Catherine,
Nem sei mais de você.
Agora meio que madrugada....
Às vezes, a insônia chega danada,
interrompendo o sonho que fluía sereno.
Nessa hora não há quentura
que nos prenda ao aconchego da cama.
O remédio é deixá-la e tentar fingir
que o dia chega ao meio...
mas da hora desbotada da manhã,
como extrair um meio dia prazeroso ?
Dentro de mim, um turbilhão de meias palavras
traduz um frenético caleidoscópio interior.
Gosto da palavra cheia, reveladora,
inteira, que chega na fúria tradutora
dos mais questionáveis sentimentos.
Sinto frio! Está frio?
Ou sou eu que pela inércia me resfrio
e, no despropósito da hora, congelo?...
Ninguém entende o que vai na alma do poeta,
poucos avaliam como a poesia,
ainda que leve, etérea, ainda que tênue, bela,
vem e machuca , chega, dilacera. Sempre o digo.
Quando as letras atingirem você,
o dia estará claro, e, com certeza,
os pássaros cantarão alheios
às vicissitudes alheias .
Sorte deles, que só fazem cantar e - no
encantamento dos olhos arredondados-
estranhar a trajetória do homem rente ao chão.
Sinto, mas a escolhi para o desabafo.
Apenas aos amigos, presto conta
de minhas intempéries
e você já é um dos meus, não?
beijos,
Maria da Graça Almeida
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