NO CÁRCERE DO CORAÇÃO
Maria José Limeira
Eu sempre tive pena
e olhei como Madalena
os homens acorrentados
torturados e dizimados
nas prisões do mundo.
Vagabundos, estupradores,
presos de várias taras
e infelizes amores.
Perseguidos nas encostas,
levando o mundo nas costas.
Ao invés de puro ódio,
dei-lhes solidariedade,
em respeito às dificuldades
que os levaram a praticar
os crimes de arrepiar.
Esses infelizes homens-animais
um dia foram crianças normais,
sorridentes nos quintais
e, quando adultos, brutos,
não o serão mais...
Presos de Justiça
nas Delegacias de Polícia.
Prisioneiros políticos.
Flagrantes delitos.
Hediondos ou injustiçados.
Presos condenados,
seres tresloucados,
esmagados, a quem a vida,
triste e dolorida,
surrupiou o último sonho.
Nem Deus os salvaria
ou morte os libertaria
dos seus corpos torturados,
no último corredor
da sua alma sem pudor...
Esses homens terminais,
que nos páteos das prisões,
dormem em colchões imundos
e rosnam como animais,
um dia amaram os pardais.
Circunstâncias contrárias
de antigas vidas várias
emparedaram-nos para sempre,
separando-os, adultos que hoje são,
das crianças que foram, de pés no chão.
Detentos piolhentos, lazarentos.
Animais acuados, degredados.
Que pensamento flutua
quando olham a triste lua,
sem entenderem que lugar lhes cabe?
Por trás dos muros da prisão?
Ou encerrados no cárcere do coração?
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