A insegurança no Brasil é tão grande que nem bandido pode mais trabalhar tranqüilo. O crime virou uma das atividades mais perigosas do país. Morre-se ao tentar roubar um celular ou, pior ainda, ao passar a mão numa carteira vazia. O pobre bandido atua sem seguro de vida ou de saúde nem carteira assinada. A sua informalidade é total. Um simples e pacato assalto a uma residência de classe média pode agora tornar-se uma tragédia. Sempre se corre o risco de topar com um proprietário demasiado zeloso do seu limitado patrimônio e, o que é inaceitável e assustador, armado. Nada mais imprevisível e funesto. Nada menos republicano.
Imaginem só o que pode acontecer a um bandido no exercício da sua profissão ao deparar-se com uma vítima armada, sem treinamento para o uso de arma de fogo e, ainda por cima, nervosa! Por um nada, uma simples palavra mais brusca, uma ameaça, um blefe, um empurrão, enfim, um detalhe banal desse tipo de abordagem, o cidadão perde o controle e o revólver dispara, a esmo. Um dono-de-casa com uma arma na mão é como um motorista sem habilitação. Este, porém, mata inocentes. Já o outro atenta contra a vida dos únicos que sabem realmente usar, em conhecimento de causa, armas.
Felizmente o plebiscito de outubro, a respeito da comercialização de armas de fogo, poderá acabar com essa situação absurda. Se o comércio de armas for proibido, os bandidos terão muito mais segurança no trabalho. Além disso, não haverá mais a questão da dúvida que hoje os dilacera, antes de invadir uma casa, e os obriga a alguma cautela. Será muito mais fácil e adequado atuar com a certeza de que a vítima estará desarmada. Salvo se tiver uma arma clandestina. Mas aí é crime. Cidadãos honestos não cometerão tal ilícito. Certamente haverá diminuição de balas perdidas e da resistência amadora que ceifa tantas vidas produtivas. A proibição do comércio de armas no Brasil terá muitos beneficiados. O principal deles, sem dúvida alguma, será o bandido. Afinal, nada mais perigoso do que um cidadão despreparado tentando agir amadoristicamente em legítima defesa com um berro enferrujado. Numa sociedade desenvolvida, até o crime deve ser praticado com segurança. Os bandidos agradecem. Já era tempo de se tomar uma providência. O lobby da categoria deve ter atuado fortemente.
(*) jornalista e escritor
juremir@correiodopovo.com.br
Correio do Povo
Porto Alegre - RS - 14-09-2005
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"Quando todas as armas forem propriedade do governo, este decidirá de quem serão as outras propriedades" (Benjamin Franklin).
