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Poesias-->CARVOEIROS DO AMAZONAS -- 14/07/2001 - 19:28 (J. B. Xavier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A devastação desenfreada da floresta para a fabricação de carvão vegetal utiliza-se da mão-de-obra infantil, quase escrava, e leva à miséria absoluta, famílias inteiras no interior da floresta amazônica. É um drama surdo que perde em popularidade para os retirantes do Nordeste, mas não menos grave e vergonhoso para um país grandioso como o Brasil.



CARVOEIROS DO AMAZONAS

Por J.B.Xavier



Nos olhos baços,

Uma desesperança havia,

Uma tristeza,

Uma melancolia,

Um desânimo e um lamento,

De sonhos perdidos,

Levados pelo vento...

No braço esquerdo,

Um bebê amparava,

Apenas a fome lhe dizia:

“Siga!”.

Com a mão direita,

O segundo penteava,

Enquanto este, para a mãe olhava

O terceiro, que estava na barriga.



Ao redor,

O rancho de madeira,

Tosco,

Lá fora,

O ar de fumaça,

Fosco,

Cheirava o cheiro amargo

Do mísero carvão...

E cá dentro desse rancho de madeira,

Um balaio e um saco

Continham a história inteira,

Dos sonhos que sonhou

Seu coração...



Perambulando ainda,

No terreiro,

Um galo cantava faceiro,

Alheio ao drama

E à agonia...

Um cachorro latia

À alvorada,

No fogo, uma panela vazia,

No coração,

Outro fogo a arder,

Pela criança que soluçava

Debilmente

Por não ter o que comer...



Sozinha,

A força se esvaía,

Na lágrima que descia,

Silenciosa, pelo rosto forte...

Já quase nem lágrimas havia

Para chorar...

E nos olhos baços

Da menina desnutrida,

A tragédia

Alterava sua vida,

Selando sua sorte...

Seria apenas uma cruz

No descampado,

Após a visita da morte...



Não tivera filho homem,

Infelizmente,

O marido já se fora,

Era ausente,

E ninguém se levantaria

Em sua defesa...

Mas Deus era bondade,

- Pensou ela -

E se filho homem

Ele não lhe dera,

Nem ninguém para diminuir

Seu agravo,

Talvez fosse para que o carvão,

Não fizesse mais um escravo...



Agora era partir para o Sul,

Onde, ouvira,

O leite era abundante...

Nada mais do trabalho

Estafante

De cortar e queimar

Toda a madeira...

Compraria uma linda mamadeira

Para o pimpolho

Que ainda estava por nascer...

O trabalho – lhe disseram –

Era estafante,

Mas, como o leite, abundante.

E quem acha, pensou ela,

Que trabalha demais

Noites inteiras,

Que venha cortar,

Arrumar, armar, queimar, e transformar

Em carvão, essa madeira...



Ao redor

Não havia um só vizinho,

Portanto,

Não haveria despedidas...

Nem no Sul havia alguém

A esperar...

Mas, se a fome era tanta,

Tinha fé

Que, a ter que morrer deitada,

Iria andando,

E morreria de pé...



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