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Contos-->O Vendedor de Flores de Veneza -- 11/12/2017 - 17:34 (LEANDRO TAVARES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




O Vendedor de Flores de Veneza
 






          Depois de vagar algumas horas pelas vielas de Veneza, a fome começou a importunar nossos estômagos. Havíamos acabado de atravessar a Ponte de Rialto, onde a grande circulação de turistas impedia uma caminhada tranquila, e contribuía para dissolver parte da atmosfera histórico-romântica da cidade.


          Via-se diversas nacionalidades caminhando pelos becos estreitos, dentre eles britânicos, alemães, espanhóis, indianos, turcos, americanos, e até alguns árabes acompanhados por uma ou mais esposas trajadas com nicabes.


         O calor era intenso e o as calçadas de pedra o refletiam para os pés dos turistas. Alguns casais cruzaram os canais em gôndolas — um passeio romântico, porém, mais caro do que um voo para Londres — cem euros por uma hora a bordo. 
          — Será que essa gôndola voa? — perguntei a meu amor.
        — Não só voa, como fala, anda e navega! E pode ser que nos leve até para um passeio na lua! Que tal, hein? Bora pra lua, mi amor? — perguntou-me coalinda, sorrindo de leve com um piscar de olhos sugestivo.
          — Bem que a gente podia passar uma de nossas luas de mel lá. A gente pode andar de disco voador, filosofar com os habitantes locais, andar de charrete nos montes lunares, brincar de saltar e dar cambalhotas na microgravidade. E, quem sabe, até fazer um filho extraterreste de múltiplas nacionalidades!  — Que tal, babe?
          — Ótima ideia! E qual seria a nacionalidade dele?
          — Lunático? Galáctico? 
          — Universal boy! Acho melhor essa última opção.
           (...)
         Talvez o preço do passeio de gôndola se fundamentasse no estilo clássico de seus assentos e nos seus contornos dourados, ou então na disposição dos turistas em pagar por um foto clássica à la Venice para, depois, postar nas redes sociais, a fim de se vangloriarem com frívolos exibicionismos turísticos. 
         Mas com cem euros eu compraria uma canoa pra navegar pelo Rio São Francisco e cruzaria boa parte do nordeste brasileiro.  Começaria nas Alagoas, passaria por Sergipe, Pernambuco, Bahia, até chegar a São Roque de Minas.  Levaria muitas frutas tropicais no estoque: caju, açaí, banana, maracujá, manga, jabuticaba e muita farinha com rapadura.


          Sentamos na calçada que beirava o Grande Canal. Me levantei (a gramática exige a próclise, mas enfatizo a ênclise: ela sim é coerente com o brasileiro-português) e fui pedir uma cerveja no restaurante que ficava ao lado. Pedi dois copos descartáveis e me sentei ao lado de minha coalinda. Peguei sua mão direita e a abracei com meu braço esquerdo, beijando sua fronte.



           Uma grande barca passava por baixo da ponte naquele momento, a cerveja descia gelada e refrescante pela garganta. A paisagem era bela, configurada pelo canal, pelos prédios históricos e pelo movimento de barcas e gôndolas, mas a poluição sonora e visual trazida pelo excesso de turistas depreciava um lugar que poderia ser um berço de reflexão, tranquilidade e romantismo.





