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Contos-->Espiguinha de milho (breve relato de uma vida inteira) -- 02/06/2001 - 16:08 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Caixão no meio da sala. As filhas passadas, se querendo entregues a choro e descabelo. E ela,
a cabeça não querendo porque não querendo fazer parte daquele instante. E, que bom se fosse possível, de nenhum dos instantes, todos os outros que agora, ali, ficavam para trás. De uma vez por todas. O até que enfim.

Vinte e cinco anos de bebedeira, mau-cheiro, palavrões, tapas, mudas ressacas de dia seguinte, a vida levada sem graça e sem o necessário. A luta pelo de comer, vestir, essas coisas mínimas.

Um dia o pai lhe viera com a notícia: "Fia, cê vai casá." O mundo era desse jeito. Casou-se. O "traste" era um amigo dele. Nunca tinha visto mais gordo. E nem mais asqueroso.

Doze anos, "eu era uma espiguinha de mio pronta pá sê debuiada". E os "fio" foram crescendo, vieram os "neto", a vida.

E agora aquele momento. Caixão no meio da sala, a choradeira. Ela, só espiando de longe, estarrecida, "zóio" parado no tempo. Repensava. Rememorava os vinte e cinco anos de agüentar canseira, maus tratos, cachaça, "catinga de cigarro de uma vida intêra. Traste, pau d água, sem serventia nenhuma."

Não fossem os outros todos namorados que tantos, tanto teve. Muitos. De a amigas quererem saber, supondo fosse bruxa, poder que tinha de atrair, trazer pra junto de si, despertar os escondidos encantos. "Tudo homem casado", mas sem nem por isso ter gozado de inimizade com as outras, esposas, "que Deus as tenha em sua santa glória".
Era ela a se livrar de olhados, birras, sua frase com poderes de jaculatória. Mas também, coitadas, mulheres de se casar, sem préstimos nem delicadezas para outra coisa.

E agora tudo estava bem disposto, e a passagem, aberta para que se aprochegasse, viesse, visse,
fizesse o papel de principal, que não fora, mas que era seu, queriam, a, como todas, esposa carpideira.

Esposa? Mulher? Olhou bem para o corpo, ali, estendido e encaixotado, e proferiu uma sua verdade, verdadeira entre todas, nunca antes pronunciada assim, com todas as suas letras, palavras, ensaios de uma vida inteira: "Ah, fio da puta, agora ocê num vorta mais, nunca."

O agora. O de sempre. Ai!
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