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Artigos-->A fúria dos deuses -- 24/03/2003 - 11:03 (Carlos Luiz de Jesus Pompe) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Novamente os deuses entram em ação. O presidente estadunidense, o cristão George W. Bush, quer acabar com o "eixo do mal" e diz: "a fé mudou a minha vida e está fazendo a minha agenda". Ele está lutando contra "homens maus", como afirmou em seu discurso de 17 de março de 2003. Agredido, o presidente iraquiano, Saddam Hussein, conta com o apoio dos que estão pela paz e denunciam o caráter imperialista, de conquista de fonte de riquezas (petróleo), da guerra patrocinada pelos Estados Unidos. Também ao seu lado estão seguidores de Alá, alguns dos quais atam bombas em torno do próprio corpo e realizam atos bárbaros de destruição e morte contra populares que rezam por outras cartilhas.



Os deuses sempre foram um recurso para dar uma justificativa transcendental para as guerras - não se trata de conquista, mas de defesa do bem contra o mal. No Êxodo, 15 (1-21), há um hino de Moisés e dos filhos de Israel ao Deus Libertador, louvando as proezas de Javé que, com a direita, "terrível em poder", aniquila o inimigo, abate adversários, desencadeia a ira e espalha o terror "entre os governantes filisteus". No final dos anos 30 do século passado, o Vaticano abençoou o ataque nazi-fascista contra a União Soviética socialista, "terra dos ateus", e fez vistas grossas em relação à perseguição de judeus - responsabilizados pela crucificação do também judeu Jesus, quase 2 mil anos antes. Mesmo antes da criação do deus único — seja o Javé da tradição judaico-cristã, seja o Alá islâmico —, os todo-poderosos envolviam-se ou incentivavam disputas sangrentas.



Amor à carnificina



Marte (Ares para os gregos) era um deus sanguinário e detestado pelos imortais. Seu símbolo era o abutre. Filho de Júpiter e Juno (Zeus e Hera dos gregos), era protegido por Hades, pois povoava o inferno com as numerosas guerras que provocava. Os gregos preferiam Palas (a Minerva dos romanos), que participou da guerra dos deuses contra os gigantes e contribuiu, através de estratagemas, para a vitória de Júpiter. Minerva era a inteligência guerreira, enquanto Marte cuidava apenas de tornar mais furiosa a luta. Uma imagem numa pedra mostra Marte segurando com uma das mãos a Vitória e com a outra a oliveira, símbolo da paz - proporcionada pelo esmagamento do inimigo, e não pela concórdia.



Numa estátua de Marte, conhecida pelo nome de Aquiles Borghese, há o elo de uma corrente num de seus pés, pelo hábito de certos povos de agrilhoarem o deus da guerra — uma ação prudente dos humanos para impedir os desatinos dos poderosos. Num de seus quadros, Rubens representou Marte, que Vênus (deusa do amor, a Afrodite grega) e seu filho Cupido se esforçam inutilmente por reter, de gládio empunhado, seguindo a Discórdia e precedido do Temor e do Espanto. As Artes chorosas, a Música, a Arquitetura e a Pintura, são pisadas pelo feroz deus; o comércio está destruído e os campos prestes a ser incendiados. Júpiter, o rei dos deuses, assim se refere a Marte: "Divindade inconstante, cessa de importunar-me com os teus lamentos! De todos os habitantes do Olimpo, tu és o que eu mais odeio, pois só amas a discórdia, a guerra, a carnificina".



Semeando a Discórdia



A companheira habitual de Marte é Belona (Enio grega), personificação da chacina. Ela conduzia o carro do deus da guerra e espicaçava-lhe os cavalos com a ponta de uma lança. Belona era escoltada pelas divindades Espanto, Fuga e Discórdia. Esta última presidia as disputas que dividem os povos e as famílias. No dizer de Homero, ela derramava nos corações guerreiros "o ódio fatal, precursor da carnificina. (...) quando todos os deuses se retiram do combate, é a única que permanece no campo de batalha para dar, como pasto aos olhos, o espetáculo dos mortos e dos moribundos."



Talvez num tributo à Discórdia, Bush afirmou no seu discurso de 17 de março: "Muitos iraquianos podem ouvir-me esta noite numa transmissão traduzida por rádio, e eu tenho uma mensagem para eles: se precisarmos iniciar uma campanha militar, ela será dirigida contra os homens fora-da-lei que governam seu país, e não contra vocês. Quando nossa coalizão tomar o poder deles, vamos entregar os alimentos e remédios de que vocês precisam. Vamos pôr abaixo o aparato do terror e ajudar vocês a construir um novo Iraque, que seja próspero e livre. (...) O dia em que vocês serão libertados está próximo".



Na mitologia, o guerreiro Marte não resistiu à amorosa Vênus, e da união destes deuses nasceu Harmonia. Porém não há final feliz previsível na história da humanidade. Há, isto sim, luta contra os opressores, ação para tirar a humanidade da pré-história atual. A humanidade construiu instrumental teórico e alcançou conquistas científicas suficientes para varrer os opressores de sua história e estabelecer a correspondência entre as forças produtivas e as relações de produção. Têm pela frente, é verdade, o trabalho hercúleo de limpar as cavalariças de Áugias, imundas pelos preconceitos, crendices, intolerância e pelas bases que sustentam a sociedade dividida em classes - cujos interesses antagônicos estão na origem das guerras, mascaradas e endeusadas que sejam pelas mais variadas versões moralistas da luta do bem contra o mal.



Leia também O idioma pátrio .



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