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Erotico-->33. NEIDE -- 27/02/2002 - 05:59 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Desde que conversara com Natanael, Rosalinda, nas preces que realizava antes de começar os trabalhos mediúnicos, adquiriu o hábito de rogar que comparecesse algum espírito cujo nome fosse respeitado, algum gênio da literatura ou da ciência, alguém que pudesse oferecer comprovação de identidade pela forma de expressar-se. Fazia-o não mais movida pela curiosidade, mas impelida pelo desejo insatisfeito de poder levar à Federação Espírita um calhamaço de mensagens autênticas e insofismáveis.

Durante o transe, não se cansava Esmeralda de adverti-la quanto à necessidade de aceitar a colaboração de entidades sem muito brilho intelectual, porque, afiançava-lhe a protetora, as obras-primas iriam exigir dela cabedal muito maior de conhecimentos, ao mesmo tempo em que lhe abria à lembrança as observações que lera em Kardec a respeito do instrumento como meio de consecução mais perfeita da virtuosidade.

Respondia mentalmente a médium que muitas das obras apanhadas por Chico Xavier eram de superior quilate redacional, sem que o portentoso médium tivesse tido esmerada educação escolar. Recordava-se, então, de que o humilde mineiro possuía a faculdade de escrever mecanicamente, deixando que o comunicador assumisse o comando da escrita.

Esses debates íntimos cresceram durante um ano inteiro, até que surgiu, na fímbria do desenvolvimento de uma das intuições, a idéia de que muitos dos espíritos cujas mensagens ela transcrevera morreram analfabetos, precisando, portanto, de suas habilidades lingüísticas e escolares, para deixarem uma composição escrita.

Finalmente, cansada de assinalar nomes inócuos, Paulos, Marias e Joões sem vínculos com a realidade histórica do planeta, começou Rosalinda a duvidar da intermediação, como se sua mediunidade mais não fosse do que um processo mental comandado pela própria inteligência, fenômeno de animismo, sem mais nem menos, acabando por considerar até Esmeralda como o nome que seu inconsciente escolheu para identificar as mensagens provindas das profundezas do ego.

Foram escasseando as oportunidades em que se dispunha a escrever. Certa noite, porém, em que se viu sozinha em casa, tendo Aristides levado os gêmeos para se aborrecerem num congresso médico, sentiu forte comichão mental para registrar a comunicação de um espírito cuja presença ao seu lado começava a perturbá-la.

Orou como sempre e, de lápis em punho, esquecido o computador para possibilitar ao mensageiro a oportunidade de grafar o texto com sua própria letra, se pôs à disposição dos guias, para que trouxessem a tal personalidade, ansiando para ser atendida em seu pedido mais veemente.

Quando começou a escrever, brotou-lhe na consciência o nome de Neide, a falecida esposa de Aristides. Concentrou-se Rosalinda no trabalho, na expectativa de ser informada de uma série de acontecimentos que lhe fossem desconhecidos.

Após escrever meia hora, não percebendo nenhum fato concreto de que não estivesse ciente, a médium suspendeu o trabalho, travando um diálogo íntimo com a mensageira.

— Se você é, deveras, a esposa anterior de meu marido, por que não estabelece diretriz de pensamentos que ele possa reconhecer como sua, ao invés de ficar desenvolvendo o tema da amizade perpétua que criam os seres que um dia se apaixonaram e se separaram, sem que para isso tivesse contribuído uma rusga, uma desavença ou uma briga efetiva?

— Você está propondo-me um problema para cuja resolução não tenho resposta. Para aqui fui trazida com o fito de desenvolver tema absolutamente consentâneo com minha capacidade intelectual e moral. Pediram-me que declinasse meu nome e que registrasse quem sou, com o objetivo, conforme Esmeralda está esclarecendo-me, de oferecer-lhe a segurança de estar tratando com um elemento reconciliado com a existência, após vários anos de insubordinação aos ditames das leis de Deus.