          Vagarosa, a escuna vinha subindo o canal. O turista oriental carregava a filha de um ano no colo. Levava uma máquina fotográfica a tiracolo.  Tirava várias fotos das paisagens, e algumas selfies familiares com a esposa e a filha, até que a menina se pôs a chorar — o pai quis agradá-la para que silenciasse o choro: segurou-a com os dois braços esticados e passou a erguê-la e baixá-la e, no ápice da empolgação, colocou seu pequeno corpinho para fora da escuna, como se fosse jogá-la no canal. A pequenina cessou o pranto e começou a sorrir, extasiada com a brincadeira excêntrica do pai.   
         A lancha do corpo de bombeiros subia o canal em alta velocidade. Dirigia-se para o local de uma ocorrência. A sirene berrava enlouquecida, chamando a atenção de tudo e de todos que estavam à sua volta, e o giroflex rodopiava a luz vermelha em alta frequência. Uma guarnição de seis guardas-vidas a integrava, estavam a postos dentro da embarcação, preparados para enfrentar o pior. O piloto ia à frente, ereto, sem camisa e de peito estufado, como quem está prestes a enfrentar o inimigo com fúria e determinação. A lancha passou feroz pela escuna do turista oriental, deixando de gorjeta uma onda que quase a virou. E, por azar da menina, foi suficiente para fazer seu pai perder o equilíbrio.





           No escorregão no tablado de madeira molhado, as mãos curvaram-se e o pior aconteceu. O pai tentou se levantar, e escorregou novamente. A mãe começou a gritar, em berros que irradiavam por quilômetros, e os outros turistas do barco correram para o lado da escuna em que a menina havia caído. Um italiano pulou na água para tentar salvá-la, tentando ser herói — não sabia nadar — e mais um afogado para ser resgatado. A multidão de espectadores acompanhava o suceder dos acontecimentos com gritos, olhares de espanto, inércia e clamores às divindades. A mãe da pequenina era o desespero encarnado. Urrava por socorro — estática, pálida, em vias de desmaiar.
          Ao testemunhar a cena, lembrei-me de uma prosa com um hippie em Caraíva, na Bahia. Debaixo de um coqueiro, de frente pro mar, conversávamos sobre as dificuldades que ele já havia passado, até que chegamos ao tema do desespero. Naquele dia me disse algo que não havia escutado até então. Olhando fundo nos meus olhos, afirmou: “Amigo, quando o espírito do desespero encarna no teu corpo, você perde o controle sobre ele.” E, ao ver a mãe da pequenina naquele estado, a mensagem do hippie se materializou.





           Assistia aquele episódio aflito, com sensação de impotência, sem ter muito o que fazer. Estava do outro lado da margem, a oitenta metros. Pensei: “Acredito que alguém mais próximo faça o que eu gostaria de fazer” — algo muito comum pra quem quer projetar para os outros o que poderia fazer por iniciativa própria.  
           Via-se o corpinho da pequenina boiando na água, seus bracinhos batiam como asas de pintinhos tentando voar, e seu corpinho ia descendo lentamente com a força da correnteza. Quanto mais gritava, mais água descia goela abaixo, e sua pele ia mudando de cor: esverdeando, arroxeando, e a agua nos pulmões ia impondo-lhe o silêncio que precede o fim ...





            A salvação da pequenina e do italiano afoito viria com classe — no estilo tradicional de Veneza. Surgiu por trás da escuna, quase sem ser percebida. O velho navegante esticou o remo e o italiano nele se apoiou. O ajudante, um adolescente filho dos canais venezianos, pulou na água e tomou a pequenina em seus braços, conduzindo-a até a escuna. Uma enfermeira que estava a bordo prestou-lhe os primeiros socorros, fazendo-a expelir a água engolida.  
            Perguntei a minha amada: — Será que cem euros é de fato um valor muito alto por um passeio de gôndola?





             Sorriu levemente. — Vai depender do que vale esse passeio! Pros pais dessa menina, vale trilhões!
            Um insight me veio à mente: “O preço das coisas é medido pelo seu significado. A pequenina significava tudo na vida do casal oriental, era o sentido da vida deles. Tinha se transmutado em seu propósito existencial. Quanto vale a vida? Quanto vale aquilo que dá sentido para a tua existência? O preço que estamos dispostos a pagar por algo está condicionado ao significado desse algo em nossas vidas. Pela nossa verdadeira causa de viver, pagamos até com a própria vida. Não é o valor agregado, mas o significado agregado. Paga-se pelo significado, e não pelo objeto em si.”
             Chorando de alívio, a mãe segurou a filha no colo, abraçando-a e beijando-a avidamente. Erguendo-a com os braços, acima do nível da cabeça, olhou para a filha — sorriu — como quem carrega um troféu depois de uma vitória suada. Um inglês aproximou-se do oriental e o chamou de irresponsável. Envergonhado pela falta cometida, nada fez, olhou pra baixo, resignado.





