Ao brincar com um dos filhos, que ainda não é capaz de andar, um homem joga-o para o alto e o agarra de volta. Ao repetir o procedimento, movido pela satisfação da criança com aquela brincadeira, esta se lhe escapa das mãos, bate contra o chão e está morta. O homem é levado a julgamento por homicídio involuntário. Instado pelo juiz a relatar o transcurso do acidente, o culpado acha de ilustrar a sua própria narrativa -eximindo-se, além disso, de toda culpa - e, dos braços da esposa igualmente presente na sala, toma a outra criança, caminha até a frente e joga-a para o ar. A criança vem abaixo, escorrega-se-lhe por entre as mãos, bate contra o chão e está morta.
___________________________
Peter Handke: in: "Begrübung des Aufsichtsrats. Prosatexte" [Saudações ao Conselho Fiscal. Textos em prosa]. Residenz Verlag, Salzburg 1967, pág. 101.
Trad.: zé pedro antunes (publicada na revista Modelo 19, UNESP/Araraquara)
|