— No entanto, minha cara, pelo que me disseram a seu respeito, em vida, você não teria condições de expressar-se de maneira tão clara, precisa e, mesmo, elegante. Aristides me garantiu que você era muito inteligente, tanto que Jurandir a lembra pelas tiradas oportunas, tendo eu mesma surpreendido o pai a enxugar lágrimas emocionadas, que atribuí à saudade que sentia de você. Contudo, quanto ao cabedal de conhecimentos, você estava restrita ao que aprendeu no curso de segundo grau, não sendo dada a grandes leituras.

— Estou extraindo de seu repertório os termos de que necessito para expressar-me, ainda mais porque estamos apenas conversando e eu devo mostrar-me à altura de seu magnífico acervo léxico.

— Então, é como se eu estivesse conversando comigo mesma, perguntando e respondendo. Você não está adiantando-me um passo na senda de minha evolução.

— Ao contrário, estou dando-lhe a oportunidade de fugir ao ramerrão das mensagens comuns. É pena que se tenha recusado a escrever este debate, através de cuja transcrição, mais tarde, você e seus companheiros espíritas poderiam avaliar o grau de adiantamento que possuo.

— Você acha que isso iria bastar-me? Todos os meus escritos têm esse mesmo destino, qual seja, o de atilada pesquisa de intenções e de fundamentações doutrinárias.

— Eis o ponto a que eu estava visando, segundo a orientação que recebi do grupo interessado em despertá-la novamente para a importância de seu trabalho, exatamente como vinha sendo feito. Se você está atribuindo a si mesma as inúmeras composições que escreveu, como irá explicar todo o interesse que vêm despertando os trabalhos publicados, no seio do movimento espírita e até fora dele? Será que os textos que acompanham os relatos médicos dos pacientes da Doutora Nilce foram todos inventados pelo seu inconsciente? É muito fácil argumentar depois que se organizou o trabalho, porque a mente se habituou com as razões levantadas e com os raciocínios expendidos. Agora que terminei de dizer o que disse, você bem poderá afirmar ser capaz de construir silogisticamente os mesmos pensamentos. Está claro? Antes, porém, de se dispor a atender à solicitação que intuía, não tinha a menor idéia do que lhe iria ser dito, sendo incapaz, conseqüentemente, de pressupor os rumos que seriam dados à nossa manifestação.

— Por favor, trata-se mesmo do espírito da Neide, ex-mulher de meu marido?

— Que importância tem um nome quando o tema de que estamos tratando apresenta grande importância em si mesmo? Se não soubessem o nome do descobridor da penicilina, os encarnados deixariam de utilizá-la para seu benefício? Não insista nesse ponto, porque você irá envergonhar-se por haver duvidado de suas próprias intuições. Volte a cooperar com os espíritos saudáveis que a equipe de Esmeralda lhe tem trazido. Que Deus nos abençoe a todos!

Rosalinda ainda perguntou, mais como um ato reflexo do que por empenho no que dizia:

— Se eu quiser redigir este diálogo, você me ajudaria a rememorá-lo?

— Dependendo de sua vontade, sempre estará presente um companheiro que lhe dará condições de remontar o inteiro teor do que conversamos, talvez através de palavras mais expressivas do que as que se utilizaram. Com certeza, todavia, se você persistir desconfiando, o resultado sempre haverá de parecer-lhe bem mais pálido do que a vívida impressão que lhe causamos.

Rosalinda demorou mais de duas horas para refazer a discussão, desistindo, por fim, por julgar que o cerne da comunicação lhe impregnara a mente, parecendo-lhe que a pretensão de evidenciar o contato primoroso que mantivera com uma entidade de escol não passava de vão orgulho e ufana vaidade.

Reteve para si mesma a clara demonstração de afeto e amizade que recebera de um ser do círculo existencial do marido e passou a oferecer suas melhores prendas mentais aos amigos da espiritualidade que passaram a procurá-la. A partir daí, foi crescendo o nível evolutivo dos mensageiros, até que compareceu um escritor que, sem declinar o nome, começou a escrever um romance por seu intermédio.


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