Poliglota (espanhol, inglês, francês, italia-
no, alemão, japonês, chinês, russo, tupi-guarani, árabe, e mais uma infinidade de diale-
tos judeus, australianos e escandinavos) é professor na USP e autor de vários livros pu-
blicados em toda a Europa. É um homem simples e não alardeia sua genialidade...
O Alexandre puxou o pai, muito bonito, fala sedutora, um verdadeiro D.Juan. É massa-
gista (só de mulheres), pre-médico em acupuntura, faz mapas cartográficos, piloto civíl,
amante de cavernas (gostando tanto de mulher só poderia ser espeleologista), em suma, um perfeito gilolô da época do tango argentino. É convencido e petulante, mas, suportá-
vel no seu comportamento ridículo.
O Dirceu, moço inteligente, começou a trabalhar em minha firma com 17 anos, como office-boy, e depois de um ano era meu sócio. Tivemos uma sociedade com um garimpo de três balsas em Itaituba, no Rio Tapajós, onde ainda reside com a mulher, Josélia, e dois filhos.
Deixei a Luiza, a Lu, para falar por último. Ela merece um capítulo aparte...
A conheci no início deste ano quando viajei para Itaituba a fim de assistir ao casamento do Alexandre, filho do Dirceu. Com a idade de 47 ou 48 anos, lindíssima, ninfomaníaca declarada e reconhecida em Santarém onde mora, inspira paixão a qualquer monge senil. Contemplar seu porte de rainha, vislumbrar a aura sensual que a rodeia, ouvir o canto mavioso de sereia quando fala, dá tesão até em defunto... Tivemos um relaciona-
mento em Itaituba do qual nunca esquecerei, verdadeira loucura no sexo e no convívio diário, coisa de outro Mundo...
Voltemos à minha saída do banheiro...
O Dirceu abraçou-me e cumprimentou-me efusivamente no meio de um monte de palavrões, o Marcos foi discreto, o Alexandre apertou demasiadamente os dedos de mi-
nha mão, a chinesa sorriu com simpatia, e a Lu esmagou seus seios em meu peito e bei-
jou-me selvagemente, mordendo meus lábios.
Dna Gracinda, rebolando os quadris exageradamente, trouxe um “balde” de caipirinha e várias cervejas, pois, sabe que não bebo e não suporto bebidas destiladas.
A Lu sentou-se, sem nenhuma cerimonia, sentou-se em meu colo, puxando meus cabe-
los da nuca (coisa que detesto).
A Yen, inebriada pelo Alexandre, parece não entender nada do que acontece ao seu re-
dor. É modelo fotográfico, com mais de l,80m de altura, é um monumento enaltecedor da beleza feminina independentemente na raça. Sua pele parece transparente e os olhos rasgados deixam à mostra duas contas negras da mais bela pedra preciosa. Acompanha com os lábios e as sombrancelhas todos os movimentos e palavras de seu namorado, che-
gando a emocionar-me ante tão alto grau de embevecimento.
Conta-me o Dirceu que está jurado de morte em Itaituba. É um problema serissimo, pois, lá não existe polícia e tudo é resolvido segundo leis morais próprias dos garimpos, semelhantes às leis das cadeias, com exacerbado exagero, julgamentos apressados, condenações instantâneas e execuções sumárias. Em Itaituba só vivem garimpeiros e prostitutas, a moeda circulante é o grama de ouro, a amizade é só comercial. Esse foi um dos motivos porque vendí minha parte da sociedade ao Dirceu e saí de lá. Com minha maneira extrovertida e, as vezes, irreverente, não estaria escrevendo hoje esse texto.
