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Erotico-->37. LEANDRO -- 03/03/2002 - 11:14 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

— Mãe, eu preciso pedir uma coisa. Eu não quero mais ir visitar meu pai.

— Que aconteceu?

— Ele fez uma coisa que não devia e eu não quero ir mais lá.

— Então, a coisa é grave. O seu irmão não me disse nada.

— A gente não vai junto. Na minha semana, eu não vou mais.

— Santo Deus! Que é que o Olegário aprontou?

— Eu não devia falar, mas, se ele fez o mesmo com o Leo, é bom você ficar sabendo.

— Desembucha logo.

— A última vez que estive lá, ele me perguntou se eu sabia o que era o bar mitzvah dos judeus. Eu disse que sabia, porque já fui a várias cerimônias, convidado pelos colegas. Ele me falou que se tratava de um rito de passagem, o que eu já sabia, porque o professor de História fez questão de ensinar que certas religiões mantêm tradições milenares. Ele me falou que não era só um ato religioso, mas também que o jovem passava para a ala dos adultos, deixando de ser criança.

Rosalinda começou a ficar preocupada, antecipando a conclusão da história. De qualquer modo, admirava a eloqüência do filho e a ordem lógica com que narrava os acontecimentos. Via nele o reflexo de seu próprio modo positivo de ver as coisas, estranhando apenas que ele estava fazendo um rodeio do assunto muito circunspecto. Não deu qualquer outra demonstração de impaciência, deixando que o pirralho fizesse o discurso que, agora, ela via que preparara com cuidado.

Leandro, que fizera uma pausa ao ver a mãe pensativa, continuou:

— Naquele dia, havia uma convidada que almoçou com a gente e que conversou muito comigo. Queria saber se eu tinha namorada, se gostava de alguma menina, se já tinha visto certos filmes na televisão. Filmes eróticos ou pornográficos, conforme você já nos havia explicado. Depois do almoço, meu pai disse que estava com sono e se trancou no quarto. Foi aí que a mulher se aproximou de mim, querendo que eu tocasse nela, chegando a abrir a blusa, mostrando os peitos. Você já viu aonde ela queria chegar.

— Agora você já sabe o que é uma meretriz, uma garota de programa. Por que você ficou tão bravo?

— Eu pensei em tudo o que Aristides me ensinou, a respeito dos cuidados com as doenças venéreas, e me lembrei de que, no seu primeiro romance, o rapaz queria casar-se virgem, terminando por encontrar... Você sabe.

— Que aconteceu, afinal? Vocês transaram?

— Eu não fiquei com vontade. Fiquei preocupado com o meu pai, que não me respeitou. Eu achei uma grosseria sem tamanho.

— Ele estava querendo iniciar sua vida sexual.

— A minha vida sexual faz tempo que começou.

— Em nossas conversas, você nunca mencionou nada disso.

— Mas eu contei para o Aristides.

— Ele não me disse nada.

— Eu pedi que não falasse nada com você.

— Mas, filho, essas coisas são importantes.

— Eu também acho, por isso conversei com ele. Mas a minha raiva já passou. Eu não volto mais lá, pelo menos por um bom tempo, e as coisas não se repetem. Quanto ao Leo...

— O que ele lhe contou?

— Ele disse que foi bom. Por isso é que estou avisando você. Agora ele vai querer ir sempre lá e pode se enroscar, porque o pai não está nem aí com os devidos cuidados.

— Você estava sem camisinha?

— Ela me mostrou várias, dizendo que não transava sem. Pois nem sem nem com.

— Você ficou envergonhado?

— Eu acho que me acanhei.

— E ela queria que você se assanhasse.

— Você não está dando importância nenhuma ao fato.

— Ao contrário, estou ouvindo com muita atenção e já estou com vontade de tomar algumas providências.

— Aí, o Leo vai cair em cima de mim.

— Não vai, não. Eu vou é falar com seu pai. Depois eu trato com o Leo, dizendo que o Olegário me contou tudo.

— Posso fazer uma observação?

— Você não gostou que eu mentisse?

— É isso aí.

— Mas que desculpa eu posso dar que evite imiscuir você no problema? Se eu falar a verdade, você vai ficar no meio da roda de fogo.

— Vou precisar tirar de letra.

— Onde você aprendeu essa expressão?

— Significa com um pé nas costas. Eu também leio o dicionário.

— Fale a verdade.

— Estava num texto lido na aula de Português.

— Veja que você também, sem querer, tentou passar-me uma peta.

— Peta?

— Mentira. As relações entre as pessoas, como você está aprendendo, mesmo entre os adultos, faz que se escondam muitas coisas. Por exemplo...

— Já entendi. Não precisa explicar.

— O que eu acho que você não entendeu direito foi a minha reação, com certeza pensando que eu estivesse de acordo com seu pai. Eu acho que você deve ter suas experiências sexuais. Se não tiver agora, vai ter mais tarde. Mas o que não pode acontecer é que sejam traumáticas, quer dizer, que lhe tragam problemas de adaptação à realidade de sua própria natureza material. Não vou dizer-lhe tudo, mas posso adiantar-lhe que um dia você irá entender melhor o porquê de ter procurado Aristides, ao invés de vir conversar comigo.

— Isso me lembra que eu estava querendo saber por que, desde que a gente era pequeno, você sempre fez questão de comprar coisas diferentes para nós dois, não nos pondo sequer na mesma escola. Será que você estava com medo de criar dois filhos exatamente iguais?

— Este é outro ponto difícil de explicar, sem que você possua os conhecimentos que eu tenho da doutrina espírita. Mas vou adiantar que cada um é um espírito diferente, com histórias próprias e problemas específicos. O que pode haver é certa semelhança no processo evolutivo anterior à reencarnação. Em todo o caso, o que é mais importante é que vocês gostam um do outro, tanto que nunca brigaram para valer.

— Mas eu gostaria de estudar Inglês com a professora do Leo. Ele já me falou que queria o meu professor de História.

— Por isso é que vocês têm um professor que os acompanha em casa no mesmo horário, para que um ouça as explicações dadas ao outro.

— Se a gente fosse à mesma escola, nem iríamos precisar desse professor.

— Nem teriam sabido que existe um bom professor de História ou uma excelente professora de Inglês.

Leandro abraçou a mãe, insistindo:

— Veja se o Leo não se complique.

— Vou fazer o possível.

Ficando só, Rosalinda não teve como não lembrar-se de seus quarenta e oito anos: uma palpitação fez que o sangue subisse à cabeça, avisando-a de que estava em plena crise de menopausa.


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