Quero aqui apenas registrar um poema de Patativa de Assaré e uma breve introdução. Patativa de Assaré, vez por outra, contrariava interesses de grandes proprietários de terra e, por conta disso, injustamente, era punido. Era ele um defensor da reforma agrária, bem antes mesmo do aparecimento, no Nordeste, das Ligas Camponesas:
"Essa terra é dismidida/E divia sê comum/Divia sê repartida/Um taco pra cada um./Mode morar Sucegado./Eu já tenho maginado/Qui a baixa, o sertão, a serra/Divia sê coisa nossa./Quem num trabaia na roça/Qui diabo é qui qué cum terra?" Por essas coisas era perseguido. E uma das vezes o poeta foi preso. Na cela em frente ficava uma gaiola, exatamente, com uma patativa presa. E ele compôs esses belos versos:
Patativa descontente/
Nessa gaiola cativa/
Embora bem diferente/
Eu também sou Patativa./
Triste avezinha pequena,/
Temos o mesmo desgosto,/
Sofremos a mesma pena,/
Porém, em sentido oposto./
Teu sofrer e meu penar/
Conclamam a divina lei:/
Tu presa para cantar,/
Eu preso porque cantei!
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