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cronicas-->MÉTODO ANTI-CALOTE LUSO-BRASILEIRO -- 14/05/2008 - 02:16 () Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

MÉTODO ANTI-CALOTE LUSO BRASILEIRO

Por Vera Linden



                   "Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, se a ti me confiou a piedade divina, sempre me rege, me guarde e ilumine, amém!"

                Aprendi esta oração aos cinco anos, mais ou menos, com uma tia-avó, tia Ema Pequena. (a chamávamos assim, pois havia a Ema, mais alta, logicamente, a Grande.)Ambas eram umas doçuras. A pequena morreu aos quase oitenta anos e solteira, pois seu amor morrera atropelado por um trem. Coisas da vida, o rapaz era epilético e no século passado ter qualquer deficiência por menor que fosse, representava alguém não muito útil ao trabalho da lavoura. Meu bisavô, o Sr. Ferraz de Abreu, um mulato, sabia bem o que era o preconceito e queria-o bem longe de sua família. Ouvi muitas vezes, esta história que tia Ema contava entre suspiros. Mas, ela era uma mulher corajosa e já naqueles tempos, muito independente. Costurava muito bem, fazia milagres em rendas, pouco tecido e bordados e lá me ia toda vaporosa, entre babados engomados.Eu tinha belos vestidinhos, por ser uma menina magrinha.


                Tia Ema era a minha fada madrinha e de quebra me ensinou(pobre dela) o pouco que sei sobre costuras. Ela morava sozinha, na vila Silva, em Sapucaia. Um chalezinho amarelo de janelas brancas, uma chacarazinha onde havia flores para todos os lados, rosas, dálias, cravos, palmas,copos de leite, crisântemos, bocas-de-leão, cravinas, margaridas e todas as flores que conseguíamos plantar. Minhas deleciosas férias eram lá naquele lugar onde havia também couve manteiga, alfaces, tomates, cenouras, beterrabas, temperinhos e pés de frutas deliciosas. Ah! As bananas-da-terra, goiabas, maçãs, abacaxis e uvas.E o melhor de tudo: galinhas e porcos, com os quais eu adorava conversar.
 

              Vendo minha falta de talento manual, tia Ema achou melhor dividir tarefas e descobriu, que me saia bem melhor com panelas do que com agulhas. Também notou minha habilidade para os negócios e as negociações, isto é, quando estávamos quase sem caixa, vendia chuchus e tomates ao homem do armazém em troca de arroz e açúcar. Além dos artístiscos ramalhetes de flores, que a vizinhança toda comprava. Também criava bilhetes "simpáticos" as suas devedoras, que misteriosamente, vinham rápidas saldar as suas dívidas, mesmo as mais antigas. Este mistério, Tia Ema descobriu anos depois, chamava-se de "mídia da cobrança no painel do Empório Alencar." Bem, seu Manuel, o português dono do armazém tinha uma queda por minha tia e ... eu era sua grande amiga. Era um bom sujeito. Conversávamos muito e ele compraria até estrume de galinha, se eu dissesse que tia Ema "necessitava" aumentar suas economias. Eu tinha uma boa caligrafia e por um quilo de café, fazia suas propagandas em cartazes em frente do armazém, somava os cadernos dos fregueses, varia o chão, trazia flores para enfeitar o balcão,e lhe falava de como minha tia era trabalhadora, etc.,etc. Certo dia, criamos a lista pública dos devedores, que ficava exposta em frente a seu estabelecimento, o(a) caloteiro(a) recebia um aviso de uma semana, um bilhetinho simpático, se não pagasse a dívida, lógico que iria para a " Lista pública " do seu Manel. Foi um remédio eficaz, entretanto, não teve uma vida muito longa, porque logo apareceu por lá um rábula, que nos ameaçou até com cadeia e o cretino se candidatara a vereador. Desta forma,  houve mudanças em nossos planos. Contudo, a coisa não ficou fácil para o biltre: ele perdeu vergonhosamente as eleições. Nossa vingança foi cruel.

                   Foi uma bela e proveitosa amizade com o portuga de grandes bigodes, uma pena não ter se tornado meu tio-avô, mas ficou na família,casou-se com uma prima de tia Ema, que eu chamava de Tia Lorena. Minha tia morreu fiel ao seu amor.
 

São Leopoldo(RS) - Maio de 2008




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