Manuel Bandeira e os santos
Os poetas pensam diferente dos mortais comuns e é preciso traduzi-los para que sejam bem entendidos. Eles usam uma linguagem difícil ao expressar suas idéias e os amantes do belo não gostam de decifrar nada, de desembrulhar pacotes de palavras. Gostam de se deixarem envolver pelas belezas, paisagens e poemas com que se deparam.
Os homens e mulheres apaixonados pela vida gostam mesmo é de olhar a natureza, contemplar a beleza das montanhas, dos vales, deliciar-se com a pintura da vida, voltar a ser criança nos momentos de lazer.
Veja se não é assim mesmo que acontece. Veja o belo exemplo do poeta Manuel Bandeira. Ele passou a vida toda pedindo coisas e milagres à s suas santas e santos de devoção. Apelou aos anjos e arcanjos, a São José, mas foi tudo inútil, não conseguiu nada, pediu riqueza, beleza, saúde e nunca conseguiu nada. Quando já estava com oitenta anos, fez um último e desesperado pedido para Santa Rosa, que na verdade seria o seu penúltimo pedido. O poeta pediu a ela que -uma vez que nunca tinha recebido nada dos santos em sua longa vida, à quela altura não adiantava pedir nada, nem precisava receber mais nada.
Então, Manuel Bandeira pediu que a Santa Rosa o encaminhasse para uma outra santa, a infalível Nossa Senhora da Boa Morte, a quem faria o seu último e definitivo pedido, que acabou, por fim, sendo plenamente aceito e atendido.
O poeta Manoel Bandeira morreu velhinho, certo de que os santos nunca lhe deram nada durante a vida, mas na verdade tinham dado muito. Deram a ele o que dão a bem poucos homens: o dom de ver e sentir a vida para depois contar aos outros, em prosa e verso, de uma maneira tão bonita, como só ele sabia contar. Finalmente, N.S. da Boa Morte foi a única divindade que não o decepcionou. Nos veremos sob a sombra de uma paineira no Céu e leremos muitos poemas. Até um dia, poeta!
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