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Artigos-->Um erro considerável -- 06/06/2001 - 10:11 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A violência se alastra pelos campos de futebol do Brasil. E, por que não dizê-lo (vergonha na cara nunca foi mesmo o nosso forte), do resto do mundo.



A verdade é que bem poucos desses ditos "campos de futebol" ainda fazem por merecer (eu nunca sei se "jus" tem ou não tem acento) a comparação surrada com "tapetes", ainda que também surrados.



E, pensando ainda melhor, nem mesmo "gramados" seria muito razoável ou cabível. Tal como os campos já quase nada conservam, na maior parte dos casos, de suas raízes vegetais, assim a denominação, já quase destituída de qualquer vinculação com a sua raiz etimológica.



"Gramados" soa, no melhor dos casos, como um eufemismo. Em outros, mais graves, beira a provocação, deboche, ofensa pura. E tome sopapo, porrada, delicadezas muito próprias desse meio refinado que é o futebolístico.



Mas quem pode muito bem falar sobre as conseqüencias de tudo isso, e de cátedra, são os departamentos médicos dos clubes. Ninguém melhor do que eles saberá da real consistência desses "tapetes de grama", ou - apeguemo-nos um pouco ao chão do real - "gramados" que seja.



A medicina, é o que nela muito se critica, não faz senão tratar os sintomas. De raro em raro apenas, vai fundo a ponto de buscar pelas causas. Mas, no caso, convenhamos, bastam os sintomas. Sempre dolorosos, como certos urros de jogadores no instante do abate nos revelam. E numerosos. Aquele pesadelo das torcidas, o joga-não-joga dos imprescindíveis, das estrelas dos times do coração. Os departamentos médicos, só eles, conhecem a fundo o significado de uma outra metáfora tão batida: batalhas futebolísticas. É isso mesmo: "batalhas", com todas as suas "baixas". E já se disse "pelejas", "embates, "esquadrão", "ataques","defesas, enfim, todo um arsenal bélico importado da sempre belicosa Inglaterra. Mas isso foi num tempo em que o futebol muito pouco se parecia com o basquete, por exemplo, ou o vôlei, esportes de natureza pacífica, coisa de almofadinhas.



Hoje, muito acima de todos os (outrora) "tapetes de grama", ergue-se, mas muito acima, e cada vez mais consistente e altaneiro, o aumentativo da palavra. "Tapetão" é hoje, sem dúvida nenhuma, um conceito imbatível. Incorporou-se, por muito usado e difundido, não apenas ao jargão futebolístico, mas à língua portuguesa, em seu atual estado de, digamos assim, abrasileiramento. Por pouco ia dizendo "estado de avacalhação".



Dizemos "o Tapetão", como talvez, noutros tempos, diríamos "o Senado" ou "o Congresso Nacional". Ou seja, com a reverência antes merecida apenas por instituições assim vetustas, inquestionavelmente sólidas e irreprováveis. De se escrever com maiúsculas. Mas, sabemos, os tempos mudaram. E como mudaram!



Mas divago, é isso mesmo, por conta de uma frase que poderia ter passado muito bem despercebida. Uma frase banal, salvo o erro, salvo o engano, mero relato de final de partida e de campeonato. Por conta dessa frase que li ainda hoje, e que só pode ser o resultado de um raro cochilo. Só pode, repito, pois não passaria assim tão facilmente ilesa pelo sempre confiável pente-fino das revisões dos nossos diários. Ai, essa tentação de usar adjetivos como "vibrantes"!



O leitor vai concordar. Assim como está escrita, ela parece o prenúncio de um crescendo espantoso na escalada de violência que contemplamos cada vez mais apalermados. Como parece aproximar, e muito, os nossos "campos de batalha", futebolísticos, das arenas, sejam romanas ou espanholas, nas quais nunca fez falta cultivo de grama. Areia, nelas, sempre foi o bastante, até por tornar mais visível e impressionante o sangue derramado, especialmente quando em technicolor, como em "Sangue e Areia", belíssimo título para uma película. Refiro-me a um melodrama daqueles! As platéias em pranto. Tyrone Power era o Antonio Banderas da vez. Mas um Antonio Banderas muito depois de ter passado pelas mãos criativas de um Almodovar, para cair em produções de terceira e ser vendido feito banana em penca.



Mas vamos à frase, que já tanto tarda neste meu divagar incerto. Divagar que pretendia ficar, muito simplesmete, na simples concisão de uma formulação bem breve, cabendo portanto em frases . Mas não é tão simples, quanto possa parecer, chegar a tão pouco, chegar ao máximo do mínimo, no dizer de um usineiro que insiste em ficar anônimo. E ele beira já, o meu divagar, e perigosamente, o estender-se comprometedor de tantas crônicas . Ou chega mesmo a namorar o nunca-acabar-mais e o ilegível da maioria dos ensaios .



Detenho-me. Basta. Vai ter de ser agora. Com todo o risco de a frase já não ter mais, afinal, graça nenhuma. Mas ei-la, tal qual a pincei das páginas esportivas de um diário (não, não direi "vibrante", todos soem sê-lo) lido ainda esta tarde, "porque hoje é sábado":

"O time venceu a partida, sangrando-se campeão."



Convenhamos: um erro considerável. Foi o que achei. E assim resolvi tratá-lo. Fiz o que estava ao meu alcance para não cair naquela lenga-lenga dos cronistas em fins-de-semana, especialmente nos "prolongados", o que, por acaso, não é o caso. E, é preciso que se diga, escrevo, por assim dizer, graciosamente. Não sou pago para vomitar palavras todo santo dia. Cronistas são sempre exímios em encher lingüiça com considerações, mais ou menos hilárias, sobre a sua, sempre momentânea, falta de assunto. Ao que parece, além de sempre momentânea, sempre também crônica.

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