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Cronicas-->MINHA CRÓNICA DE CADA DIA - 4 -- 16/05/2008 - 07:17 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
MINHA CRÓNICA DE CADA DIA (4)

Fim de Festa Acadêmica

Francisco Miguel de Moura*

O mundo nos "apronta as suas" e eu apronto as minhas Cronicas.
Hoje é sábado.
Pela manhã fui ao Clube de Leitura assistir ao lançamento de livros de dois autores, um vivo e outro falecido. Com relação a este, homenageava-se também o centenário do nascimento do poeta Máximo entre os que pertenceram ao Grêmio Literário. Foi magistrado, boêmio bem comportado. Quando se aposentara recitava poesias de sua lavra, geralmente engraçadas, paródias, críticas ao governo e à sociedade. À parte os discursos, que causaram tédio à platéia, alguns mais idosos até tiraram "uma pestana" - muita gente com quem falei depois, no coquetel, conversava alegremente. Eu correspondia, lógico.
Mas revejo-me agora na hora inicial dos autógrafos. O velho Moreira, que já não sabe das coisas da realidade em virtude de suas mazelas circulatórias, já desconhece os próprios colegas, havia subido ao palco a chamado do presidente. Ele não havia sido convidado a fazer parte da mesa solene, inicialmente. Mas, em respeito aos seus 80 anos completados a pouco, lá foi posta uma cadeira na última hora, assim quebrando o protocolo. Logo sentado, começou a cochilar muito ancho. E quando chegava a pender a cabeça, todos nós começávamos a meditar:
- "Um dia vamos chegar lá!"
Quando chegou o momento descer, Moreira falseou em um dos dois degraus da escadinha de subida e caiu, dando um grito mais ou menos de socorro.
Como socorrê-lo?
Eu não soube.
Ouvi alarido das mulheres da assistência
- "Cadê seus filhos, seus parentes ou seu motorista?"
Procura-se de um lado, busca-se de outro até que o dito cujo apareceu. Não fiz nada, fiquei paralisado. Antigamente eu sabia o que fazer. Hoje, minha saúde não permite, inclusive a espiritual. Sou fraco, não creio muito que preceituam as religiões. Tudo o que fiz, devagar, foi sair procurando um parente do velho Moreira.
Ninguém era, ninguém sabia.
- "Como é que deixam uma criatura dessa idade sair de casa sem ser acompanhado por um filho ou parente próximo?" - sussurravam.
O acidentado sangrava. Pancada na cabeça. Felizmente havia um médico naquela solenidade, sentado à mesa solene dos trabalhos - e daí por diante o atendimento ocorreu da melhor forma.
Vi marcas de sangue no piso sobre o qual pisei. A maca passou por mim, suspirei, pressenti o cheiro (ou mau cheiro) de defunto.
"Amanhã ou segunda-feira saberei como ficou o colega que foi acidentado durante a reunião no Clube, em que hospital baixou" - pensei.
Quase todos, a partir de então, acredito que se perguntavam se no seu centenário alguém iria lembrar-se do seu nome para homenagem como o Clube estava fazendo agora daquele - o poeta boêmio Maximiano, ora chamado de Máximo.
O certo é que cheguei a casa deprimido. Almocei. Qualquer barulho ou bancada me impressionava. Mas dormi pesadamente em minha rede de varandas do alpendre e tive um horrível pesadelo. Meu filho vinha e desmontava todo o meu computador, tudo era sujo lá dentro, porco. Outra máquina minha, não sei se de fotografar, também era atingida. A mesma sujeira dentro.
- "Agora você vai ajeitar tudo, não sei mexer nisto."
Por aqui o sonho terminava - era interrompido pelo passar de alguém pelo alpendre, chiando com os pés no piso, um chiado carrasquento.
Mas levantei com vontade de lembrar-me do antes, fazer ligação. Falei com a mulher, naquela hora, e ele meu deu uma atenção desusada. Será por que falei no filho? Talvez. Então conto, e por que não contar? uma passagem alegre, numa outra reunião do nosso Clube, ocorrida entre o velho Moreira e o poeta H.James Júnior. Era assim: Aquele apresentava um poema do tempo em que era jovem e foi poeta (bissexto), como a maioria dos adolescentes, mas ia lendo devagar, parece que com dificuldade por causa da vista. Era um bom soneto, mas o poeta H. James Júnior, mestre na arte de sonetear e um pouco gago, tomou-lhe das mãos e disse:
- "Deixe que eu o leia."
- "Mas se gaguejar, eu o retomo" - retrucou o velho Moreira.
O poeta foi recitando, lá na frente tropeçou um pouco, depois gagueja.
A gargalhada foi geral, não pela má récita, mas pelo avanço do velho e teimoso Moreira sobre o papel do poema, como reprovação da leitura.
Assim, termino o dia pensando em risos, coisa boa e reconfortante para a alma. Deixo que as ruins, inclusive do sonho, se extingam de minha atenção e memória.

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*Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, mora em Teresina, Piauí. E-mail: franciscomigueldemoura@superig.com.br
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