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Contos-->Nuvens passageiras -- 08/05/2018 - 23:56 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


A hora era de lançar azeite sobre as feridas. E cada um deles tinha a sua. Robert   temia que algum assunto por ele levantado, pudesse trazer à tona sua história ou a história de vida de Morgana. E assim, consentiram que seus olhos se encontrassem olhando juntos na mesma direção.
Mentalmente, Robert tentava estruturar alguma frase, mas, ao longo de seus quase quarenta anos de solteiro, nunca conseguiu  fazer um galanteio que viesse a encantar uma pretensa candidata a namoro. 

Olhou o céu rendilhado de nuvens e disse a primeira coisa que lhe veio à mente: 
‘A tarde que finda é uma benção que chega e jamais outra igual será vista... ’ 

—Fazendo poesia para nuvens passageiras?
— Estou pensando por que elas estão assim, apressadas.
—Ora! É porque o sol vai se pôr  daqui a pouco.

 O sol pendia envolto por um manto de nuvens que aso poucos iam tomando tom avermelhado.

Precisamos ir — disse Morgana, fixando os olhos em Gabriela.

 Robert pediu a conta.

O garçom afastou-se, e sem demora trouxe a conta numa pequena bandeja de aço inoxidável. 

— Vamos dividir a despesa.
— Ora, Morgana! Sou do tempo em que o homem pagava a conta...

Ele    arquitetava planos para outro encontro, e não via como fazer a proposta  de forma indireta. Então disse sem rebuscar palavras:
— Podemos nos ver amanhã? 
— Amanhã... Amanhã não sei. Talvez não consigamos vaga nas palhoças. É preciso chegar cedo. Hoje o irmão de Gabriela, assegurou-nos esta vaga, mas por causa do acidente com o filho, provavelmente, não virá amanhã.

— Darei um jeito, disse Robert .

Nunca um dia de domingo demorou tanto a render o posto de serviço do sábado. Robert   chegou antes das nove e acomodou-se. Ocupou uma mesa à sombra da palhoça, em lugar privilegiado da praia, onde a onda quebrava a poucos metros de distância de seus pés.  Morgana não tardou. Teve vontade de enfiar os pés na areia. Esconder o pezinho quente e delicado para ser encontrado pelo dele. Sentiu-se uma tola.
— Lembra-se de Sivory, disse ela.
— Sim!
— Pois é. Estava no avião que caiu na Costa do Senegal.

Robert   reviveu a cena do beijo ingênuo que Morgana dera no rosto de  Sivory, quando o menino fizera o gol decisivo do campeonato Marista nos anos noventa. Quanto tempo! Ela agora tão linda quanto antes, carregava os mesmos traços  de exuberante beleza dos tempos de outrora, acrescidos pela pródiga mão da natureza de melhores contornos na cintura e seios medianos. Pontiagudos e palpitantes.  Ele teria  coragem e  paciência necessárias para conquistá-la.
 Não era sonho. Era Morgana o sonho capaz de apagar seus pesadelos.  A vida lhe dera um poema de sete faces. Não só a ele, também a muitas pessoas que por sorte ou azar, morrem sem conhecer a primeira face do poema. 


O lado mais  cruel foi ver o rosto da mãe desfigurado pelo câncer;  o casamento dele que não aconteceu, e o pai que nunca esteve no álbum de família. Eram tantas faces: rostos de sombras, faces brancas, pretas, amarelas e até um anjo de luz soprando cinzas sobre suas lembranças. Memórias do tempo de criança no Marista, Quinta da Boa Vista e a menina linda que Morgana sempre foi pulando amarelinha no pátio da escola.  Já naquele tempo, ela  revelava que, em crescida, seria uma das mais belas criações da mão divina.

As horas passavam voando nas nuvens que se deslocam em direção à  costa. O vento brinca com cabelos dela. E Robert   desejou que seus dedos fossem o vento. O vento que tocava os loiros cabelos anelados de Morgana. Ele   não via o mar. Via Morgana muitas vezes desviar os olhos que se cruzavam com os seus.  Ele fazia o mesmo e depois se arrependia. ‘Por que fugir do olho no olho, da verdade que se abre na janela de um olhar?’ Tudo que queria dizer não ficou dito,  e não diria, a menos que Morgana decifrasse a linguagem das estrelas. 

Morgana quis saber da mãe de Robert, e quando lhe dissera que a mãe  morreu há dois anos, ela ficou besta. ‘Dona Leide?!...’ 

O momento não cabia lágrimas. O filho de dona Leide acompanhou de perto o sofrimento da mãe, que contraíra um câncer, depois de aderir ao Plano de Demissão Voluntária, oferecido pela empresa em que ela trabalhava. Insistiu muito para a mãe não aderir ao PDV, mas dona Leide!...Dona Leide quando tomava uma decisão, não voltava atrás! Era sombrio  e triste falar da morte. Ainda mais triste, quando a morte é na própria família. Robert desviou os olhos e os sentidos, a tempo de...
— Cuidado! 
  Tenta apanhar uma minúscula abelha preta que zunia mexendo as patinhas e sacudindo as asas, entre um e outro morrico da meia taça de Morgana. 
 — Não se mexa!
— É apenas uma abelha chien, Bob!
— O mel está nos lábios, e esta abelha o procura em teus seios?
— Para, Robert! 

 Banhistas recolheram seus pertences e se retiraram da praia.

— Deixa-me partir, porque a aurora se levanta.

Morgana jamais fora assim, tão formal. Decerto, queria provocar o engenho poético de Bob, outrora, vencedor de vários concursos de poesia promovidos pelo Marista.

— Aceito a penitência de te deixar partir, desde que eu possa ir contigo.
— Perfeitamente, Romeu, disse ela.
Riram.
— Posso te levar em casa, Morgana?
— Hoje não!
A resposta ‘hoje não’ fez nascer um fio de esperança nas boas intenções de Robert.
 
***

Trecho de "Estrela que o vento soprou."

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III Ilha do Amor

 
Espelho, espelho meu...


 Arco do cupido


Seres humanos passando por experiências espirituais.
 
 
Adalberto Lima
Enviado por Adalberto Lima em 08/05/2018
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