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Contos-->O pintinho do Menino Jesus -- 02/06/2001 - 19:46 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Para Avelino Malzoni, o Lili.

Meu avô, que se chamava Lili, e que era sacristão de um convento, uma vez me chamou para ver uma coisa. Imagem pequena, um Menininho Jesus de vestidinho branco, bordados em dourado. Aquele menininho já cabendo em berço, caminha, travesseirinho por debaixo. As cores sobre gesso duro em formato de regaço, aconchego, colo de mãe.
Susto foi ver meu avô levantar a sainha do menino, para, com aquele sorriso também de menino que ele conservou no trato comigo pela velhice afora, me mostrar o que ali debaixo se via: "Esse Menino Jesus tem um pintinho!". Era ele a traduzir, induzir o meu espanto. Naquela exclamação, os meus olhos aprendiam a ver, a cabeça, a pensar. E a boca ainda sem saber como dizer o que ele me dizia.
Mas logo me veio a certeza de que podia rir, também, como ele ria, daquele seu jeito bom e sem malícia. Éramos só nós três ali, entre iguais, homens. Cada um com o seu. Vivíamos um nosso momento. Fora disso, bem longe, o resto da família.
"O Menino Jesus tem um pintinho", eu diria depois, todo achado, como se dissesse que também eu tinha um, igual ao do meu avô, que achou de me mostrar aquela novidade.
"Despropósito", sou eu, agora, a ouvir o eco nunca desbotado das palavras, das vozes de antes, e a esperar que me desdigam, sabendo que o farão, como numa reprimenda. Aquelas frases inevitáveis, feitas, de quem já quase não ia poder por muito tempo mais segurar o riso: "Ora já se viu?! Era só o que faltava."
Melhor. Que não acreditassem. Aquela verdade seguiria sendo só nossa. De nós três. Minha, de meu avô e daquele Menino Jesus que tinha pintinho. De resto, como tantas outras verdades, só nossas. E seria assim, pela eternidade da infância que ele, o meu avô Lili, não perdeu nunca, eu sabia, e que eu, devagar, ia aprendendo com ele a também não perder, nunca, por nada.
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