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Erotico-->26. EDUARDO -- 20/02/2002 - 05:38 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Rosalinda recebeu o recado de que deveria encontrar-se com o editor naquela mesma tarde. Precisavam conversar.

Muniu-se da pasta com os ditados de Esmeralda, buscando acalmar-se quanto à possibilidade de ver uma obra mediúnica sua impressa.

Exatamente às três horas, entrava no modesto escritório do moço, local que estava conhecendo naquele instante. Esperava um bulício de pessoas entrando e saindo, mas não havia sequer uma atendente. Precisou bater na porta para anunciar-se.

— Alô, Rosalinda. Vamos entrando, por favor. Pontual como sempre.

A moça esticava os olhos por todos os objetos, percebendo que havia bom gosto e moderação nos toques decorativos. Havia uma escrivaninha, na frente da qual se dispunham duas cadeiras, mas Eduardo apontou para o sofá de três lugares, discreto móvel de cor verde oliva, um tanto surrado e desconfortável.

Acomodada, Rosalinda aguardou que o rapaz de cerca de trinta anos, pelo cálculo que ela estava fazendo, moreno, de tez bronzeada, atlético, em mangas de camisa, com impecável gravata borboleta a competir com seu espesso bigode, no rosto escanhoado, apanhasse o material que ela lhe havia enviado pelo correio.

— Rosalinda, li com toda a atenção os seus textos, tendo, inclusive, realizado algumas anotações, e achei de pouco interesse editorial. Veja bem, não estou dizendo que não haja um público para este tipo de literatura. O que estou dizendo é que, no máximo, iremos conseguir realizar a distribuição de uns cinco mil exemplares, sem a contrapartida da venda correspondente, podendo encalhar a maior parte dos volumes. Precisaria que seu nome fosse conhecido do grande público para aventurar uma edição maior.

Rosalinda caiu das nuvens. Imaginara que Eduardo podia recusar-se a editar a pequena obra que organizara com o material psicográfico obtido no último ano, desde que se dispusera a, regularmente, apresentar-se para os ditados de sua protetora espiritual, mas não supusera que seria tão positivo em revelar seu pensamento quanto ao fracasso editorial.

Ela, que tinha a palavra fácil, acabou emudecida, mal balbuciando:

— É tão ruim assim?

Eduardo esboçou um sorriso e confirmou:

— Não se trata, certamente, de uma obra-prima, embora ofereça algumas apreciações filosóficas consistentes. E é justamente por isso que não irá obter sucesso junto ao público. Não tem apelo popular, o vocabulário é por demais específico da doutrina espírita, não há uma seqüência lógica dos temas, mistura observações psicológicas com recomendações morais, em resumo, precisa ser escoimado desses defeitos e reorganizado através do estabelecimento de um prisma ou uma linha de pensamentos que consiga unir as mensagens, dando-lhes uma diretriz que venha a culminar, de certo modo, numa espécie de conclusão que enfeixe cada um dos pensamentos isolados. Por exemplo, você fala, na introdução, de uma benfeitora espiritual que vem aconselhando-a na tomada de decisões de sua vida. Tudo bem. Mas esse tipo de texto exige, para ser compreendido, que se narrem episódios em que a participação dos espíritos se demonstre verdadeira, inclusive, com o testemunho dos acontecimentos, uma vez que não se trata de ficção. Quando ela sugere que você peça o divórcio, o leitor não fica sabendo se aconteceu ou não a separação do casal. É um momento de conflito que se resume numa tese espírita, que eu não sei se é ou não abonada pela doutrina, mas que, de qualquer modo, vai ferir a concepção de quantos achem imoral ou anti-religiosa essa instituição hoje amparada por lei.

— Quer dizer que eu precisaria situar essa mensagem no contexto de minha vida?

— Você se divorciou?

— Sim.

— Sendo assim, precisaria declarar as razões que produziram tal efeito, caso contrário, o leitor irá pensar que, só porque o espírito sugeriu, você imediatamente julgou que aquilo era o melhor a ser feito.

