[um poema, ainda em progresso, em parceria com Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior, e a ele dedicado]
Matão fica aqui do lado
interiores
somos vozes que saem de fantasmagóricas goelas
ensandecidas, clamando em meio a canaviais,
laranjais, jaboticabais, rincões, dobradas
sentinelas avançadas
no país do nada
mais do que reminiscentes,
os doutores da lei se esmeram,
insistem em fazer cumprirem-se
os rituais d antanho, esse muito antes
que mais e mais, a cada ocorrência,
tristemente se desumaniza
e os aprendizes,
suas mil muitas mínimas minúcias incandescentes,
experimentam o mágico realismo
de um país às moscas,
aprendem a falar, a escrever e descrever
um universo que já nasce
para ser esquecido
o apagão filosófico sempre foi
a nossa morada
de cor sabemos todos os seus cômodo
de cor, todos os seus incômodos,
cada peça de mobiliário, objetos e
pessoas,
os aposentos
e tudo o que, dentro destes,
não será, não foi, não é,
não se realiza nunca
sabemos que houve, muito ao longe
no tempo, uma Idade das Luzes
mas, hoje, entre necrófilos precoces
e ghostwriters post-mortem,
percorremos os corredores,
as catacumbas, os porões da ditadura
a Academia e seus cachorros magros
fartos de sobejos, saindo de fininho,
rumo ao que já não é o Estado, Nação, País,
sonhos, agora abandonados,
de um não-lugar, agora abandonado,
rumo a novas utopias,
o salto maior, e que se revelaria mortal,
a politicagem universitária erigindo-se em sistema,
em ponto, digamos, de Brasília
saindo de fininho
querendo não ver, saber
o quanto foram deixando para trás
de erosão, de desmoronamento,
de árvores abatidas, pessoas detonadas,
a terra devastada, mais de uma vez
e ainda assim seguimos,
nós, os que viemos depois
(será que ilesos?
será que lúcidos?),
como quem tenta, com as mãos,
proteger uma vela
em meio à ventania
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