Em mais de 20 anos naquela cidade, o Dirceu acumulou certa fortuna, mas, infelizmen-
te, grande parte está investida em imóveis, o que o impossibilita de mudar-se para outra região (fugir é a palavra correta) e, também, as propriedades dos “jurados” caem de preço vertiginosamente. Para se ter uma idéia, só a casa onde mora, com mais de 500 metros quadrados construidos, à beira do Tapajós, valeria R$ 500.000,00 , as quatro balsas de extração de ouro, R$ 200.000,00, a loja de compra e venda de ouro, R$ 100.000,00. Os dois aviões Csesna poderiam ser vendidos fora de Itaituba, mas, é só. Disse que possui um depósito bancário no valor de 100 mil dolares. Acredito que vai ter que fugir para não morrer e que, mesmo perdendo quase tudo o que tem, vai sobreviver muito bem, muito bem mesmo...
A TV é enorme, cento e dezoito polegadas, é uma tela de cinema. Assisto a uma grava-
ção que o Jonas mandou fazer de uma sessão do Santo Daime. Vejo uma multidão olhando para o “padrinho”que faz uma preleção filosófica agnóstica, a distribuição da bebida entre os presentes, a paranóia coletiva que acomete os participantes... É impres-
sionante, inacreditável... Alguns caem e são pisoteados... outros pulam como marione-
tes... , mas, a maioria, queda-se estática, de olhares parados como que admirada com cenas inimagináveis... No final, ante o “padrinho”, revelam o que viram e sentiram e recebem conselhos. Nessa gravação reconheci várias pessoas: Fafá de Belém, Fábio Jr,
Jacinto Figueira Jr (O Homem do Sapato Branco), Zé do Caixão, Joana Prado (Feiticei-
ra), e alguns políticos desprezíveis que não merecem serem citados.
Admito que o ser humano viva da imaginação e drogue-se para enfrentar a cruel reali-
dade da vida sempre esperando a morte, que é a única coisa absolutamente certa, mas entregar-se a tal ponto... E, o que para mim é inexplicável, não são os pobres, os igno-
rantes, os que não tiveram oportunidades para se educar, que assim procedem! São pes-
soas ricas, sadias, inteligentes (?), famosas, que se arrastam e humilham perante verda-
deiros charlatões e especuladores da fragilidade humana.
O Alexandre fala sobre um mapa que está elaborando da Cidade de São Paulo e diz que vai precisar de meus conhecimentos de informática. O Marcos, também, tem idéias para usar a informática para acelerar a captação de mais dados para seus estudos linguisti-
cos. Teoricamente, posso ajudá-los... O problema é lidar com o egocentrismo do Alexan-
dre e a “frescura”do Marcos.
A cozinheira, que também participou das caipirinhas, entra rindo e pergunta se pode servir a feijoada. Ninguém, ninguém mesmo, lhe presta a menor atenção... Então, ela sai e volta com a toalha, pratos e talheres e põe a mesa...
Com a mesma desatenção todos sentam-se à mesa.
Feijoada, caipinha, cerveja... muita conversa, discussão, conselhos, palpites... um almoço perfeito, digno de algum deus grego ou romano.
- Cletão (é dessa forma que o Jonas me chama), a Gracinda está meio estressada. Você faz aquela massagem nela, mais tarde? O Alexandre não faz porque diz que na mãe não dá!
- Faço, respondo rindo. Por que não fazer massagem na mãe, pergunto-me, será que não dá tesão?
- Só se não apertar meus peitos, comenta rindo a Gracinda. Mas, hoje não dá, quero
que você me leve até Jundiaí pra ver a turminha...
O Alexandre diz que vai deitar um pouco e os olhos rasgados da Yen ficam redondos e a sua transparência facial colora-se de vermelho... O Dirceu está quase dormindo sentado.
O Jonas, a Gracinda e o Marcos dizem que vão até Jundiaí visitar uns parentes e só vol-
tam amanhã. O Dirceu, meio sonolento, diz que vai também.
- Cletão, sei que você é meio chato, mas, vai deitar na minha cama. Descansa e dorme...
Fique aqui esta noite...
Sairam todos e, na sala enorme, fiquei eu e a Lu, que esticada como um gato dormia com a cabeça em meu colo.