— Sem querer discordar de sua opinião, já que eu não tenho nenhuma experiência como autora, não está a sua atitude centrada num interesse meramente material, quando a minha modesta contribuição se volta para mostrar às pessoas que qualquer um pode receber recados dos seres de outra esfera?

— Louvável a sua intenção, mas não se esqueça de que de bem intencionados o inferno está cheio. O comércio livreiro é altamente competitivo. Para que esse pequeno compêndio de mensagens avulsas obtivesse êxito junto ao público, além de ser assinado por um nome conhecido, precisaria de uma retaguarda de marketing muito forte, com o apoio de críticos que colocariam os seus nomes a serviço da divulgação. Ora, essa gente, no mercado das obras espíritas, é muito ciosa de sua reputação. Por isso, poucos se aventurariam a expor-se com a autora ao apedrejamento geral dos que não estivessem satisfeitos que alguém se propusesse com tão pouco junto aos leitores.

— Quer dizer que, como está, meu livro está fadado ao esquecimento?

— É o que eu acho.

— E, se eu fosse teimosa e, seguindo os seus conselhos, refizesse a estrutura da obra, dando-lhe um outro acabamento, aí você olharia para ela com outros olhos?

— Sem dúvida. Se quiser saber, eu digo mais: caso a sua teimosia fosse além dessa prudente decisão de seguir as minhas observações e você desejasse patrocinar a impressão e a distribuição dos livros, o que não sai barato, eu ofereceria os meus préstimos tipográficos e encaminharia a edição para as livrarias. Nesse caso, você arcaria sozinha com os prejuízos, porque eu duvido que você encontrasse alguém que desejasse entrar com você nesse barco furado.

— Vejo que você está querendo desencorajar-me completamente.

— Não tão completamente, já que você falou em reestruturar o livro. Poderia até dar-lhe assistência e indicar-lhe uma pessoa acostumada a acompanhar os escritores durante a elaboração das obras, dirigindo-os para um melhor expressar dos pensamentos. É claro que com um custo adicional.

— Posso pensar a respeito para lhe dar uma resposta mais tarde?

— É claro que pode. Sugiro-lhe, inclusive, que ofereça o livro para o exame de outros editores, já que, pelo que me parece, eu sou o primeiro a desiludi-la.

— É verdade. Eu estava justamente pensando em ouvir uma segunda opinião.

— Procure quem você queira, contudo, se desejar gastar menos e alcançar uma divulgação mais rápida dos textos que você atribui ao espírito de Esmeralda, vale pagar um desses portais da Internet voltados para a publicação das obras em caráter virtual. Você está sabendo disso?

— Estou. Já adquiri alguns livros e de outros fiz download gratuito. Contudo, não era isso que eu tinha em vista, porque o público da Internet está mais ligado às obras de ficção, romances e contos fantásticos, já que se trata de pessoas extremamente jovens, sem lastro cultural, muito menos espírita.

— Eu tenho mantido contato com esse pessoal e não é o que eles afirmam. Estou até pensando em abrir um site com o nome de minha editora, tanto que já pedi que me fizessem um estudo dos gastos e da equipe necessária para operar, de forma que se torne conhecido, quer pelo valor das obras, quer pelo dinamismo do empreendimento.

— Se você já estivesse com seu site funcionando, aceitaria o meu livro?

— Com as reformas que eu lhe propus, sim. Seria muito mais fácil, porque os gastos seriam ínfimos, já que, no fundo, se trata de uma simples correspondência telefônica. No entanto, fique o meu aviso: eu ainda acharia que bem poucas pessoas se sentiriam atraídas pela leitura.

— Quanto eu lhe devo?

— Você me deve precisamente a preferência pelo exame de sua próxima obra, porque, pelo que deduzi, você irá insistir em aperfeiçoar-se como escritora. Gostaria de ajudá-la a profissionalizar-se.

— Muito obrigada, Eduardo. Saio daqui preocupada mas não desiludida. Qualquer dia, eu lhe enviarei os originais. Pode esperar.


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