           Após testemunhar o desespero alheio, percorremos mais algumas vielas labirínticas e encontramos um restaurante agradável na Calle dela FrescadaTrattoria Della Notte Piovosa, próximo da Università Ca' Foscari. Possuíauma boa área aberta, entremeada por sobreiros, entre os quais ficavam as mesas. 
             Fomos recebidos por um turco. Abordou-nos logo na entrada, olhando-nos com desconfiança, talvez porque estivéssemos inseguros sobre se íamos ou não comer ali, ou então porque não estávamos usando nem trajes nem relógios caros.




           Pedimos uma mesa pra dois, e apontamos pra uma embaixo de uma árvore. Ao seu lado havia uma lâmpada pendurada num dos galhos— era o que precisávamos para comer e depois ler um pouco tomando um bom vinho. Tomamos assento e, de imediato, começou a chover. Abandonamos a área aberta para sentar numa mesa de canto da parte coberta do restaurante. 
           Com um turbante verde na cabeça, de pele morena-escura, olhos castanhos claros, gravata borboleta purpura adornando o pescoço, o garçon indiano se aproximou de nossa mesa:





            — Boa noite senhores! O que desejam?
            — O menu, por favor.
            — Quero um risoto, por favor.





            — E a senhora, o que deseja?
            — Um inhoque, por favor!





            — Ok. Em quinze minutos fica pronto. — Desejam algo pra beber?
            — Uma jarra de vinho tinto seco da casa, por favor! — respondi.





            — Ok.
            — Obrigado.
           Lemos um pouco de nossos livros. E a comida aterrissou em nossa mesa com um cheiro forte de pimenta. Comemos sem deixar de provar um o prato do outro — até que caiu bem um risoto mesclado com inhoque! Terminada a refeição, o garçon levou de volta para a cozinha os pratos vazios. Ficamos nós dois e a jarra de vinho — no seu último quartil, e completamos nossos copos com o que restava.
           Foi quando o vendedor apareceu com as flores embaixo dos braços. Moreno, de estatura de um metro e setenta, cabelo preto e liso, barba por fazer, vestia uma camisa polo verde com manchas de branco no peitoral, daquelas que aparecem quando se lava a roupa com agua sanitária pura, por acidente ou desconhecimento. Exalava murrinha, e sua expressão facial irradiava fadiga extrema. Aproximou-se de nossa mesa e me ofereceu uma flor.





           — Não, amigo. Muito obrigado!
         Reagiu com um olhar desfalecido, como quem já estava no limite de suas forças de tanto tentar. Retorceu-se. Aparentava ser de algum país do norte da África ou do oriente médio — era mais um imigrante lutando pra sobreviver.





          Insistiu, fazendo um apelo misericordioso por meio de sua expressão facial: — Leva só uma. Só pra me ajudar!
         Ao ver aqueles gestos, lembrei-me dos brasileiros que vendem pipocas e salgados nas avenidas do Rio de Janeiro e do grande mercado sobre trilhos dos trens da Supervia. A vida daquele homem não parecia ser tão diferente daquela de meus compatriotas. Compadecido, peguei uma moeda de dois euros na carteira. —Pra você! — disse, enquanto entendia-lhe as mãos, entregando-a.— É pra te ajudar!


         Não gostou da ideia de aceitar o dinheiro. Não estava pedindo. Parecia que tinha vergonha de fazê-lo, queria vender. Não era um pedinte, mas um vendedor e, como tal, parecia ter o brio de não se entregar. Aceitou o dinheiro. E me deu uma flor, jogando-a sobre a mesa. “Bem que ele poderia ter sido ao menos educado. Às vezes fazemos as coisas só pra ajudar as pessoas e acabamos recebendo os espinhos da ingratidão”, pensei. Virou as costas e foi rumo a uma mesa no outro canto do restaurante onde havia um casal de idosos.




