Desafetos
maria da graça almeida
Há quem tome para si
os desafetos alheios.
Faz-se hostil a quem
hostiliza seus amigos
e torna-se indiferente
à própria percepção
e avaliação.
A alguns,
a compreensão fala mais alto,
a outros,
a emoção toma de assalto.
Quando adolescente,
afastei-me de Cecília,
que andava de olho
no namorado de Marina.
Passei a evitar a menina.
que, ressentida,
não mais me procurou.
Perdi a amiga, à toa.
Depois de uma semana,
Cecília e Marina, às boas,
sorriam, gargalhavam,
aqui e ali.
Valeu-me a experiência.
Precocemente, aprendi.
Hoje, por mais que ame alguém
e com suas dores me lanhe,
não faço meu seu desafeto.
Sempre há um fato
e duas histórias.
E nem sempre é possível
eleger o dono da verdade.
As versões são retratadas
de acordo com a paisagem interior
de cada personagem.
Assim, sempre há
de se ponderar com a cabeça,
em detrimento do coração.
Tomar inimigos por empréstimo?
Adotar desafetos alheios?
Sinceramente? Não!
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