Gosto de coisas bonitas e mesmo naquelas menos atrativas procuro alguma beleza, mesmo que seja subjetiva, imaginária, irreal. Porém, olhando para aquela mulher ao meu lado, com a pele brilhando sob gotículas de suor, a carne quente, uma expressão sorridente de satisfação, não precisei utilizar-me de recursos mentais para satisfazer minhas preferências. Mui delicadamente, levantando a camiseta da Lu, comecei a fazer-
lhe cosquinhas nas costas com as pontoas dos dedos, com as unhas. Sua pele arrepia-se e seus músculos levemente estremecem...
Há alguns meses nós vivemos alguns dias de intensa paixão, indecifráveis descobertas para dois seres amadurecidos, sem, no entanto, nos aprisionarmos aos grilhões do fami-
gerado e doentio amor cantado em prosa e verso. Estar apaixonado não é pretender a posse do corpo e da mente do ser amado, é procurar no impossível alguma coisa para
dar-lhe, gratuitamente, sem retorno, sem troco, pelo puro prazer de satisfazer aos seus desejos mais sublimes. Acho que assim, sem egoismos, as enormes forças de nosso DNA
se manifestam na plenitude real dos sentimentos que enobrecem essa espécie diferente de animais que somos. Dos céus caem chuva, raios, meteoros, aviões e cocô de pássaros que em nada contribuem para a satisfação das prerrogativas de nosso ego, chamadas de felicidade. Nós fazemos a felicidade acontecer, sem nenhum esforço, sem escravizar ou acorrentar ninguém às nossas necessidades biológicas ou psicológicas, sem esperar por milagres de deuses. Se aceitássemos a vida como naturalmente ela é, o homem incoeren-
te como sempre foi e será, a Terra seria o Paraiso da Bíblia, a Serpente, um bichinho doméstico e a Maçã, a sobremesa.
Na enorme tela da TV apresenta-se o Clodovil com suas frescuras inteligentes, nos in-
tervalos a Bel, miha filha, com os comerciais do LiquidaMix, em meus braços a Lu. Essa concordância coincidente de acontecimentos é obra de alguém: eu. É na procura da harmonia e não na guerra que está a felicidade.
A Lu acorda (se é que estava dormindo) e, com charme, se espreguiça como um felino.
Sorri. Olha-me demoradamente nos olhos transmitindo-me uma sensação de carinho, de amor, de amizade. Nossos corpos e nossas mentes se atraem...
- Vou fazer um cafezinho..., fala oferecendo-me os lábios, num biquinho, para beijar. Ao levantar-se aperta-me a coxa com as unhas, como uma gata.
Enquanto saboreamos o café, conta-se sobre a acidente no Rio de Janeiro, onde foi par-
ticipar de um simpósio veterinário. No último dia do seminário todos os participantes reuniram-se em uma choperia na Av.Rio Branco e ela foi a um telefone público, na cal-
çada da rua, para ligar para o apartamento da amiga que a hospedava avisando que iria chegar mais tarde do que costume. Enquanto falava ao telefone sentiu alguém encostar-se a ela por traz e dizer “é um assalto, dá a grana...”. Pensando tratar-se de uma brinca-
deira de um dos amigos mandou “não encher o saco”. Sentiu como se fosse um tapa for-
te na bunda e um intenso calor na vagina e coxas, ficou tonta e caiu desmaiada. Acordou no Hospital Souza Aguiar.
Na tentativa de assalto o bandido dera-lhe um golpe de faca entre as nádegas, próximo ao ânus, atingindo a bexiga, perfurando-a. Não foi necessária nenhuma cirurgia, ficou l5 dias com uma sonda e tanto o ferimento na nádega como da bexiga cicatrizaram. Pos-
teriormente foi para Goiania a fim de fazer uma plástica corretiva. Esse foi o motivo de não ter vindo para São Paulo, após o evento, como me havia prometido.
Ouvi o barulho do chuveiro e as vozes e risos do Alexandre e de sua chinesa tomando banho. Pouco depois entraram na sala abraçados.
- Nos vamos pegar um cineminha, cara. Inté...
Sairam rindo.

E-mail: cletotexto@hotmail.com







Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui