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Erotico-->35. ADÉLCIO -- 01/03/2002 - 06:30 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Duas semanas após completar quarenta e seis anos, Rosalinda viu a mãe desencarnar. Rosaura morreu em conseqüência de um tumor no colo do útero, cuja extração se deu tardiamente, quando já todos os tecidos adjacentes estavam comprometidos.

Tendo submetido a mãe a diversos tratamentos de caráter espiritual, Rosalinda deixou-se intrigar pelo fato de tal recurso não ter alcançado sucesso. Inquirida a respeito, previamente, Esmeralda pareceu-lhe dar certa esperança, afiançando:

“Embora a ciência esteja de mão dada há bastante tempo com formas alternativas de cura, ainda não compreende como se conduzem os assessores da espiritualidade para proceder à intervenção no plano da realidade material. Se eu lhe dissesse ser fatal a doença de sua progenitora, estaria incidindo no pior de todos os defeitos da criatura: a falta de confiança ou de fé. Jesus não disse que a fé é que havia curado várias das pessoas atendidas por ele e que a fé remove montanhas? Através deste princípio, qualquer ser humano lúcido deve entender que a vida se amplia após a morte, não representando esta senão uma passagem do plano material para o espiritual.”

No velório, Rosalinda puxou para um canto o facultativo que havia operado a mãe, indicado por Aristides, por insistência dela, em virtude de ser espírita e aplicar também métodos não convencionais de tratamento.

— Doutor Adélcio, veja se entendi direito. Minha mãe não conseguiu a cura porque o câncer demorou para ser diagnosticado. É isso?

— Kardec interrogou os espíritos a respeito da trajetória de um projétil, recebendo por resposta que a atuação dos guias pode dar-se antes de o tiro ser disparado, provocando um resguardo para a possível vítima. Uma vez disparada a bala, vai seguir as leis naturais e atingir o que estiver em seu caminho. No caso de Dona Rosaura, o câncer se havia espraiado. Mas você deve levar em conta que as reações orgânicas variam de pessoa para pessoa.

— O senhor está me dizendo que o tumor pode aparecer e desenvolver-se, em certas pessoas, de um dia para o outro?

— É o que tenho constatado. Contudo, sempre que é descoberto em seu início, pode ser curado, já que, além da especificidade do tratamento, também se recomendam aos pacientes diversas alterações nos hábitos de vida, quer quanto à alimentação, quer quanto aos exercícios, sendo muito importante acabar com os vícios do fumo, do álcool e de tudo o mais que represente um exagero de elementos estranhos sendo incorporados no organismo.

— O senhor está falando em tese, porque minha mãe não fumava, nem bebia, nem abusava da comida, caminhava vários quilômetros todo dia e mantinha-se atenta quanto a providenciar todos os exames indicados pelo médico da família a cada seis meses.

— Estou a par de seu quadro clínico.

— Então?!...

— Então, faleceu aos setenta e três anos. Você deve agradecer a Deus que ela teve uma vida feliz, com filhos formados e trabalhadores...

— Por favor, Doutor Adélcio, poupe-me desse discurso. Esse tipo de consolação eu mesma aplico nos velórios a que tenho comparecido cada vez com maior assiduidade. Fale-me a respeito do insucesso do tratamento espiritual.

— Você tem muito melhor condição de ensinar a mim do que o contrário.

— Quero saber do senhor quais as várias teorias em voga entre os médicos para explicação de como se dá a intervenção dos espíritos no plano material.

— Falo por mim. Eu acho que uma explicação científica jamais será dada, segundo os princípios da observação, da experimentação e da comprovação, uma vez que a esfera de atuação dos espíritos se situa em um campo de vibração ou de energia a que os encarnados não têm, materialmente, acesso. Nós sabemos de concreto que existe a auto-sugestão e que as pessoas que se enchem de fé desencadeiam reações biofísicas e bioquímicas capazes de alterar o panorama geral de sua saúde. Com certeza — os estudos comprovam —, vários elementos se criam ou se transformam, atuando sobre os cancros ou prevenindo a infestação virótica dos tecidos.

— Não me leve a mal, mas devo concluir que minha mãe, neste aspecto, não manifestou um nível de fé compatível com sua exigência de cura. No entanto, era uma criatura dada à religião, não faltando à missa, orando nos cultos da noite, visitando e animando pessoas doentes. Pelo que o senhor disse, o corpo dela não se deixou afetar pelos estímulos da auto-sugestão.

— Você está me deixando sem jeito.

— Ninguém está nos ouvindo. Eu não levantaria esses problemas para os meus auditórios. Ao contrário, estou sendo tão incisiva porque estou pretendendo organizar uma palestra sobre o tema, do ponto de vista espírita, naturalmente.

— Peça ajuda ao Aristides.

— Aquele coitado não tem tempo para nada. Mal passou por aqui, deu os pêsames aos meus parentes e desembestou atrás de resolver certos problemas legais levantados por advogados inescrupulosos, quanto a questões de atendimento através do seu plano de saúde.

— Tais planos, desde que foram criados há mais de sessenta anos, só têm gerado atritos de interesses, quase sempre por ganância dos meus colegas ou por oportunismo dos clientes. Nessa eu não entrei...

— Só mais uma pergunta, por favor.

— Baixe a bola, para que eu possa chutar.

— Por que o senhor diz que estava na hora de minha mãe morrer? Significa que estava escrito no seu código genético?

— Médicos materialistas se restringiriam a dizer que sim. Eu vou acrescentar algo mais. Abrindo o jogo, sem as cerimônias da circunstância de estarmos num velório, você deve levar em conta que seu pai faleceu há pouco mais de um ano e meio. Apesar de sua mãe ter do que se queixar do velho (sua irmã está aí para comprovar o que estou dizendo), ela se sentiu sozinha, desamparada, em sua realidade de vida. Antes que você cite toda a vida familiar e social que lhe restou, devo insistir no ponto do significado do apoio do cônjuge, mui especialmente quando a mulher dependia dele para tudo, não tendo de ganhar seu sustento nem de cuidar da casa. Se sua mãe tivesse tido um ou mais amantes, fosse uma mulher dada a cultuar o espírito, estudando uma ciência qualquer...

— Já entendi, doutor. Rosaura morreu de saudade... Mas não posso admitir que a salvação das esposas que perdem os maridos seja a infidelidade.

— Rosalinda, querida, dê um forte abraço em Aristides e diga a ele que eu gostaria de vê-lo mais vezes de calção lá no clube. Ele vai entender o recado. Quanto à doença de sua mãe, os espíritos haverão de cuidar para que não se instale no perispírito.

Rosalinda mais tarde iria perguntar-se se estendera ou não a mão para despedir-se de Adélcio, tão entretida ficou com a possibilidade de contaminação do corpo por uma moléstia do perispírito e vice-versa.


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