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Teses_Monologos-->Surrealismo: realizar a poesia na vida cotidiana -- 22/08/2001 - 18:50 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Em Chicago, um certo dia, ao trafegar por uma das vias mais longas da cidade, o motorista de um ônibus se levanta e, para espanto dos passageiros, declara não aguentar mais a repetição diária daquele mesmo trajeto. Quem se dispusesse, poderia seguir com ele até a Flórida.

Dois dos passageiros acharam melhor cair fora naquele mesmo instante. Um outro preferiu desembarcar um pouco mais adiante. Os demais toparam empreender a inusitada aventura. Sete pessoas topavam aquela aventura inesperada, que os levaria até a Flórida, ou ao que quer que pudesse lhes acontecer dali por diante.

Horas mais tarde, ao sul de Indiana, o ônibus foi capturado pela polícia estadual e enviado de volta ao seu ponto de partida.

As declarações do motorista remetiam, depois, conforme se relata, às idéias norteadoras da aventura surrealista no alvorecer dos anos 20. E elas se repetiam na Chicago dos anos 60, como em todo o mundo. As paredes dos edifícios públicos, em Paris, sabe-se, ficaram repletas de frases surrealistas: "A imaginação no poder" ou "Sejamos realistas, queiramos o impossível". O motorista dizia: "Algum dia não vai haver mais polícia para destruir os sonhos das pessoas, e elas vão chegar até a Flórida e, de lá, seguirão para o Jardim do Éden", são certamente palavras delirantes, ainda mais pronunciadas pelo sempre cumpridor motorista de uma linha de ônibus em Chicago. Mas a verdade é que ele alcançou reencontrar, naquele lampejo de poesia, na proposta prontamente aceita por sete de seus passageiros, a aventura perdida, fonte inesgotável de inspiração e de imaginação. Sete pessoas, arrancadas aos grilhões do cotidiano, arriscam tudo para viver algo que se aproxima das idéias que os sonhos de fadas nos segredavam na infância, na nossa infância pessoal e na de toda a humanidade, de que a vida cotidiana não pode prescindir de viver suas heróicas possibilidades de aventura.

No Congresso "Surrealismo e Subversão", realizado de 14 a 16 de agosto de 2001 na Faculdade de Ciências e Letras da UNESP, Campus de Araraquara, assim começava a palestra do estudioso americano Ron Sakolsky.

Enquanto ele nos contava, na noite do dia 15, de uma Chicago que, desde os anos 60, vem se caracterizando por tendências assim aventureiras, por ideais de felicidade por parte de seus moradores, com manifestações espontâneas das pessoas pelas ruas da cidade propícia a climas festivos, por lá, o cineasta alemão Wim Wenders tratava de filmar o que ainda resta da lendária Maxwell Street. Nela, a trilha sonora sempre foi a da liberdade improvisadora do jazz, nascido do melhor blues americano.

Para Ron Sakolsky, a burocracia universitária de Illinois conseguiu impor os seus ditames. Ela não está para aventuras. Como a polícia de Indiana, ela não quer saber de motoristas malucos e passageiros dispostos a rodar estradas a esmo. Quer, isto sim, um mundo ordenado e (muito bem?) administrado.

Os senhores do mundo parecem acirradamente dispostos a conduzi-lo, à força, para longe da liberdade que a experiência surrealista anunciou no início do século XX, e ainda insiste em nos mostrar possível, a irromper com força, seja no dia a dia de Chicago, seja na dura realidade presente de uma Universidade Pública Estadual ao longo de um Congresso Internacional, um dos poucos luxos que ainda nos restam: realizar a poesia na vida cotidiana. Não pode ser? Voltemos à formulação acima citada, e que se lia pelas paredes da Sorbonne em 68: "Sejamos realistas, queiramos o impossível".
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