         — Por que você comprou essa flor? — questionou-me coalinda. 
         — Pra você, minha bela; pra nós; e também pra nossa mesa. — respondi enquanto quebrava o caule ao meio para colocá-la na jarra já vazia.
         No tom de uma advogada anglo-saxônica, racional e direta, me interrogou com um olhar incisivo:
        — Você já parou pra pensar que talvez que esse homem faça esse jogo emotivo com todos os casais que vê por ai? Eles são espertos. Gostam de se aproveitar da ingenuidade e da boa-fé das pessoas, afora que o preço nem sempre é justo.  — E se esse homem estiver simulando um olhar de derrota? — Será que ele não faz isso com frequência pra induzir complacentes como você pra vender suas flores? — Não seria a atitude dele um apelo emocional pra conseguir vendê-las?
       — Geralmente não compro, bela. Até porque comprar uma flor por acaso na rua e entregá-la pra uma pessoa especial pode soar artificial e até forçado demais, dependendo da ocasião. Prefiro o que é espontâneo. Se desejar comprar flores pra ti, não te daria apenas uma, uma vez que é muito pouco pro tamanho do meu amor por você. Pra te mostrar o que sinto na minha alma, só um jardim infinito daria conta!
       Seu rosto roseou, o olhar cintilou—ficou sem palavras. 
      — Meu amor, desconsiderando a estratégia de vendas dele, o que me chamou a atenção foi o que sentia ou parecia sentir. O olhar, a expressão facial, a aparência e os gestos eram muitos coerentes entre si. Só um ator muito profissional e com muitos anos de carreira seria capaz de encenar um sentimento de dor e frustação com tamanho perfeccionismo. Não acredito que esse homem tenha uma vida fácil. É imigrante e mal sabe falar inglês. Está se arrastando pelas ruas pra tentar vender suas flores. Mas, desconsiderando a estratégia dele, o que me atraiu também foi a flor. — Sabe por quê?
       — Diga-me.
       — Olhe pra ela.
       Toquei suas pétalas com o dorso do dedo indicador direito.
       — Não reparou quanta vida e encanto ela trouxe pra nossa mesa? Essa flor fala. Fala de amor, de vida, de sonhos; além de irradiar beleza e delicadeza.
      No final das contas, meu foco mudou. Outrora, era o vendedor; agora, a flor.  E como foi importante essa mudança: mudar o foco, virar a página, reinventar-se, renascer, transformar-se, permitir-se ser outro no novo dia que surge com nascer do sol no horizonte.
       Aquilo em que nos focamos pode transformar nossa vida. Um conceito é um foco. Se o foco passa a ser esse conceito, a vida também o será. Porque o que focamos se transforma em nosso propósito maior, o qual passa a nortear nossos pensamentos, e estes influenciam nossas atitudes e nosso comportamento.



      O foco tem poder. Uma grande queimada surge a partir de um pequeno foco de incêndio, uma grande manifestação pública começa com uma única pessoairradiando seu entusiasmo para as outras, uma grande empresa começa com as ideias de um único ser humano. O foco tem energia potencial acumulada, é pedra de urânio.
     Quem manipula, trabalha com o apontamento de focos. Aponta um foco, a multidão segue rumo a ele. Aponta outro, e ela prossegue. Aponta um outro, desta vez no meio do desfiladeiro, e a multidão segue—rumo a sua própria bancarrota. De foco em foco, traça-se um caminho, cujo destino final somente o manipulador conhece, pois a visão dele é multifocal. Enxerga toda a floresta, e não apenas uma única árvore.


