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Artigos-->Verdade perdida -- 31/03/2003 - 10:34 (Carlos Luiz de Jesus Pompe) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Em grandes disputas, a verdade se perde. A frase não revela nenhuma novidade: foi escrita há cerca de 2 mil anos por Lucius Annaeus Sêneca, estadista e filósofo romano. Talvez a constatação seja até imprecisa — também em pequenas disputas a verdade é relegada a enésimo plano, mas isso fica mais evidenciado quando as grandes disputas ocorrem.

É o que se dá na presente guerra dos Estados Unidos contra o Iraque. As grandes agências de comunicação — que, para melhor vender seu peixe, são de "notícias", e não de "propaganda" - ficaram encurraladas. Partam de um ou de outro lado do conflito, os relatos enviados por elas são recebidos com justa desconfiança.

Alguns jornalistas e comentaristas, mesmo em situações limites como esta, ainda tentam se colocar afora e acima das contendas em desenvolvimento. Buscam se apresentar como imparciais, indiferentes às partes em disputa. Representam a "razão", mas uma razão alheia à situação concreta; o "humanismo", mas que não envolve seres humanos reais, desses que circulam as ruas; são "realistas", mas sem levar em conta o contraditório da realidade; "assépticos", mas contagiados pelos interesses e pela trama complexa que envolve os fatos sociais e políticos. Multiplicam-se, assim, comentários defendendo o povo iraquiano e centrando a crítica em Saddam Hussein e silenciando sobre os objetivos de George W. Bush — através desse silêncio obsequioso, reforçam a idéia de que a guerra está sendo desenvolvida para livrar o povo do governante, que seria o alvo dos ataques e bombardeios — ataques e bombardeios que, até o momento, mataram o povo, mas não o governante...

Não é fácil, em tal situação, determinar o interesse social por trás de um conflito apresentado como a luta do bem contra o mal — em especial quando não se pretende ser aliado de um ou outro governante, mas buscar entender o jogo de conveniências e tomar posição a favor do progresso social, econômico, humano — o humano concreto, e não a idealização, a abstração atemporal. A luta no campo das idéias é a luta pela influência na consciência social. É o que faz Bush, quando se diz defensor da democracia contra a ditadura; é o que faz Saddam, quando conclama seu povo a resistir aos invasores. É também o que fazem os que se posicionam contra a guerra, apresentando os objetivos econômicos que impulsionam as classes dominantes estadunidenses e britânicas contra as classes dominantes iraquianas, utilizando seus respectivos povos como bucha de canhão.

É comum que as pessoas se identifiquem melhor com os pronunciamentos e abordagens que apóiam seus próprios pontos de vista. Daí as várias partes em conflito (os agressores, os pacifistas, os agredidos) arregimentarem os mais variados porta-vozes para expor seus argumentos. Daí, igualmente, as partes diretamente envolvidas no conflito se valerem de verdades, meias-verdades, mentiras e versões para ganhar e incentivar seus combatentes, neutralizar ou desmoralizar os que não congraçam com seus objetivos. "Dissimula sempre, com extremo cuidado, o estado de tuas forças", ensinou Sun Tzu em "A arte da guerra", considerado o mais antigo tratado militar do mundo (século I a.C.). Com ele concordou Thomas Hobbes (1588-1679): "A força e o engano são, na guerra, as duas virtudes cardinais".

Em meio ao burburinho, que desafio manter o enfoque complexo, levar em conta a totalidade dos nexos entre diferentes partes e componentes do trabalho ideológico e interá-los com outros processos e fenômenos! Ser contra a guerra não significa ser favorável a Saddam. Mas também não está em perspectiva derrotar Saddam e vencer Bush! Já atacar Saddam no momento em que o Iraque está sendo bombardeado por Bush é prestar serviço ao agressor...

O brasileiro Ribeiro Couto (1898-1963), no seu Conversa Inocente, foi implacável com os jornais que se apresentam como meros filtros da informação: "Força irresistível, dominadora, ostensiva de todo o panorama social, construindo heróis falsos ou verdadeiros, derrubando verdadeiros ou falsos ídolos, o jornal - esta folha de papel que custa um níquel, que interessa durante uma hora - é escrito, na verdade, por uma gente suspeita. Donde vieram esses sujeitos em manga de camisa, com uma ponta de cigarro no canto da boca, que rabiscam nervosamente no fundo da sala? Que pensamentos e ambições estarão por trás dessas frontes inclinadas sobre a mesa?"

Os grandes órgãos de comunicação professam em editoriais seus compromissos com objetividade, neutralidade, imparcialidade, com a verdade, com os fatos, com o interesse público, mas são desmentidos a cada página, a cada notícia, a cada relato, a cada edição de som ou imagem (afinal, por que os EUA querem impedir a divulgação de imagens de crianças e populares mortos e ensangüentados em conseqüência de seus bombardeios?).

A verdade já foi às favas, não apenas nesta guerra. Mas não a capacidade de discernimento e a necessidade de posicionamento. Não é possível ser imparcial numa realidade que não é neutra.



Leia também A fúria dos deuses .



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