      Aquele que é capaz de mudar o foco torna-se Deus, não porque tenha se transformado no dono absoluto do mundo, mas porque cria um novo mundo para si, a partir daquele ponto focal.  E esse novo mundo pode até ser perfeito, se ele compreender que a perfeição também é composta de imperfeições, e que a alma da perfeição foi lapidada a partir de sucessivas transformações de almas imperfeitas.




       A perfeição absoluta, se é que existe, é construída por meio da correção de pequenas imperfeições. Elas apontam o que precisa ser trabalhado: o foco delas é a perfeição. Mostram o que é imperfeito, para se alcançar o perfeito. São paradoxos que se complementam.


     Quem tem medo de conceber imperfeições, priva-se de alcançar a perfeição, porque é a partir delas que se alcança o estado da arte, entendido este como o melhor que cada um pode dar de si. Os projetos surgem imperfeitos e a criação atinge a excelência a partir da lapidação cuidadosa dos erros de construção. Depois de trabalhadas as imperfeições — com zelo, carinho e paciência — a obra atinge o ponto ideal, perfeito, dentro dos limites humanos.




       Quem se arrisca a criar, arrisca-se a errar. Quem erra, concebe imperfeições, a partir das quais torna-se possível alcançar a perfeição.



        E onde está a perfeição da flor? — uma voz interior me pergunta.
        Na verdade, ela é a perfeição em si. Simplesmente por ser quem é, por ser uma flor...  


        — A conta, por favor! — acenei para o garçon.



        — Só um minuto, senhor! — respondeu-me a distância.


        Pagamos a conta, pegamos nossos livros e a flor. Levei-a para nosso quarto no hotel: e a beleza da vida invadiu nossa suíte. Ficou na frente do espelho, apoiada num copo d´água. Continuava a nos observar, com seus olhos de pétalas de cor vermelho-paixão



       O vendedor poderia ser um ator das vendas ou até mesmo um doutor em falcatruas. Sua mão poderia ser corrompida, mas não é por isso que seria capaz de corromper a flor somente por tocá-la.
       Contudo, o vendedor poderia ter o mesmo encanto da flor. Há pessoas de almas tão encantadoras quanto a beleza das flores e tão amargas quanto o ferrão de seus espinhos. Ele pode ter uma flor guardada em seu coração. Não para ser vendida, mas para ser entregue para a alma que merecê-la.  Pode ser que esteja guardada a sete chaves, ou num cadeado cuja senha somente essa alma especial a possua.
          Não sei quem é o vendedor, nem seu nome, nem sua história, nem sua origem e nem porque decidiu vender flores. Só sei que a flor é bela por natureza. Não precisa de estratégias de dissimulação para conquistar ninguém.  Sua beleza é verdadeira. Conquista pelo que é, e não por meio do que simula ser. Não precisa mentir para enganar, nem sorrir para demonstrar uma aparente simpatia, nem usar roupas caras para se projetar. O que a projeta é sua essência pura. Ela é conteúdo explícito, e não rótulo superficial



       Suas pétalas estão à mostra, assim como seus espinhos. É o que é. E não se importa com o que dizem a seu respeito. Opiniões alheias não transformarão suas pétalas delicadas em espinhos pontiagudos. Não permite que palavras de ataque amargurem seu espírito.
         O vendedor chora, mas pode estar guardando uma faca escondida em sua cintura, esperando o momento ideal para atacar. Age via surpresa. A flor não é assim. Deixa expostos seus espinhos para afugentar seus inimigos; é leal até na sua autodefesa.



          Prefiro não me ater às intenções do vendedor. O mundo está cheio de maldades ocultadas por boas intenções superficiais. E delas quero distância.
          Me importo é com a flor.
          É ela que me inspira a viver.
          — E por que as flores murcham? — perguntou-me coalinda.
          — Porque nós também morremos, minha flor.




          Rio de Janeiro, 11 de dezembro de 2017
             Por Leandro Tavares



         *Este conto é puramente ficcional. Não havendo, portanto, qualquer tipo de referência a pessoas em particular.






 







 







 







 







 


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